capítulo 3:
O Cânon...
3A. O CÂNON
1B. Introdução
1C. O SIGNIFICADO DA PALAVRA "CÂNON"
A palavra cânon tem raiz na palavra "cana", "junco" (do hebraico geneh, através do grego kanonj . O "junco" era usado como uma vara para medir e, por fim, veio a significar "padrão".
Orígenes empregou a palavra "cânon para indicar aquilo que chamamos de 'regra de fé', o padrão pelo qual devemos medir e avaliar..." Mais tarde teve o sentido de "lista" ou "rol". 15/95
Aplicada às Escrituras, a palavra cânon significa "uma lista de livros oficialmente aceitos". 23/31
Deve-se ter em mente que a igreja não criou o cânon nem os livros que estão incluídos naquilo que chamamos de Escrituras. Ao contrário, a igreja reconheceu os livros que foram inspirados desde o princípio, Foram inspirados por Deus ao serem escritos.
2C. TESTES PARA A INCLUSÃO DE UM LIVRO NO CÂNON
Não sabemos exatamente quais foram os critérios que a igreja primitiva usou para escolher os livros canônicos. Possivelmente houve cinco princípios orientadores, empregados para determinar se um livro do Novo Testamento era ou não canônico, se era ou não Escritura. Geisler e Nix registram esses cinco princípios: 32/141
1. Revela autoridade? - Veio da parte de Deus? (Esse livro veio com o autêntico "assim diz o Senhor"?)
2. É profético? - Foi escrito por um homem de Deus?
3. É autêntico? (Os pais da igreja tinham a prática de "em caso de dúvida, jogue fora". Isso acentua a validade do discernimento que tinham sobre os livros canônicos.")
4. É dinâmico? — Veio acompanhado do poder divino de transformação de vidas?
5. Foi aceito, guardado, lido e usado? — Foi recebido pelo povo de Deus?
Pedro reconheceu as cartas de Paulo como Escrituras em pé de igualdade com as Escrituras do Antigo Testamento (2 Pedro 3:16).
2B. O Cânon do Antigo Testamento
1C. FATORES DETERMINANTES DA NECESSIDADE DO CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
1D. A destruição de Jerusalém e do templo, em 70 A.D., acabou com o sistema sacrificial judaico. Muito embora o cânon do Antigo Testamento estivesse fixado na mente judaica bem antes de 70 A.D., era necessário algo mais definitivo. Os judeus encontravam-se espalhados e precisavam definir que livros tinham a Palavra oficial de Deus devido à existência de muitos textos extra-escriturísticos e à descentralização. Os judeus se tornaram o povo de um Livro específico, e foi esse livro que os manteve juntos.
2D. O cristianismo começava a florescer e muitos textos, de autoria de cristãos, principiavam a circular. Os judeus necessitavam desmoralizar de modo marcante esses textos, bem como impedir que fossem aceitos junto com os seus próprios escritos e usados nas sinagogas.
É preciso ter cuidado em se fazer separação entre o cânon hebraico, as Escrituras e a grande variedade de literatura religiosa existente.
2C. O CÂNON HEBRAICO
1D. A seguir tem-se um esboço do cânon do Antigo Testamento judaico (extra.'do de minhas anotações feitas no seminário, mas que se pode encontrar em vários livros, tais como as edições modernas do Antigo Testamento Judaico. Verifique The Holy Scriptures (As Escrituras Sagradas, tradução feita segundo o texto massorético, e a Bíblia Hebraica, editada por Rudolph Kittel e Paul Kahle).
A Lei (Torah) | Os Escritores (Kethubyim ou fíagiographa) |
1. Gênesis | A. Livros Poéticos |
2. Êxodo | 1. Salmos |
3. Levítico | 2. Provérbios |
4. Números | 3. Jó |
5. Deuteronômio | |
Os Profetas (Nebhim) B. Os Cinco Rolos (Megilloth)
1. Cântico dos Cânticos
A. Profetas Anteriores 2. Rute
1. Josué 3. Lamentações
2. Juizes 4. Ester
3. Samuel 5. Eclesiastes
4. Reis
C. Livros Históricos 1. Daniel
B. Profetas Posteriores 2. Esdras-Neemias
1. Isaías 3. Crônicas
2. Jeremias
3. Ezequiel
4. Os Doze
Embora a igreja cristã adote o mesmo cânon do Antigo Testamento, o número de livros difere porque dividimos Samuel, Reis, Crônicas, etc, em dois livros cada um; os judeus também consideram os Profetas Menores como um único livro.
A ordem dos livros também é diferente. O Antigo Testamento dos protestantes segue uma seqüência de assuntos em vez de uma seqüência oficial. 32/22
3C. O TESTEMUNHO DE CRISTO A RESPEITO DO CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
1D. Lucas 24:44. No cenáculo Jesus disse aos discípulos: "que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos." Com essas palavras "Ele mencionou as três divisões da Bíblia Hebraica - a Lei, os Profetas e os 'Escritos' (aqui chamados de 'Salmos', provavelmente porque o Livro de Salmos é o primeiro e o mais longo livro nessa terceira divisão)." 15/96
2D. João 10:31-36; Lucas 24:44. Jesus discordou das tradições orais dos fariseus (Marcos 7; Mateus 15), não do conceito que tinham do cânon hebraico. 15/104 "Não há indício de qualquer disputa entre Ele e os judeus acerca da canonicidade dos livros do Antigo Testamento". 108/62
3D. Lucas 11:51 (e também Mateus 23:35): "... desde o sangue de Abel até ao de Zacarias". Aqui Jesus confirma o testemunho que dá acerca da extensão do cânon do Antigo Testamento. Abel, como todos sabem, foi o primeiro mártir (Gênesis 4:8). Zacarias é o último mártir citado (de acordo com a ordem dos livros do Antigo Testamento hebraico. Veja a lista acima - 2C, 1D). Foi apedrejado» enquanto profetizava ao povo, "no pátio da casa do Senhor" (2 Crônicas 24:21). Gênesis era o primeiro livro no cânon hebraico, e Crônicas, o último. Em outras palavras, Jesus disse "de Gênesis a Crônicas", ou, como diríamos, de acordo com a nossa ordem dos livros, "de Gênesis a Malaquias". 15/96
4C. TESTEMUNHOS DE ESCRITORES NÃO-BÍLICOS
1D. O mais antigo registro de uma divisão tríplice do Antigo Testamento é o prólogo do livro de Eclesiástico (escrito por volta de 130 a.C). O prólogo, escrito pelo neto do autor, diz: "A Lei, e os profetas, e os outros livros dos pais". Existiam três divisões bem nítidas das Escrituras. 108/71
2D. Josefo, o historiador judeu que viveu no final do primeiro século depois de Cristo, escreve: "... e a maneira como, tenazmente, temos nos apegado a esses livros da nossa própria nação fica evidente através daquilo que fazemos; pois durante as tantas eras que já têm passado ninguém foi tão audaz ao ponto de acrescentar alguma coisa aos livros ou de retirar alguma coisa; mas torna-se natural a todos os judeus, sendo algo espontâneo que ocorre desde o próprio nascimento, considerar que esses livros contêm doutrinas divinas, perseverar nelas e estar disposto a, caso necessário, morrer por elas. Pois não é é novidade para nossos cativos, que são em grande número, serem freqüentemente vistos suportando nas arenas todo tipo de torturas e mortes, a fim de não serem obrigados a pronunciar uma única palavra contra nossas leis e contra os registros que as contêm..." 45/609
3D. O Talmude
1E. Tosefta Yadaim 3:5 diz: "O Evangelho e os livros dos heréticos não tornam as mãos impuras; os livros de Ben Sira e quaisquer outros livros que tenham sido escritos desde a época dele não são canônicos".
70/63; 32/129
2E. Seder Orlam Rabba 30 declara: "Até essa época (a de Alexandre o Grande) os profetas profetizaram através do Espírito Santo; a partir desse momento, inclina o teu ouvido e ouve o que dizem os sábios". 32/129
3E. Talmude Babilônico, Tratado "Sanedrim" VII-VIII, 24: "Depois dos profetas posteriores. Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo se afastou de Israel".
4D. Melito, bispo de Sardes, elaborou a mais antiga lista do cânon do Antigo Testamento de que se tem notícia (cerca de 170 A.D.).
Eusébio (História Eclesiástica, IV. 26j preservou os comentários de Melito. Melito afirmou que obtivera uma lista fidedigna enquanto viajava pela Síria. Os comentários de Melito foram feitos numa carta a um amigo, Anesímio: "Estes são os livros... os cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio. Jesus Naue, Juizes, Rute. Quatro livros de Reinos, dois de Crônicas, os Salmos de Davi, Provérbios de Salomão (também chamado Sabedoria), Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Jó. Dos profetas: Isaías, Jeremias, os Doze num único livro, Daniel, Ezequiel, Esdras".
F. F. Bruce comenta: "É provável que Melito tenha incluído Lamentações junto com Jeremias, e Neemias com Esdras (embora seja curioso encontrar Esdras relacionado entre os profetas). Nesse caso, a lista de Melito contêm todos os livros do cânon hebraico (dispostos em conformidade com a seqüência da Septuaginta), com exceção de Ester. É possível que o livro de Ester não estivesse incluído na lista que recebeu na Síria". 15/100
5D. A tríplice divisão do atual texto judaico (com onze livros nos Escritos) tem origem na Mishnah (tratado Baba Bathra, século quinto depois de Cristo). 32/20
5C. O TESTEMUNHO DO NOVO TESTAMENTO ACERCA DO ANTIGO TESTAMENTO COMO SENDO ESCRITURA SAGRADA
Mateus 21:42; 22:29; 26:54, 56
Lucas 24
João 5:39; 10:35
Atos 17:2,11;18:28
Romanos 1:2; 4:3; 9:17; 10:11; 11:2; 15:4; 16:26
1 Coríntios 15:3,4
|
Gálatas 3:8; 3:22; 4:30
1 Timóteo 5:18
2 Timóteo 3:16 2Pedro 1:20, 21; 3:16
"... Como diz a Escritura ..." (João 7:38), frase dita sem uma identificação mais específica, sugere que deve ter havido uma compreensão geral sobre a relação entre Escritura e os vários livros.
6C. O CONCILIO DE JÂMNIA
Muitos estudantes fazem este comentário: "Ah! eu já sei como se formou o cânon. Os líderes se reuniram num concilio e decidiram que livros eram mais úteis e, então, forçaram os adeptos a aceitá-los". Mas essa é a idéia mais afastada da verdade que se pode ter. (Mas para algumas pessoas, a distância não chega a ser problema na era espacial.)
São apropriados os comentários que F. F. Bruce e H. H. Rowley fazem a respeito: "A principal razão para duvidar que os Escritos estivessem completos à época de nosso Senhor é que existem registros dos debates ocorridos entre os rabinos após a queda de Jerusalém em 70 A.D., debates estes sobre alguns livros dessa divisão da Bíblia. Quando era iminente a destruição da cidade e do templo, um grande rabino, Yohanan ben Zakkai, pertencente à escola de Hilel (um grupo dentro da seita dos fariseus) obteve permissão dos romanos para reconstituir o Sanedrim numa base puramente espiritual. Esse trabalho ocorreu em Jabneh, ou Jâmnia, cidade localizada entre Jope e Azoto (Asdode). Parte do debate travado em Jâmnia foi transmitido oralmente, e posteriormente registrado nos escritos rabínicos. Entre os assuntos debatidos estava a questão de se os livros de Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e Ester deviam receber o reconhecimento como livros canônicos. Levantaram-se objeções contra esses livros por várias razões. Ester, por exemplo, não continha o nome de Deus, e não era nada fácil harmonizar o ensino de Eclesiastes com a ortodoxia vigente à época. Mas o resultado dos debates de Jâmnia foi a decidida aceitação de todos esses livros como parte das Sagradas Escrituras". 15/97
E H. H. Rowley diz: "Na verdade, não é muito correto falar em Concilio de Jâmnia. Temos conhecimento de debates ali tratados entre os rabinos, mas nada sabemos acerca de decisões oficiais ou formais que tenham sido tomadas, e é provável que os debates tenham sido informais, muito embora tenham ajudado a cristalizar e a estabelecer mais firmemente a tradição judaica". 80/170
7C. A LITERATURA APÓCRIFA DO ANTIGO TESTAMENTO
1D. Introdução
A palavra apócrifo vem do grego apokruphos e significa "oculto" ou "escondido".
Jerônimo, que viveu no quarto século, foi o primeiro a chamar de apócrifo esse grupo de livros. Os apócrifos são os livros acrescentados ao Antigo Testamento pela Igreja Católica, os quais os protestantes afirmam não serem canônicos.
2D. Por que não canônicos?
O Unger's BibleDictionary (Dicionário Bíblico de Unger) apresenta as seguintes razões para a exclusão:
1. "Estão repletos de discrepâncias e anacronismos históricos e geográficos".
2. "Ensinam doutrinas falsas que incentivam práticas divergentes das ensinadas pelas Escrituras inspiradas."
3. "Apelam para estilos literários e apresentam uma artificialidade no trato do assunto, com um estilo que destoa do das Escrituras inspiradas."
4. "Faltam-lhes os elementos distintivos que conferem caráter divino às autênticas Escrituras, como, por exemplo, a autoridade profética e o sentimento poético e religioso." 99/70
3D. Um Resumo de Cada Livro Apócrifo
Em How We Got Our Bible (Como Obtivemos a Bíblia), excelente guia de estudo de autoria de Ralph Earle, encontramos, resumidamente, os detalhes de cada livro. Devido à qualidade desse resumo, preferi copiar o esboço em vez de apresentar outro.
"1 Esdras (cerca de 150 a.C.) fala da volta dos judeus à Palestina, após o exílio na Babilônia. Baseia-se bastante nos textos de Crônicas, Esdras e Neemias, mas o autor também acrescentou muito material lendário."
"O tópico mais interessante é a História dos Três Guardas. Estavam discutindo sobre qual era a coisa mais forte do mundo. Um disse: "o vinho"; outro: "orei";e o terceiro; "a mulher e a verdade". E colocaram essas três respostas debaixo do travesseiro do rei. Quando este acordou, quis que os três justificassem suas respostas. A decisão unânime foi: "a verdade é, de longe, a mais forte". Por ter dado a resposta certa, como recompensa Zorobabel recebeu permissão para reconstruir o Templo em Jerusalém."
"2 Esdras (100 A.D.) é uma obra apocalíptica que contém sete visões. Segundo dizem, Martinho Lutero ficou tão confuso com essas visões que jogou o livro no rio Elba."
"Tobias (início do segundo século antes de Cristo) é um breve romance. De contendo uma mensagem fortemente farisaica, o livro enfatiza a Lei, os alimentos permitidos, as abluções cerimoniais, a caridade, o jejum e a oração. A afirmação nele existente de que as esmolas trazem o perdão dos pecados é claramente contrária às Escrituras."
"Judite (por volta de meados do segundo século antes de Cristo) também é uma obra fictícia e farisaica. A heroína desse romance é Judite, uma bela viúva judia. Quando sua cidade foi sitiada, tomou consigo sua empregada bem como alimentos que a lei judaica permitia, e se dirigiu à tenda do general atacante. Felizmente, ele havia bebido demais e estava totalmente embriagado. Judite apanhou a espada do general e cortou-lhe fora a cabeça. Então ela e a empregada saíram do acampamento, levando a cabeça dentro da sacola de mantimentos. A cabeça foi pendurada no muro de uma cidade vizinha e o exército assírio, sem líder, foi derrotado."
"Adições a Ester (aproximadamente 100 a.C). Dentre os livros do Antigo Testamento, Ester é o único que não faz qualquer menção de Deus. O livro nos diz que Ester e Mordecai jejuaram, mas não que, especificamente, oraram. Para compensar essa omissão, as Adições possuem longas orações atribuídas aos dois, além de suas cartas supostamente escritas por Artaxerxes."
"Sabedoria de Salomão (cerca de 40 A.D.) foi escrito para evitar que os judeus caíssem no ceticismo, materialismo e idolatria. Tal como em Provérbios, a Sabedoria é personificada. Existem muitos sentimentos nobres expressos nesse livro."
"Eclesiástico, ou Sabedoria de Siraque (cerca de 180 a.C.) revela um nível elevado de sabedoria religiosa, algo semelhante à do livro canônico de Provérbios. Também oferece muitos conselhos práticos. Por exemplo, acerca de conversas ele diz (32:8):
"Sé conciso em teu discurso, dize muito em poucas palavras... Sê como alguém que sabe e ao mesmo tempo cala-se. E novamente (33:4): Prepara tuas palavras e serás ouvido'."
"Em seus sermões João Wesley cita inúmeras vezes o Livro de Eclesiástico. Ainda é largamente usado em círculos anglicanos (episcopais)."
"Baruque (aproximadamente 100 A.D.) se apresenta como tendo sido escrito em 582 a.C. por Baruque, o escriba de Jeremias. Na realidade, o livro está provavelmente tentando interpretar a destruição de Jerusalém, ocorrida em 70 A.D. O livro insta com os judeus para que não se revoltem de novo, mas que se submetam ao imperador. Apesar disso, a revolta de Bar-Cochba contra o domínio romano ocorreu logo depois, em 132-135 A.D. O sexto capítulo de Baruque contém a chamada "Carta de Jeremias", que traz uma séria advertência contra a idolatria - carta provavelmente dirigida aos judeus de Alexandria, cidade do Egito."
"O nosso livro de Daniel contém doze capítulos. No primeiro século antes de Cristo foi acrescentado o capítulo treze, a história de Susana. Ela era a linda esposa de um líder judeu na Babilônia, a cuja casa freqüentemente acorriam anciões e juizes judeus. Dois destes se apaixonaram por ela e tentaram seduzi-la. Quando ela gritou, os dois anciões disseram que haviam-na encontrado nos braços de um jovem. Foi levada a julgamento. Visto que os testemunhos dos dois homens não se contradiziam, foi considerada culpada e condenada à morte."
"Mas um jovem chamado Daniel interrompeu o processo que a levaria à execução e começou a examinar e comparar as testemunhas. Perguntou a cada uma em separado em que árvore do jardim haviam encontrado Susana com um amante. Quando deram respostas diferentes, foram executados, e Susana foi salva."
"Bel e o Dragão foi acrescentado à mesma época, sendo o capítulo catorze de Daniel. O propósito principal era mostrar a loucura da idolatria. Na verdade contém duas histórias."
"Na primeira, o rei Ciro perguntou a Daniel por que não adorava Bel, pois, afinal, aquela divindade demonstrava sua grandiosidade ao consumir diariamente muitas ovelhas, junto com muita farinha e azeite. De modo que Daniel espalhou cinzas pelo chão do templo, onde a comida fora colocada àquela noite. De manhã o rei levou Daniel ao templo para mostrar que Bel havia comido toda a comida durante a noite. Mas Daniel mostrou ao rei que nas cinzas sobre o chão estavam as pegadas dos sacerdotes e suas famílias, que haviam entrado secretamente por uma passagem sob a mesa. Os sacerdotes foram mortos e o templo, destruído."
"Da mesma forma, a história do Dragão é obviamente uma história de caráter lendário. Junto com Tobias, Judite e Susana, pode-se classificar essas histórias como ficção puramente judaica. Têm pouco ou nenhum valor religioso."
"O Cântico dos Três Hebreus vem, na Septuaginta e na Vulgata, logo após Daniel 3:23. Copiando bastante o salmo 148, tem uma natureza anti-fônica semelhante à do salmo 136, sendo que 32 vezes aparece o refrão 'louvai-o e exaltai-o para sempre'."
"A Oração de Manasses foi escrita no período macabeu (segundo século antes de Cristo) como sendo a suposta oração de Manasses, o rei ímpio de Judá. A afirmação de 2 Crônicas 33:19 é obviamente uma sugestão para que se escrevesse aquela oração: 'A sua oração, e como Deus se tornou favorável para com ele... eis que tudo está escrito na história...' Uma vez que essa oração não se encontra na Bíblia, algum escriba tinha que suprir a deficiência!"
"1 Macabeus (século primeiro antes de Cristo) é talvez o mais valioso livro apócrifo, pois descreve as façanhas dos três irmãos macabeus — Judas, Jonatã e Simão. É, ao lado dos escritos de Josefo, a mais importante fonte de informações sobre esse período decisivo e movimentado da história judaica."
"2 Macabeus (escrito no mesmo período) não é uma continuação de 1 Macabeus, mas um relato paralelo, que trata das vitórias de Judas Macabeu. Geralmente se considera que é um livro de caráter mais lendário que 1 Macabeus." 23/3741
4D. Testemunho Histórico sobre a sua Não-Inclusão no Cânon
Geisler e Nix apresentam uma série de dez testemunhos muito antigos contrários à aceitação dos apócrifos.
1. "Filo, um filósofo judeu de Alexandria (20 a.C- 40 A.D.), foi prolífico nas citações do Antigo Testamento e até achegou a reconhecer a divisão tríplice da Bíblia hebraica, mas jamais citou os apócrifos como sendo inspirados."
2. " O historiador judeu Josefo (30-100 A.D.) exclui claramente os apócrifos, informando que são 22 os livros do Antigo Testamento. Também não cita esses livros como Escrituras."
3. "Jesus e os escritores do Novo Testamento nem uma única vez citam os apócrifos, muito embora haja centenas de citações e referências de quase todos os livros canônicos do Antigo Testamento."
4. "Os estudiosos judeus reunidos em Jâmnia (90 A.D.) não reconheceram os apócrifos."
5. "Nenhuma deliberação ou concilio da igreja cristã, nos primeiros quatro séculos, reconheceu os apócrifos como sendo inspirados."
6. "Muitos dos grandes Pais da igreja antiga atacaram pesadamente os apócrifos, como por exemplo, Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio."
7. "Jerônimo (340420), o grande erudito e tradutor da Vulgata, rejeitou que os apócrifos fizessem parte do cânon. Ele travou uma disputa sobre essa questão com Agostinho, estando ambos fisicamente separados pelo mar Mediterrâneo. Inicialmente recusou até mesmo traduzir os livros apócrifos para o latim, mas posteriormente fez uma tradução apressada de alguns deles. Depois de sua morte, literalmente "sobre o seu cadáver", os livros apócrifos foram incorporados à Vulgata de Jerônimo, tirados diretamente da versão Velha Latina."
8. "Durante o período da reforma muitos estudiosos católicos rejeitaram os apócrifos."
9. "Lutero e os reformadores rejeitaram a canonicidade dos apócrifos.
10. "Não foi senão em 1546 A. D., numa atitude polêmica tomada no Concilio de Trento, dentro da Contra-Reforma, que os livros apócrifos receberam pleno reconhecimento canônico por parte da Igreja Católica Romana." 32/173
3B. O Cânon do Novo Testamento
1C. TESTES PARA A INCLUSÃO DE UM LIVRO NO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
O fator básico para determinar a canonicidade do Novo Testamento foi a inspiração divina, e o principal teste da inspiração foi a apostolicidade. 32/181
Geisler e Nix detalham a respeito: "Na terminologia do Novo Testamento, a igreja foi edificada 'sobre o fundamento dos apóstolos e profetas' (Efésios 2:20), os quais Cristo prometera que, pelo Espírito Santo, iriam guiar 'a toda a verdade' (João 16:13). Atos 2:42 diz que a igreja em Jerusalém perseverou *na doutrina dos apóstolos e na comunhão'. A palavra apostolicidade, conforme empregada para designar o teste de canonicidade, não significa obrigatoriamente 'autoria apostólica' nem 'aquilo que foi preparado sob a direção dos apóstolos..."
"Parece muito melhor concordar com Gaussen, Warfield, Charles Hodge e a maioria dos protestantes em que o teste básico de canonicidade é a autoridade apostólica, ou a aprovação apostólica, e não simplesmente autoria apostólica." 32/183
N.B.: Stonehouse afirma que a autoridade apostólica "que se revela no Novo Testamento nunca está divorciada da autoridade do Senhor. Há nas epístolas um constante reconhecimento de que na igreja só existe uma única autoridade absoluta; a autoridade do próprio Senhor. Sempre que os apóstolos falam com autoridade, fazem-no exercendo a autoridade do Senhor. Dessa forma, por exemplo, quando Paulo defende sua autoridade de apóstolo, baseia-se única e diretamente na comissão recebida do Senhor (Gálatas 1 e 2); quando evoca o direito de regulamentar a vida da igreja, declara que sua palavra tem a autoridade do Senhor, mesmo quando nenhuma palavra específica do Senhor lhe tenha sido transmitida (1 Coríntios 14:37;cf. 1 Coríntios 7:10)..." 88/117,118
"O único que, no Novo Testamento, fala com uma autoridade interna e que se impõe por si mesmo é o Senhor." 67/18
2C. OS LIVROS CANÔNICOS DO NOVO TESTAMENTO
1D. Há três razões que mostram a necessidade de se definir o cânon do Novo Testamento. 23/41
1E. Um herege, Marcião (cerca de 140 A.D.), desenvolveu seu próprio cânon e começou a divulgá-lo. A igreja precisava contrabalançar essa influência decidindo qual era o verdadeiro cânon das Escrituras do Novo Testamento.
2E. Muitas igrejas orientais estavam empregando nos cultos livros que eram claramente espúrios. Isso requeria uma decisão concernente ao cânon.
3E. O edito de Diocleciano (303 A. D.) determinou a destruição dos livros sagrados dos cristãos. Quem desejava morrer por um simples livro religioso? Eles precisavam saber quais eram os verdadeiros livros.
2D. Atanásio de Alexandria (367 A.D.) nos apresenta a mais antiga lista de livros do Novo Testamento que é exatamente igual à nossa atual. A lista faz parte do texto de uma carta comemorativa escrita às igrejas.
3D. Logo após Atanásio, dois escritores, Jerônimo e Agostinho, definiram o cânon de 27 livros. 15/112
4D. Policarpo (115 A.D.), Clemente e outros referem-se aos livros do Antigo e do Novo Testamento com a expressão "como está escrito nas Escrituras".
5D. Justino Mártir (100-165 A.D.), referindo-se à Eucaristia, escreve em Primeira Apologia 1.67: "E no domingo todos aqueles que vivem nas cidades ou no campo se reúnem num só local, e, durante o tempo que for possível, lêem-se as memórias dos apóstolos ou escritos dos profetas. Então, quando o leitor termina a leitura, o presidente faz uma admoestação e um convite a que todos imitem essas boas coisas".
No Diálogo com Trifo (pp. 49, 103, 105, 107) ele emprega a fórmula "está escrito". Tanto ele como Trifo devem ter sabido o significado desse "está escrito".
6D. Irineu (180 A.D.). F. F. Bruce escreve acerca do significado de Irineu: "A importância de Irineu está no seu vinculo com a era apostólica e nos seus relacionamentos ecumênicos. Educado na Ásia Menor, aos pés de Policarpo, o discípulo de João, Irineu tornou-se bispo de Lion, na Gália, em 180 A.D. Seus escritos confirmam o reconhecimento canônico dos quatro evangelhos, Atos, Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Fili-penses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, 1 Pedro e
1 João e Apocalipse. Em Contra Heresias, (III, ii, 8), tratado escrito por Irineu, é evidente que até 180 A.D. a idéia de quatro evangelhos se tornara tão axiomática em toda a cristandade que se podia mencioná-la como um fato real tão óbvio, inevitável e natural como os quatro pontos cardeais (como os chamamos) ou quatro ventos". 15/109
7D. Inácio (50-115 A.D.): "Não quero dar-lhes mandamentos tal como fizeram Pedro e Paulo; eles foram apóstolos..." (Aos Tralianos 3.3).
8D. Os Concílios da Igreja. É uma situação bastante parecida com a do Antigo Testamento (veja Capítulo 3, 6C, o Concilio de Jâmnia).
F. F. Bruce afirma que "quando finalmente um Concilio da Igreja - o Sínodo de Hipona (393 A.D.) - elaborou uma lista dos vinte e sete livros do Novo Testamento, não conferiu-lhes qualquer autoridade que já não possuíssem, mas simplesmente registrou a canonicidade previamente estabelecida. (A decisão do Sínodo de Hipona foi repromulgada quatro anos depois pelo Terceiro Sínodo de Cartago.)"
Desde então não tem havido qualquer restrição séria aos 27 livros aceitos do Novo Testamento, quer por católico-romanos quer por protestantes.
3C. OS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO 32/200-205
A Epístola de Pseudo-Barnabé (cerca de 70-79 A.D.) Epístola aos Corintios (cerca de 96 A.D.)
Antiga Homília, também chamada Segunda Epístola de Clemente (cerca de 120-140 A.D.).
Pastor de Hermas (cerca de 115-140 A.D.)
Didaquê, ou o Ensino dos Doze Apóstolos (cerca de 100-120 A.D.)
Apocalipse de Pedro (cerca de 150 A.D.)
Os Atos de Paulo e Tecla (170 A.D.)
Epístola aos Laodicenses (século quarto?)
|
O Evangelho Segundo os Hebreus (65-100 A.D.)
As Sete Epístolas de Inácio (Cerca de 100 A.D.)
E muitos outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário