IOR veio, segundo foi descoberto detinha 51% do controle do próprio Banco de Roma, daí a causa de tantos milhões perdidos. E muito mais interessante é que ele havia tido – embora tangencialmente – conexões com Franklin’s Bank de Sindona.
Quando ruiu o império financeiro de Sindona em 1974, o IOR mesmo tendo perdido o seu principal mago das finanças, já o havia substituído por um conselheiro não menos sábio. Este havia sido descoberto pelo próprio Sindona. Ele o havia encontrado operando como funcionário júnior em um banco particular e sério da província, em 1969, o Banco Ambrosiano patrocinado pelo arcebispo de Milão, norte da Itália.
O mestre e seu discípulo Roberto Calvi, fizeram uma aliança de trabalho com o mágico resultado de que em 1971 já haviam estabelecido juntos uma entidade financeira fora da Itália, o Banco Ambrosiano além mar, em Nassau. Sindona então no topo de sua carreira financeira apresentou Calvi ao Bispo Marcinkus, que era o chefe do Banco do Vaticano desde 1969. Ambos pediram a Marcinkus para operar junto com eles através do Banco Ambrosiano. O bispo aceitou e logo foi colocado na lista como um dos seus diretores. (1)
Logo em seguida, como as operações além mar do Banco Ambrosiano e também do IOR se expandiram, suas ramificações financeiras abraçaram vários outros estabelecimentos além mar. Dentro de poucos anos, o IOR tinha chegado ao controle, de fato à posse, de sete bancos panamenhos, conforme o London Financial Times iria registrar mais tarde. (2)
A partir de 1971, quando Calvi começou a operar sob Sindona com a proteção e a bênção de Marcinkus, sua carreira se tornou velos. Ele foi promovido primeiro a Diretor Gerente e em seguida a Presidente do Banco Ambrosiano. Sua rápida ascensão foi devida, não apenas às suas habilidades, mas também ao empurrão que Sindona havia lhe dado.
Em 1970, de fato, Sindona havia dado a Calvi, conforme se dizia, e também a Marcinkus, nada menos de 6 milhões de dólares para operações combinadas. (3)
Se isso é ou não verdade, não se pôde provar, embora anos mais tarde, em 1982, Marcinkus e vários outros altos oficiais da IOR, fossem acusados de dúbias impropriedades financeiras em conexão com as operações executadas por Sindona, antes de 1974.
A queda de Sindona proporcionou a Calvi a chance como estrela brilhante e ascendente nas finanças, não só no firmamento bancário da Itália, mas em todo mundo católico.. A partir daí, de fato o Banco Ambrosiano, já patrocinado pelo Bispo de Milão, começou a controlar organizações financeiras subsidiárias católicas, tais como o Banca Católica del Veneto e outros subsidiários menores
A expansão do banco Ambrosiano tornou-se ainda mais rápida em razão de sua característica direção religiosa. Para se tornar investidores, as pessoa tinham antes de provar que haviam sido batizadas. Isso faziam ao mostrar o certificado de batismo e também que eram católicos praticantes. Deixando de fazê-lo, eram excluídos sob a alegação de falta de catolicidade. O Presidente sempre fechava os procedimentos de cada operação financeira importante e todas eram encerradas com o moto: glória a Deus!
A reputação de piedade e bulbo financeiro logo colocou o Ambrosiano no mapa. E sua relação cada vez mais íntima com o Vaticano fez o resto. A inesgotável energia de Calvi começou a impressionar pessoas e instituições, do mesmo modo. A mídia tendera a ignorá-lo, agora falava dele com grande entusiasmo, ao ponto de o cognominar “ o banqueiro de Deus”. Deram-lhe este apelido não tanto pela sua relação cada vez mais estreita com o IOR e Marcinkus, mas porque suas operações pareciam ter alcançado a nuca e o crânio do campo financeiro, no qual o Vaticano era ativo.
Contudo, a influência de Calvi, além de derivar das conexões com o Vaticano, também veio de outra fonte adicional – a Franco-maçonaria – ou quem sabe, de uma especial espécie de Franco-maçonaria conhecida como Loja P2.
A Loja P 2 era considerada uma distorção da verdadeira Franco-maçonaria, formada, como se dizia, para prover pedras de auxílio clandestinos ao poder político de seus membros. Seu objetivo era também o contorno de assuntos financeiros na Itália, no exterior e até mesmo dentro do Vaticano.
Robert Calvi e seus associados, conquanto selecionando quem poderia ser investidor pela sua catolicidade, exercendo a cláusula de aceitação, ao mesmo tempo tomava parte nas cerimônias maçônicas, as quais teoricamente iam de encontro aos regulamentos da Igreja. As cerimônias eram realizadas com candidatos vestidos de hábitos pretos, com capuzes negros, iguais aos frades. A partir de então os novos membros os chamavam de “frateli”, isto é, irmãos. A palavra maçon na Itália deriva de masso, que significa tijolo – sendo que o tijolo assume uma significação ritualística em toda cerimônia maçônica.
Entre as figuras de liderança da Loja P2 com 933 nomes, estava Lício Gelli, que atuava como o grão mestre da loja P2, U. Ortolani, com vastos interesses bancários na América Latina, Roberto Calvi, o último, porém não o menor, e o seu mentor, Michele Sindona. A Loja, ou melhor, os “irmãos” controlavam os membros. Ela os patrocinava na política e nas finanças. No caso de Calvi, eles o ajudaram em sua carreira meteórica, no mundo dos banqueiros. Era conveniente ter um “irmão” no mais alto pináculo financeiro que pudesse auxiliá-los com suas atividades recônditas nas operações nacionais e internacionais.
Como resultado, o Banco Ambrosiano com a sua íntima relação com o Vaticano, em seu devido curso tornou-se, de fato, o banco do próprio IOR. Uma espécie de secular equivalente, ou talvez, transmissor leigo, cujos fundos eram colocados à sua disposição para finalizar operações que poderiam ultrapassar o controle monetário sem serem detectadas. O fato curioso de católicos praticantes se tornarem maçons na Loja P2, quando visto sob esse prisma, era, portanto, uma prova adicional da inter-relação do envolvimento financeiro do Vaticano com forças operando em diferentes níveis dentro e fora da Igreja. A chocante concessão pública do Vaticano para que os católicos Franco Maçonaria provinha diretamente disso. A partir daí começava a participação do Banco do Vaticano nas atividades, mesmo em controle remoto da Loja P 2.
Quando, portanto, ruiu o Banca Privata Italiana de Sindona, Calvi como membro da Loja P2, do mesmo modo que seu patrão Sindona, iniciou sua ascensão meteórica impulsionada simultaneamente pela poderosa influência secreta da Loja P 2 e do Vaticano. Essa proteção dupla deu a Calvi vigorosas conexões, tanto no mundo católico como no econômico. Estas, por sua vez, colocaram-no em contato com a comunidade bancária e financeira. O resultado foi a rápida aquisição de subsidiárias além mar, no Panamá, a Lischtenstein, Luxemburgo e outras companhias fantasmas na América Central. Suas aquisições equívocas levantaram a suspeita dos banqueiros mias tradicionais. A apreensão geral sobre Calvi fez o resto. O Banco da Itália que estivera seguindo seus deslizes e negociatas, ordenou-lhe que sistematizasse suas variadas operações, colocando tudo sob um único guarda chuva, ou do Banco Ambrosiano.
Quando finalmente, em 1978, como resultado da incerteza geral, o Banco da Itália providenciou uma auditoria completa nas operações de Calvi, notou que as subsidiárias do Ambrosiano, “estavam realizando todos os tipos de operações fora de seu controle”. Contudo, mais perigoso ainda é que os holdings do Ambrosiano não podiam ser separados dos holdings do Vaticano por causa das ramificações financeiras neles interligadas. Além disso, os auditores descobriram uma intrigante conexão com a antigo império de Sindona que havia desmoronado. Daí parecer que certo bispo americano e um certo banqueiro milanês haviam recebido gratificações substanciais ao lidar com o Banco Ambrosiano e outros bancos católicos, segundo foi mencionado. (4)
Entre 1978 e 1979 e então novamente em 81 o Ambrosiano e suas subsidiárias levantaram uma soma ainda maior de dinheiro, cerca de 1,2 bilhão de dólares. Vários bancos emprestaram 800 milhões a essas companhias fantasmas que Calvi havia estabelecido no Panamá e Luxemburgo. Essas subsidiárias fantasmas por sua vez usaram cerca de 400 milhões de dólares para adquirir fundos no Ambrosiano e outras seguridades católicas. Além disso, outros 400 milhões pareciam Ter sido sifonados através dessas mesmas agências para financiar negócios escusos na América latina, muitos dos quais eram usados para sustentar investimentos relacionados à política.
Em julho de 1981 Calvi e alguns amigos dele foram acusados de exportar ilegalmente 26 milhões da Itália durante o biênio 75/76. Calvi foi declarado culpado e pagou multa de 11 milhões de dólares e foi sentenciado a quatro anos de cadeia.
O quartel general da Loja P2 foi devassado e os nomes dos seus membros foram publicados. A descoberta do que muitos dos “irmãos” pertenciam à mais alta elite dos círculos políticos e financeiros, gerou tamanha crise que atingiu o governo da Itália. O caso levou o grão mestre da Loja P2 a procurar um esconderijo.
Sem levar em conta a implosão da P2 Calvi, após receber sua sentença, teve a prisão relaxada ficando em liberdade condicional e logo reativou suas diversas operações. Estabeleceu novas organizações financeiras em Buenos Aires, Manágua, Montevidéu e Lima. Havia rumores de que isso fora realizado com a cooperação total de vários “irmãos” da Loja P2 e do Vaticano, conforme iria declarar mais tarde Michele Sindona, de sua prisão nos Estados Unidos. (5).
As “operações” dirigidas no sentido de adiar o desastre iminente, com toda probabilidade aceleraram o impacto do que iria acontecer em seguida. Credores de dúzias de bancos da Europa e dos Estados Unidos pressionavam pelo pagamento. Calvi pediu ao IOR para ajudar, isto é, para que o Banco do Vaticano pagasse os débitos feitos pelas companhias fantasmas no exterior. Contudo o banco do Vaticano não queria ou não podia fabricar os milhões sumidos. Além do mais, a fim de provar que estava disposto a ajudá-lo, o Bispo Marcinkus muniu Calvi de extraordinários documentos em favor do banco do Vaticano. Esses documentos eram chamados “cartas de consolo”. Essas “cartas” não eram novidade em si mesmas visto como já haviam sido aceitas como prática normal pela comunidade financeira internacional. Fac símile de uma “carta de consolo” emitida pelo IOR em favor do Banco Ambrosiano, anos antes do escândalo Ambrosiano IOR explodir, no verão de 1982. Eis o Fac símile*****
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