terça-feira, 18 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 70

O anúncio viera após a reunião de quatro dias com cem cardeais, realizada em Roma em novembro de 82 já mencionada, durante a qual ele declarou sua prontidão para alcançar um entendimento com a Itália sobre a disputada exigência de 1.287 milhões de dólares (reduzida da conta de 1.400 milhões de dólares).

A admissão papal de estabelecer um compromisso levantou mais questões do que se ele tivesse respondido ou parecido resolver. Uma vez que a panela havia descoberto entre coisas, não somente que o IOR estava seriamente envolvido no empréstimo tomado dos milhões em falta através das misteriosas corporações “fantasmas”, como igualmente que ele havia sido o seu “proprietário legal” e também que várias “cartas de consolo” haviam sido emitidas a partir de setembro do ano anterior. E talvez ainda mais interessante que Calvi havia respondido as mesmas com uma “carta de demissão” dele próprio, na qual ele absolvia o IOR de qualquer responsabilidade no empréstimo.

Os estreitos laços entre Calvi e o Diretor do Banco do Vaticano, foi ainda descoberto, existia há anos , quando ambos haviam estado envolvidos em atividades controversas através de outro financista importante – Michele Sindona. O trio Sindona, Marcinkus e Calvi, mais tarde conhecido como a Máfia do Vaticano havia operado junto desde 1972, no tempo em que havia adquirido o Banca Cattolica del Veneto de propriedade do próprio Vaticano. As transações que Sindona, Marcinkus e Calvi haviam manipulado, conforme foi dito, chegavam a centenas de milhões de dólares.

Quando após a derrocada de Sindona, o liquidante oficial do Banca Privata Italiano, um tal de Giorgio Ambrosoli, apresentou o seu registro ao judiciário americano, Ambrosoli testemunhou que pelo menso 65 milhões de dólares haviam sido pagos, provavelmente como comissão a um bispo americano, Marcinkus nesse tempo ainda era bispo) e a um banqueiro milanês (Calvi, nesse tempo estava no Ambrosiano como um protegido de Sindona). Em seu testamento escrito dias antes do seu registro e publicado em 1981, Ambrosoli, ciente do risco que estava correndo, escreveu profeticamente: “Eu deveria pagar um alto preço pelo que me dispus a fazer”.

As partes interessadas, desconcertadas com as suas descobertas concordaram com ele. Decidiram evitar que o documento chegasse às autoridades. Um dia antes dele apresentar os seus papéis, eles simplesmente o mataram (3). Os dois perpetradores do assassinato jamais foram descobertos.

A estreita cooperação entre Calvi e o IOR continuou em anos posteriores. Isso foi provado pelo fato de que em 1975, o IOR escreveu uma carta oficial tentando encobrir as aparições de Calvi, tratando da transferência financeira para o Banco Ambrosiano Além Mar de Nassau. Calvi e o Arcebispo Marcinkus eram naquele tempo Presidente e Conselheiro, respectivamente.

Em junho de 1982, contudo, Marcinkus negou que tinha algo a ver com isso, embora a carta de patrocínio escrita pelo IOR do qual Marcinkus era o presidente fosse datada de 1975, conforme foi visto no fac símile da referida carta nas ps desta obra. (4)

Ainda mais curioso, contudo, era o fato de que tanto Sindona como Calvi haviam estado, por associação, com o Arcebispo Marcinkus estreitamente ligados também com a notória Loja P2. Um dos seus amigos não era apenas Lício Gelli, o Grão Mestre da Loja, que havia sido encontrado, mas também outro maçon importante, Umberto Ortolani. O último tinha estado sempre tão íntimo dos círculos do Vaticano que havia sido feito “Cavaleiro de Sua Santidade, o papa – e também – Cavaleiro do Santo Sepulcro”.

Os três financistas católicos, para resumir, haviam desenterrado um passado cheio de intrigas, muitas das quais ainda estavam sendo remexidas pelos mesmos indivíduos ainda pesadamente envolvidos em atividades financeiras, maçônicas e políticas e uma extensa linha de operações equívocas nas quais o Bancos Internacionais do Vaticano, dos Estados Unidos e da Rússia Soviética haviam participado, ainda quem em controle remoto.

A confirmação mais chocante da última foi que os milhões sumidos começaram a se esvair num desfiladeiro aparentemente sem fundo, principalmente a partir de 1979. Foi esse o ano em que Karol Wojtyla, o papa polonês recém eleito, havia se introduzido ele próprio na Polônia à guisa de visita pastoral como João Paulo II. O resultado de sua visita de oito dias foi o deslanchar de um contundente sindicalismo político revolucionário conhecido como Solidariedade.

O movimento concebido por Wojtyla e patrocinado pela CIA necessitava e recebeu grandes somas de dinheiro. Uma grande parte deste veio de um departamento especial da CIA. O restante, conforme foi declarado, veio da ilimitada generosidade do Banco do Vaticano. Muitos dos milhões sumidos suspeita-se, foram desviados diretamente para a Polônia pelo próprio IOR e seus agentes leigos e eclesiásticos. O “rombo” financeiro cada vez maior na parceria Ambrosiano-IOR havia sido causado não só pela apropriação indébita de mafiosos profissionais, mas muito mais amplamente por subvenções secretas do IOR.

Em 30/06/82, mais de dez dias após Calvi ter sido encontrado morto em Londres, o capital de empréstimo e interesse devido pelas companhias de Luxemburgo, sob o nome código do IOR, isto é, o Banco do Vaticano, era exatamente 1.275 milhões de dólares, dos quais o primeiro pagamento de 50 milhões de dólares havia sido devidos naquele mesmo 30/06/82.

A operação equívoca do IOR e assumido Banco Ambrosiano, dirigida principalmente a um objetivo ideológico de caráter político-religioso, no qual o Vaticano, a Franco-maçonaria e tangencialmente os Estados Unidos haviam estado envolvidos, estivera sob suspeita muito antes da derrocada.

As suspeitas foram levantadas por um número de banqueiros católicos, que haviam estado monitorando as atividades não ortodoxas de ambos. Sua crítica e seus temores produziram um determinado grupo da Lombardia, norte da Itália, a própria região onde o Ambrosiano estava operando, cujo propósito específico era evitar o inevitável iminente desastre do Ambrosiano.

Para esse fim, eles prepararam um documento escrito endereçado a Wojtyla. Eles o haviam preparado, disseram, para salvar o Ambrosiano, não tanto porque ele era o mais importante banco católico, mas também por causa de sua estreita associação com o IOR.

Eles lamentavam, acrescentaram, que ambos fossem co-responsáveis pelas operações de Calvi e negociavam com a degenerada Franco-maçonaria em contato com o próprio Vaticano.

A íntima associação do Vaticano com Sindona, Calvi, Gelli e outros franco maçons, durante os dez últimos anos, além do seu negócio com o IOR, disseram ao papa, tinha envolvido o Vaticano num tal “inbrólio”, como jamais fora visto antes. Em vista disso, eles lhe pediam para dissolver o laço do IOR com os seus atuais associados. A dissolução devia ser a mais urgente possível, visto como o Banco do Vaticano havia se tornado um “sócio mental ativo”, acrescentando uma admoestação extra que o Diretor do IOR, Marcinkus ainda aí estava ativo. De fato, que o Arcebispo tenha sido considerado por outro senão o Banco da Itália como estando na “gerência principal” de todo o perigoso assunto Ambrosiano-IOR com as suas várias corporações fantasmas. (5)

O papa Wojtyla nada fez. O envolvimento do Banco do Vaticano já havia ido longe demais. As maquinações papais, sustentadas pelas suas subvenções financeiras ao movimento trabalhista contra revolucionário na Polônia, àquela altura não podiam mais ser ditados.

Quando a crise do Ambrosiano estava chegando ao clímax, contudo, o Vaticano começou a considerar os vários passos através dos quais pudesse evitar o desmoronamento do Ambrosiano. Esse adianto poderia salvar o IOR. A chave do movimento seria Calvi.

Foi solicitado a Calvi que tivesse um encontro secreto com Wojtyla, algo que foi totalmente negado pelo Vaticano após o “suicídio” de Calvi. O encontro não deu certo por causa dos eventos, nesse ínterim, obrigaram Calvi a fugir de Roma. Antes disso, Calvi havia arranjado também um encontro secreto com o administrador principal do IOR, posteriormente indiciado pela Itália. O encontro fora arranjado para 17/06, um dia antes de Calvo voar para Londres a fim de encontrar o seu “irmão” Carboni.

Que tenham acontecido “sérios” movimentos para salvar o Ambrosiano e, portanto, o IOR, ficou provado por outra descoberta importante. Vinte e quatro horas antes do “suicídio” de Calvi, um consórcio de banqueiros dos Estados Unidos haviam feito uma oferta definitiva para salvar o Ambrosiano-IOR com a entrega imediata de 1.250 milhões de dólares. (6)

O problema financeiro, portanto, embora da máxima seriedade, basicamente podia ser “resolvido”. Principalmente porque além de providencial oferta do consórcio dos Estados Unidos, havia outro movimento de resgate. Descobriu-se que Calvi havia voado até Londres também para fechar um negócio com a super católica organização Opus Dei.

A Opus Dei é uma ordem religiosa semi-secreta cujo principal objetivo é dar completo apoio ao papado com relação aos princípios mais conservadores de doutrinas católicas. Sua devoção a ambos é inigualável. Seus membros t6em se dedicado com sua riqueza pessoal e corporativa a serem instrumentos cegos da Igreja.

Em vista dessa totalidade religiosa, a Ordem achou que era seu dever ajudar o Banco do Vaticano e, desse modo, o papa, a se desvencilharem do impasse Ambrosiano-IOR. Isso poderia ser feito com a obturação do “rombo” criado pelos milhões deles próprios que haviam sumido.

Para a Opus Dei, a Loja P2 não era apenas uma Loja maçônica. Era um corpo maligno com poderosos interesses políticos, atingindo os mais recônditos núcleos da ilegalidade nacional e internacional. Era uma entidade que havia se especializado em intrincadas operações conspiratórias nas quais tinha mergulhado a Igreja, o Vaticano e o próprio papa.

Em sua visão os membros da Loja eram os instrumentos do envolvimento do IOR no desastre. Calvi fora um deles. Como diretor do Ambrosiano, ele havia acelerado a tragédia ao pressionar o IOR a pagar ao seu banco o que, de acordo com ele, o IOR devia ao Ambrosiano. Calvi, de acordo com essa interpretação, havia pedido ao IOR para reter os milhões de dólares que, de acordo com ele, o IOR havia deportado em certas contas numeradas na Suíça. Isso ele fez para salvar o Ambrosiano do colapso iminente, antes do seu vôo para Londres.

O desastre aconteceu quando o IOR recusou-se a fazê-lo, ou porque o dinheiro havia sido “trancado” em contas numeradas das quais outras pessoas tinham os códigos. O Grão Mestre da Loja P2, Gelli conhecia os códigos secretos das contas do Union Bank na Suíça, até setembro de 82, que o

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