segunda-feira, 17 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 69

O nascimento do Nuovo Banco Ambrosiano entrementes, não havia acontecido tão placidamente conforme fora previsto. Forças ocultas pareciam estar tentando impedir o seu progresso. Havia rumores de que a insistência da Itália em sua determinação de acusar o Banco do Vaticano de fraude e de apropriação indébita, provavelmente tinha algo a ver com isso.

Também outros, além da mão da maçonaria, estavam agindo. Parecia que os rumores foram justificados quando Giuseppe Della Ca caiu misteriosamente do 4º andar do Edifício Ambrosiano em Milão e morreu instantaneamente. Ele era o Deputado Diretor do Novo Banco Ambrosiano.

A semelhança do que aconteceu com a Secretária de Calvi era chocante, para não ser lembrada. Muito mais porque ele obviamente havia “voado” pela janela, conforme ela o fizera.

Forças malignas estavam agindo claramente por trás do cenário em todos os níveis de malignidade. Os que haviam sofrido perdas imensas, isto é, os grupos dos bancos credores ficaram impotentes para dissolver o jogo do Ambrosiano-IOR como o resto, e aumentaram sua pressão sobre o Vaticano. Sua formalidade e deferência foram substituídas por exigências vigorosas e até mesmo veladas ameaças de “revelações prejudiciais” sobre o envolvimento do IOR com “negócios” internacionais escusos.

O resultado foi visto quando um conselho de cardeais de todas as partes do mundo se reuniu em Roma, a fim de discutir o assunto, em novembro de 1982, e um remédio sem precedentes foi adotado no sentido de produzir o dinheiro para pagar os débitos do Vaticano, conforme veremos.

Mas se o mistério do Novo Banco Ambrosiano e do IOR continuou insolúvel, outro não menos interessante ficou totalmente insolúvel: a perene imunidade do Diretor do Banco do Vaticano, Arcebispo Marcinkus, durante todo o tempo. Enquanto sua imunidade à detenção na Itália era aceita por ter-se enclausurado dentro dos muros do Vaticano, sua imunidade à condenação papal ou pelo menos reprimenda, não o foi.

É verdade que quando o papa visitou a Espanha em novembro de 1982, Marcinkus, via de regra pertencente ao corpo de guarda-costas do papa, estivera conspicuamente ausente. Também que ele havia sido ignorado antes do caso Calvi, quando fora mencionado como potencial sucessor do Cardeal Cody de Chicago, falecido recentemente. Essa nomeação teria significado não somente uma promoção, visto como ele passaria a Cardeal, mas também a liderança da diocese mais rica da América.

A presença de Marcinkus ali, cuja reputação em assuntos monetários havia sido criticada por causa de sua relação com Sindona, teria botado lenha na fogueira para impropriedades na especulação financeira da parte de outro hierarca católico. Visto como o ocupante anterior, o Cardeal Cody, um amigo pessoal de João Paulo II, quando faleceu em 1982, isso acontecera estando ele próprio sob a nuvem de grande escândalo financeiro, pelo qual fora acusado de dar um milhão de dólares dos fundos da igreja a uma amiga dele.

O antecessor de Wojtyla, o Papa João Paulo I, até havia planejado demiti-lo por causa disso.

Documentos relacionados ao caso foram levados de seu quarto na noite exata em que foi encontrado morto, depois de apenas 33 dias de pontificado. (5)

A prolongada cordialidade de Marcinkus com Wojtyla apressou mais e mais pessoa a colocar perguntas embaraçosas. Os leigos católicos, não menos do que os eclesiásticos, levantaram suas preocupadas vozes, primeiro em particular e depois em público. Rumores e conjeturas, muitos deles fantasiosos, levaram a suspeitas e até a acusações. Alegações de intrigas ocultas, de uma etnia particular (Marcinkus e Wojtyla falavam em dialeto comum polonês-leto), maçônicos e de caráter ideológico se multiplicaram. Seria Marcinkus imune em razão de sua potencial capacidade de provocar um escândalo de dimensões incomensuráveis para o Vaticano, perguntava-se, ou seria porque alguém talvez o próprio papa tinha algo a esconder?

Estes e outros rumores, muitos dos quais sem o menor fundamento, se multiplicaram de tal modo que muitos insistiam que algo deveria ser feito para dar-lhes um basta. E a remoção de Marcinkus seria uma delas.

Como o mês foi embora e nada aconteceu, os cardeais reuniram-se em cruzada. Um dos mais importantes foi Agnelo Rossi do Brasil que pedia repetidamente que o papa demitisse Marcinkus. Rossi não era apenas um cardeal importante. Era também o chefe de uma das mais prestigiosas congregações, o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

E além disso ele era também um dos cinco membros da comissão especial encarregada de examinar os assuntos secretos das operações financeiras do IOR-Ambrosiano.

A hierarquia mais abertamente persistente era um não menos importante membro da Igreja, o Cardeal Benelli, no momento Arcebispo de Florença. O Cardeal Benelli não era apenas um clérigo. Ele havia sido o braço direito de Paulo VI durante nada menos de quinze anos, dirigindo as políticas exteriores do Vaticano praticamente até os últimos dias desse papa. Ele havia sido um dos promotores da Aliança Vaticano Moscou. E como se não bastasse, para torná-lo único, Benelli havia sido o mais severo candidato rival do papa durante os dois conclaves. No primeiro ele foi vencido por considerações políticas pelo Papa João Paulo I, o papa dos 33 dias. No segundo, após a morte misteriosa de João Paulo I, por Karol Wojtyla, João Paulo II.

O Cardeal Benelli que havia começado sua campanha após a morte de Calvi, esperando a desistência de Marcinkus como Diretor do IOR, vendo que a desistência ou demissão nunca vinham, começou a indagar a essência daquele mistério. Também porque o Vaticano estava tão ansioso para isentar o Arcebispo de sua óbvia responsabilidade. Certa vez, no aeroporto do Rio de Janeiro, quando alguém apontou para o fato de que Marcinkus, como Diretor do IOR, desde 1968, deveria ficar onde sempre estivera, o Cardeal Benelli deu uma brusca resposta: “Na Igreja”ele respondeu: “ninguém ocupa um lugar para sempre”.

Quando um repórter relembrou-lhe de que Marcinkus não poderia ser removido por ser um amigo pessoal do papa Wojtyla, o cardeal foi ainda mais agressivo: “o fato de que Marcinkus é um amigo do papa – ele retrucou – não significa que ele tenha de permanecer no posto”.

O cardeal tornou-se infatigavelmente determinado a que mistério do sumiço de milhões de dólares fosse esclarecido para o “bom nome da Igreja”. “As forças que agiam por trás deveriam ser expostas, dentro ou fora do Vaticano”, ele explicou. Em particular, ele até deu uma dica sobre o potencial dessas forças. Os amigos lhe pediram cautela. Eles o lembraram de que certas mortes inexplicáveis haviam ocorrido antes, durante e após a morte de Calvi. Contudo Benelli, de forte personalidade, insistia em que uma vez que a confiabilidade do IOR deveria ser bem estabelecida, era o fato exato para aqueles que eram os responsáveis fossem expostos.

Quando nos lembramos de que Marcinkus tinha protetores poderosos, mais poderosos até do que o cardeal jamais tinha imaginado, Benelli indicou que outras forças não menos poderosas poderiam estar por trás do cenário a seu favor. “De fato não excluo que Marcinkus seria obrigado a se demitir do seu posto, antes do final do ano”, ele declarou então.

Uma predição audaciosa. E muito mais uma perigosa confrontação. Algumas semanas mais tarde, o Cardeal Benelli, o guardador dos segredos mais recônditos do Vaticano sofreu um fatal “ataque do coração” e faleceu em 26/10/82. Ele tinha apenas 61 anos de idade. Muitos dos seus apoiadores não conseguiram achar que esse desaparecimento inesperado podia não ser mera coincidência. (7)

Será que o mistério cada vez mais profundo dos milhões sumidos do IOR tinha algo a ver com o seu “desaparecimento?” Outro enigma que, como o do “Banqueiro de Deus” somente o tempo poderá e deverá esclarecer. (8)

Capítulo 32

Os operadores e operações

da Máfia do Vaticano

Após cuidadoso escrutínio sobre transações bancárias ambíguas, os três financiadores católicos acusados pelo Secretário do Vaticano para provar a conexão Ambrosiano-IOR chegaram finalmente a uma sombria conclusão. O IOR havia tido controle efetivo sobre dívidas nas principais companhias fraudulentas do Ambrosiano. De fato, ele havia manipulado mais oito dessas misteriosas corporações fantasmas.

A implosão fora acelerada não apenas pelas manipulações dos Ambrosianos no último ano, mas também pelo próprio IOR, com a sua recusa ou talvez, “inabilidade” para repor o dinheiro que havia tomado emprestado ou “emprestado”. As ações que ele havia comprado a “preços grosseiramente inflados ”mais as “cartas de consolo” do Arcebispo Marcinkus que havia autorizado os horrendos empréstimos haviam feito o resto.

As descobertas ficaram em segredo. “Feios rumores” sobre elas foram rapidamente neutralizados por versões oficiais para o efeito de que “o nome do IOR tivesse sido usado para um projeto obscuro sem qualquer conhecimento do IOR” ou que “suas operações haviam tido aparência de legalidade” e outras “explicações” desse tipo.

Quando comentários mais explícitos pareciam ser necessários, estes eram revestidos de aparência de inocência errada. “O IOR foi enganado por piratas internacionais inescrupulosos”, foi dito, ou de cândida inaptidão da parte do Diretor do Banco do Vaticano, tal como o Arcebispo Marcinkus havia sido a vítima inocente de sofisticados charlatães cosmopolitas”. (1)

O papa Wojtyla, conhecedor dos verdadeiros fatos, contudo, estabeleceu calmamente um comitê composto de três membros de cada disputante. Sua tarefa seria chegar a um compromisso aceitável tanto para a Itália como para o Vaticano. Em seguida ele tornou conhecido que estava desejando alcançar um acordo com as exigências da Itália sobre os débitos feitos pelo IOR.

“A Santa Sé está disposta a tomar todas as providências necessárias para um entendimento de ambos os lados”. (2)

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