subir ao “trono de Pedro”, não apenas para governar a Igreja, mas também para se transformarem eles mesmos em reis terrenos, isto é, para exercerem o domínio temporal, usarem as riquezas temporais e, assim, se extraviarem através da riqueza material.
O furor que acompanhou o final do primeiro milênio estabeleceu o fundamento para que as exigências da Igreja Católica de igualdade com os reis e imperadores, e nos séculos subseqüentes atingisse o ápice em arrogância espiritual e temporal. Isso conduziu à Reforma que explodiu contra a Igreja Romana com a potência de um cataclisma, quase deixando-a sepultada em ruínas. Pois tendo possuído demais, ela perdeu mais da metade da Europa. A riqueza terrena da Europa Norte foi dela retirada, sem falar na inequívoca lealdade de centenas de milhões de Católicos.
Tentando se reerguer ela usou a Contra-Reforma, a fim de se afinar com os novos tempos. E também para continuar acumulando ainda mais riqueza temporal.
A Revolução Francesa veio, e enquanto a monarquia e a aristocracia ruíam, a Igreja, como proprietária de grandes parcelas de terras, bens imóveis e similares foi tratada como potentado terreno mais dedutível de todos os demais. Assim ela perdeu a maior parte de sua riqueza, junto com a lealdade de muitos que sempre a olharam com raiva e fome, durante décadas.
A revolta da América Espanhola repetiu esse processo e um dos primeiros atos das recém-nascidas Repúblicas Latinas foi desapropriá-la. Depois de 1870 a França seguiu os passos destas como resultado da derrocada Franco-Prussiana. A Revolução Mexicana durante as primeiras décadas do século atual, fez o mesmo. Para completar essas repetidas perdas de sua riqueza acumulada surgiu a Revolução Bolchevista, em 1917. Sua rival, a Igreja Ortodoxa também insaciável na ambição de riqueza temporal, compartilhou da queda do Império Czarista com o qual tanto se havia identificado.
O processo que levou a Igreja a tais desastres agora continua, embora não tão ostensivamente, através do mundo cristão ocidental. Já observamos a inacreditável acumulação de riqueza que é processada hoje pela Igreja Católica, em todos os níveis. O resultado inevitável será a sua expropriação final. Isto não é mera especulação sombria. É uma estimativa fatual de algo que, tendo já se repetido no passado, deve acontecer num futuro previsível. Se os exemplos históricos não forem suficientes para convencer apelemos portanto para uma simples racionalização.
Quando uma Igreja compra ou ganha um bem imóvel, uma faixa de terra, ou um milhão em ações, ou qualquer item valioso concreto, ela sempre o conservará, visto como a Igreja é uma corporação que não pode fenecer ou deixar de existir. O contrário acontece quando morre um benfeitor, ou doador, ou indivíduo, quando a regra geral é a redistribuição de sua riqueza entre os herdeiros. O mesmo se aplica a qualquer negócio, empresa comercial ou financeira, e inclusive os trusts gigantes ou corporações do século 20. Com a Igreja Católica essa regra não funciona. Seus membros individuais podem morrer (os quinhentos milhões agora um bilhão) de fiéis de uma geração e seus papas podem falecer. Ela, entretanto, como corporação, dona de toda a sua riqueza, permanecerá. Seus bilhões continuarão se multiplicando. A próxima geração acrescentará mais bilhões e assim por diante, - ad infinitum.
Através desses meios, a Igreja se engrandecerá em cada geração sucessiva, até que finalmente, como tem acontecido tão freqüentemente no passado, ela se tornará a possuidora e dominadora da maior parte da riqueza temporal da sociedade na qual ela atua. O processo já é visível em muitos países e se tornou por demais evidente na terra mais dinamicamente ativa do mundo ocidental, os Estados Unidos da América.
A situação pode acarretar imensos perigos, visto como tem havido ultimamente uma demanda irresistível de expropriação eclesiástica. Isso conduzirá a violenta comoção, ou seja, à catástrofe religiosa e civil.
A Igreja hoje, apesar da preocupante multiplicação de previsões, continua febrilmente engajada na acumulação de ainda mais riqueza. Neste mundo atingido por tumultos sociais preocupantes, a expressão visível de incertezas individuais e coletivas, seus usos nas estruturas econômicas da sociedade contemporânea, mais do que impróprios, são provocativos, visto como a concretização das apreensões atávicas grandemente difundidas pelas massas, será de tamanha proporção que irá ameaçar o mais tradicional de todos os estabelecimentos, que inclui o mais venerado de todos, a Igreja Católica.
O sombrio horizonte parece conduzir à potencialidade de uma aproximação de holocaustos globais e incineração espacial. Tais horrores longe de se dissolverem com o passar dos dias estão se tornando cada vez mais concretos através de uma imbatível acumulação de onipotência econômica por parte de alguns super colossos, norteados por uma desalmada tecnocracia gigante e aumento do materialismo inspirado no eclesiasticismo ocidental
O condomínio de ambos poderia gerar o desespero final coletivo e individual. O desespero pode levar à explosão. Se tal ocorresse, a conflagração seria tamanha que colocaria em perigo o próprio fundamento sobre o qual a fábrica de “cristãos” está construída.
Os potentados, então, poderiam cair fragorosamente dos seus pedestais. Por causa da sua ilimitada pujança financeira a Igreja Católica inevitavelmente seria identificada como o maior deles, resultando em que suas possessões mais uma vez se tornariam a causa, não tanto de sua humilhação, mas de uma drástica redução de seu domínio espiritual, onde ela afirma ser a única fonte da verdade.
Se tal acontecesse, ela seria julgada como acumuladora de imensas possessões materiais, em total desacordo com o ditame do seu fundador: “As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”(Mateus 8:20).
Quem, então, testificará a favor dela uma vez que o próprio evangelho a condenará?
“Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus...”(Lucas 18:22). Estas são as palavras exatas daquele que ela afirma ser o seu Mestre. Ele ordenou a buscar, não as riquezas do mundo, mas as do reino de Deus.
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