sexta-feira, 21 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 73

A eleição de um papa polonês, longe de deter o processo, acelerou-o desde o princípio. O IOR proveu a maior parte do dinheiro disponível  para o propósito de atividades desestabilizadoras favorecidas pela linha política subscrita pelo Papa João Paulo II. Estas operações secretas precisavam de fundos. Um diretor recente  do Banco do Vaticano certa vez disse: “A Igreja não pode ser dirigida apenas com Ave-Marias”. Em outras palavras ela precisa de milhões de mais dólares do que os que a dirigem possam admitir. (2)
Como o Papa Bórgia e sucessivos papas bem sabiam, quanto mais ativa é a sua política, mais dinheiro é necessário para executá-la. Mas enquanto o Papa Bórgia, por exemplo, gastou fortunas colossais com a sua família, os papas contemporâneos gastam somas ainda maiores para promover suas ideologias de estimaçõ ou formas individuais de administração pontifícia. Mais que sempre esses gastos extras são  maiores do que a receita anual oficial do Vaticano. É curioso que nos dias de Bórgia o do Vaticano  era mal balanceado? Exatamente como o do Vaticano de hoje. As queixas de Paulo VI e de João Paulo II referentes à escassez de ganhos soa familiar, apesar de decorridos tantos séculos.
Nos tempos modernos o Vaticano tem dissipado milhares de milhões de dólares em eventuras conspiratórias, a maioria delas de caráter subversivo. Foi isso que o levou à sua prejudicial associação com aventureiros inescrupulosos como Sindona, Calvi e seus apoiadores. Associações desse tipo é que  conduziram o Vaticano à beira do desastre político, de fato, financeiro. E mais de uma vez até mesmo à beira de uma guerra. (3)
A saga Ambrosiano-IOR-Loja P2 em si mesma foi de caráter político sem importância. Contudo, como crise ela se transformou em uma crise de dimensões financeiras verdadeiramente enormes.  Esta aventura monetária do Vaticano apoiada pela bandidagem financeira internacional leiga, prejudicou o seu banco em vastas somas das quais uma grande parte foi usada para deslanchar e apoiar o Solidariedade polonês e os movimentos subversivos na América Latina.
O grande e trágico prejuízo (depletiou) dos fundos do banco foi de caráter sem precedência a tal ponto que o papa decidiu dar um passo inesperado para reabastecer os cofres vazios. Ele “inventou”um Ano Santo fictício. Seu objetivo era a coleta de milhões de dólares através do influxo extra de  peregrinos católicos a Roma, conforme veremos agora.
Nenhum papa Bórgia teve jamais um cinismo tão mundano sob tão direta pressão financeira. Talvez porque os olhos de Bórgia estavam sempre fixos na aproximação do jubileu do Ano 1500.
Um Ano Santo é caracterizado pela piedade maciça, ou melhor dizendo, pelas ofertas maciças. Em outras palavras, é uma forma colossal de fazer dinheiro travestido com capa de religião. O Papa Pio XII o de 1950, Paulo VI, o de 1975. O próximo será celebrado no ano fatídico de 2000. O desastre do IOR quis de outro modo.
Quase 500 anos atrás, Jerônimo Savanarola de Florença, referindo-se à aproximação do Ano Santo 1500, sumariou a verdadeira espectação de que o papa do seu tempo se preocupava com os ganhos monetários do evento. “Eles tocam os seus sinos pelas moedas e pelas velas”ele trovejou. “Eles vendem seus benefícios, vendem sacramentos, fazem o tráfico de missas... ninguém precisa mais se preocupar com as aparências...”
Savanarola falou isso condenando a ambição de Papa Bórgia. Se ele vivesse hoje, teria condenado uma instituição com a qual os papas têm jogado para a multiplicação  de fabulosas somas de dinheiro, isto é, o IOR,  mais conhecido como Banco do Vaticano.
Além de apontar o dedo acusador contra os bispos e cardeais ele teria feito o mesmo, também, contra os depositantes do banco, isto é, todos as ordens leigas e religiosas e instituições que, após acumularem vastas fortunas, as têm guardado nos cofres do banco, apesar dos seu votos de pobreza. E mais, caso o papa se atrevesse “inventar" um Ano Santo não existente com o objetivo específico de coletar milhões dos peregrinos ansiosos para ganhar indulgências, enquanto depositam suas moedas nos cofres de Roma.
O Banco do Vaticano e tudo pelo que ele tem permanecido de pé, seria para Savanarola muito mais abominação do que o próprio Bórgia. O propósito para o qual o referido banco foi criado – a retenção e multiplicação de mais e mais riqueza, com sua equívocas manipulações e subversão política, teriam parecido blasfêmia impossível de ser tolerada por um verdadeiro cristão digno deste nome.
Antes de Savanarola, um antigo cronista ao referir-se a eventos similares não pôde deixar de falar uma verdade que tem sido ignorada pelos cristãos de todas as épocas,a  começar da nossa. “Ninguém pode servir...” certamente ele quis dizer: “Em verdade, em verdade vos digo: ninguém pode permanecer com um pé no céu e outro na terra”. (4)
Este é o comentário exatamente apropriado ao Banco do Vaticano de hoje, uma instituição ativada por contínuas operações finaceiras, incessantes atividades monetárias e febril acumulação de cada vez mais riqueza, em aberta contradição com os sensinos de Jesus Cristo, do qual o papa afirma ser o infalível representante.

Capítulo 34

1983-1984: O Profano Ano Santo, Indulgências, Dinheiro e Idolatria Papal

            A repentina proclamação da Páscoa de 1983 até a Páscoa de 1984 como um  “Ano Santo Especial” espantou todo mundo, desde o Vigário Papal Geral e as várias congregações do Vaticano até o Sacro Colégio de Cardeais no último dos seus encontros de quatro para discutir as finanças do IOR (1). Houve duas exceções: o Papa João Paulo II, que acabara de descobrir essa Santidade e a Associação dos Lojistas de Roma. Ambos esperavam triplicar os 300 milhões de dólares conseguidos durante o jubileu anterior de 1975. Talvez até pudesssem quadruplicar.
Embora nenhum dos cardeais jamais tivessem tido o menor relance disto, logo supuseram o seu verdadeiro objetivo: coletar tanto dinheiro quanto possível dentro do menor prazo possível e com o menor esforço possível para reabastecer os cofres do IOR, da Cidade do Vaticano e da Igreja, respectivamente.
O prefeito comunista de Roma convocou uma sessão de emergência: “Nossa cidade não está preparada para receber um número tão grande de visitantes em tão pouco tempo” ele comentou. “O refluxo vindouro de 10 a 15 milhões de peregrinos vão aumentar nossos problemas que já são quase insolúveis”, ele acrescentou refereindo-se ao débito do Concelho Romano já sobrecarregado com o pagamento de mais de 80 mil dólares por dia em enteressse somente de recentes empréstimos bancários.
Muitos julgaram a promulgação como um dos mais cínicos exercícos e abusis de piedade com objetivos necessários sempre em pauta nos últimos tempos. Os católicos, em geral, embora surpresos, aceitaram passivamente a explicação de que 1983 havia sido escolhido para comemorar o aniversário de 1950 anos de morte de Jesus Cristo. Contudo, os teólogos consideraram esta data com profunda suspeita. Eminentes eruditos bíblicos ridicularizaram dizendo que o aniversário de 1950 anos da crucificação de Jesus não era 1983, como o Papa Wojtyla havia anunciado, mas a Sexta feira Santa de 1986.
Aqueles em completo reconhecimento da inapelável verdade de que o Jubileu tinha sido uma brilhante e inescrupulosa desculpa para recuperar parte do dinheiro perdido pelo Vaticano durante o debacle de 1982, um rompante esforço para repor os milhões que haviam sumido com aqueles que  procuravam coletar durante o “Ano Santo especial”.
Ninguém deixara escapar o fato de que o anúncio viria no mesmo dia em que o papa havia dito  que estava querendo repassar alguns dos muitos milhões sumidos do Banco Ambrosiano-IOR. Também  pouco tempo antes disso, o Ministro do Tesouro Italiano havia mandadao ao Vaticano outro lembrete ameaçador de que o IOR ainda devia os Shareholders  do Ambrosiano mais que um mil milhões de dólares ainda não pagos até esse momento.
A pressão discreta mas constante dos 200 bancos mundiais envolvidos no “imbroglio” de débito-crédito do IOR, mesmo no pano de fundo, não era  menos efetivo. Um boicote global pela comunidade bancária internacional poderia Ter um resultado mais desastroso aobre quaisquer atividades futuras com a Igreja Católica em geral e com as atividades financeiras do amanhã, em particular. Uma vigorosa mobilização do mundo catóico, portanto, havia se tornado não apenas um útil estratagema para resolver a dupla pressão, mas até mesmo uma urgente necessidade.
Quando em conseqüência de tudo isso, o papa Wojtyla anunciou o inesperado Ano Santo, sem qualquer preparação, de fato sem sequer se dar ao trabalho de consultar as autoridades civis de Roma, o prefeito comunista Ugo Vetere, explodiu desgostoso dizendo: “Não temos tempo para piadas”. Roma estava aqui face a face com um problema prático de feroz complexidade: como preparar a cidade para um “profano Ano Santo” . Foi lembrado com raiva que Paulo VI havia dado pelo menos 18 meses de prazo ao anunciar o Jubileu de 1975.
Quando a Santa Sé, acrescentando insulto à injúria apressou o Concelho dizendo que Roma precisava agilizar seus recursos turísticos o mais breve possível, o prefeito de Roma ficou ainda mais aborrecido sabendo que a Associação dos Lojistas era apenas a Segunda maior beneficiária e que o maior mesmo seria o Vaticano. A maioria dos turistas iriam ser “peregrinos” que chagaram em pacotes organizados pela Igreja, hospedados e alimentados em conventos, mosteiros e outras das 1.500 instituições religiosas, com lucros bem altos, todos eles isentos de impostos. A isenção de impostos, é claro, daria pelo menos o dobro, senão o triplo de lucros à Igreja, sem falar nas agências de turismo leigas e religiosas.
O objetivo mercenário do extraordinário “Ano Santo”, tornou-se ainda mais meridianamente claro com os rompantes lembretes dos cardeais, e até mesmo do papa. Os deveres dos peregrinos, disse o cardeal Casaloni eram não apenas buscar indulgências mas também dar “com generosidade”.

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