sexta-feira, 7 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 59

E contudo, sem levar em conta a loucura da visão de tantas igrejas antigas, símbolos mudos do colapso absoluto da religião organizada da Rússia, um tênue raio de luz brilhou inesperadamente em meio àquela depressiva desolação.

Certo dia quando visitava o Cemitério Nacional de Leningrado, este autor após escutar o repicar dos sinos da igreja, tomou a direção de um grande edifício nas proximidades, no qual entrou. Era uma igreja antiga com uma cúpula de imponente altura, com paredes cobertas de afrescos de rígidos santos, virgens e anjos bizantinos. Vários sacerdotes barbudos estavam oficiando. Os adoradores seguravam pequenas velas, as quais eram colocadas em intervalos sobre uma grade de ferro e estes vez por outra beijavam os ícones antigos, rezando em reverente silêncio.

A cicerone da KGB ao seu lado, então explicou: “o edifício é um monumento cultural, a catedral original foi fundada por Pedro, o Grande”. Em seguida apontando os adoradores ela acrescentou: “sem dúvida, ainda temos alguns focos de superstição. Mas estão desaparecendo rapidamente – o tempo e a educação se encarregarão disso”. Ela falou sem convicção e parecia embaraçada.

Semanas mais tarde há milhares de milhas de distância o autor localizou a única cúpula de ouro de uma típica igrejinha russa próximo ao porto de Sochi, no mar negro (9). No dia seguinte, Domingo, ele e um irlandês de Dublin que desejava assistir a missa, comunista ou não comunista, encontraram-se ali às sete horas da manhã. A igrejinha estava lotada. As mulheres com as cabeças cobertas com véus rezavam com devoção, beijando vez por outra o chão de mármore ou fazendo sinal da cruz em uníssono com o clérigo oficiante. Um coro invisível junto ao órgão entoava cânticos litúrgicos, enquanto um sacerdote barbudo lia os evangelhos e três outros davam a comunhão aos fiéis. A devoção era impressionante, os cânticos do coro ainda mais. O irlandês começou a chorar de emoção. “Nunca havia me sentido tão perto de Deus em toda a minha vida”, ele balbuciou.

Foi uma visão passageira. Pois apesar da música pungente, da esplêndida liturgia ortodoxa e da profunda piedade, havia em tudo um prevalecente sentimento de imensa e terrível resignação. Era uma sensação de que eles, os adoradores, eram apenas tolerados por uma sociedade que rejeitava sua crença, na qual eles não mas tinham qualquer poder, status e influência. Deus fora banido e com Ele a igreja deles. O Estado havia substituído tudo com o ateísmo, Cristo por Lenin e a riqueza pela pobreza. O esplendor e as riquezas haviam desaparecido com também um terço das terras da Rússia, que a Igreja Ortodoxa havia possuído. Agora, despojada de honra, riqueza e privilégio ela nada possuía, nada conseguia e nada mais esperava. Era forçada a viver na mais evangélica pobreza num Estado ateu.

Então quando surgiu o cântico e a congregação se cumprimentava entre si, um sacerdote antigo e asceticamente frágil apareceu segurando uma bandeja d emadeira. O irlandês colocou alguns kopecks – este autor fez o mesmo. Porém logo em seguida lembrando-se de tanta pobreza de uma igreja outrora tão orgulhosa e agora mendiga, ele colocou naquela bandeja um punhado de rubros. O sacerdote antigo admirou-se e então inclinou a cabeça em total quietude. Era o reflexo da tristeza e do castigo da velha Rússia ortodoxa, agora humilhada e fraca, a qual finalmente aprendera sua lição (10).

Mais tarde, em Moscou este autor, certa noite, depois de passear sozinho no centro da cidade, foi dar na Praça Vermelha. Uma lua cheia pendia sob os muros proibidos do Kremlim o maciço mausoléu negro de Lenin parecia solitário e sinistro. As torres douradas e cúpulas em forma de cebola de São Basílio, o oposto da antiga catedral magnificente, pareciam brilhar contra o noturno firmamento de profunda cor violeta naquela meia noite. Encimando a torre mais alta do Kremlim brilhava uma estrela vermelha e colossal cujo tamanho gigantesco se chocava com a insignificância das cruzes da cúpula de São Basílio (11).

Um símbolo terrível e ainda mais terrível por ser uma terrível realidade.

Revivendo os acontecimentos que transformaram a Catedral de São Basílio numa concha vazia e colocaram aquela maciça estrela vermelha acima da cruz, lembro-me da contínua obsessão da Igreja Católica da América em sua febril acumulação de riqueza, prestígio e poder político. Talvez, por causa do estranho silêncio da praça deserta este autor pensando no futuro que aguarda essa igreja, tremeu por ela. Pois, verdadeiramente a igreja mais rica do mundo ocidental ainda não aprendeu tão amargamente aprendida pela sua irmão oriental.

Mamom tornou-se o seu Deus, enquanto Cristo, o pobre, por enquanto para ela não tem passado de um mito.

Capítulo 26

Origem da atual Riqueza Colossal

da Igreja Católica

A atual acumulação espetacular de riqueza da Igreja Católica é comparativamente um fenômeno recente. Como já vimos, ela foi realmente iniciada dentro do que ela considerava um dos crimes mais infames cometidos contra a Sé de São Pedro – sua expropriação dos estados papais pelos italianos, em 1870. Estes incluíam a própria Roma e compreendiam quase 1/3 da península italiana.

Foi então que a Igreja começou a cumular riquezas, segundo a fórmula mundana de sucesso industrial e financeiro, de preferência aos métodos anacrônicos pelos quais o papado manteve a possessão soberana de territórios, que estavam se tornando mais e mais difíceis de obter numa sociedade correndo em direção às complexidades do século 20.

As primeiras pedras fundamentais da cumulação atual de riqueza do Vaticano, contudo não foram colocadas quando o Papa Pio XI assinou o Tratado Laterano com o ditador fascista Mussolini, em 1929, quando o Vaticano renunciou formalmente aos estados papais e aceitou como compensação uma vasta soma de dinheiro, como já foi mencionado. Os planos da Igreja foram estabelecidos por um papa anterior, Benedito XV(1914/1922), durante e após a I Guerra Mundial (1914/1918). Foi ele quem deu origem à política do Vaticano para que os investimentos da Igreja e do papa não se limitassem a considerações políticas e religiosas, mas de preferência que fossem manipulados puramente na base de negócios sonantes, bons, concretos e proveitosos.

A nova fórmula foi posta em operação durante o seu pontificado. O Vaticano naquele tempo não possuía os recursos líquidos que iria receber uma década mais tarde da Itália Fascista, mas possuía milhões suficientes para investir nos mercados mundiais. Benedito XV, a fim de provar que o que entendia como negócio quando promoveu a nova política, prontamente investiu a maior parte do dinheiro do Vaticano. Onde? Sombras dos pontífices cruzados! Em seguridades no império turco. Era o princípio de uma estrada que iria trazer à Igreja Católica as fileiras das corporações importantes bilionárias do século 20.

Em 1929, tempo do Tratado Laterano, o tesouro do estado do Vaticano havia se transformado em fundo oficial, de modo que quando Mussolini entregou mais de um 1.750 milhões de liras (equivalente nesse tempo a 100 milhões de dólares) ao Vaticano, como quitação oficial da questão de Roma, o Papa Pio XI, não menos comerciante do que Benedito XV, investiu a maior parte desta vasta soma , na América, imediatamente após os colapso do mercado. O movimento foi proveitoso, pois depois da grande depressão dos anos 30, a Igreja colheu lucros colossais, quando a economia dos Estados Unidos se refez.

Mas enquanto investia amplamente nos Estados Unidos, o Vaticano foi suficientemente astuto para investir uma boa parte da compensação do Tratado Laterano na própria Itália. Os resultados, de qualquer modo, foram espantosos. Estima-se que atualmente a Santa Sé possui de 10 a 15% do dinheiro e ações registrados na bolsa de valores da Itália.

O valor da riqueza da Igreja Católica na Itália atinge verdadeiramente cifras astronômicas. No final do ano de 1964, por exemplo, o total do seu investimento era de 5.500 milhões de liras. Isso faria o capital total investido por ela em seguridades italianas apenas 5.500 milhões de liras ou 324,5 milhões de libras esterlinas, ou acima de 810 milhões de dólares, nas taxas de câmbio de 1972. Isso atingia. Mas mesmo esta soma assustadora parece carecer de verdade, conforme um jornal factual britânico The Economist.

Pois a riqueza do Vaticano na península italiana não está confinada a dinheiro e ações, mas tem se ramificado segundo já vimos, em vasta propriedade de imóveis e direto ou indireto envolvimento em empresas industriais e comerciais, algumas destas em escala mundial. O Vaticano, de fato, tem tido sucesso em aumentar seu capital inicial dentro da Itália, de modo tão espetacular que The Economist colocou assim: “ele poderia lançar teoricamente a economia italiana em confusão, se resolvesse retirar todas as suas ações repentinamente e colocá-las no mercado”.

Isso foi confirmado alguns anos mais tarde pelo ministro das Finanças Italianas, quando em fevereiro de 1968 ele declarou que o Vaticano possuía ações no valor aproximado de 100 bilhões de liras. Elas acarretaram um dividendo de 3 a 4 bilhões de liras anuais. A soma não incluía os depósitos bancários, títulos estaduais, nem os haveres em vários bancos do Vaticano interligados com empresas internacionais no exterior. Um escritor americano, amigo deste autor, num livro notável e confiável, escreveu que “o capital produtivo do Vaticano pode ser computado entre 50 e 55 bilhões de francos suíços, isto é, 7 a 8 mil bilhões de liras” (2).

O jornal do Vaticano – Osservatore Romano – declarou que esses algarismos eram mentirosos. “O capital produtivo da Santa Sé está longe de atingir um centésimo dessa soma”. Contudo, se esses valores forem divididos por 100, menos 70 bilhões de lira, ainda se pode obter a notável soma de 46 milhões de libras esterlinas, ou 110 milhões de dólares, na taxa de câmbio de 1972.

Talvez fosse isto que o papa quis dizer quando afirmou que “a Igreja católica se apresenta como se fosse... como a Igreja dos pobres”(3).

Sua declaração foi desafiada por muitos católicos. Alguns foram até o ponto de demonstrar-se contra a “escandalosa riqueza da Igreja”. Os padres católicos protestaram nos Estados Unidos, na França e até mesmo na Itália. Em outubro de 1971 esses padre fizeram demonstração na Praça de São Pedro,

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