sábado, 15 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 67

do Ambrosiano. Quando o IOR recusou-se a emitir mais cartas desse tipo, a reação em cadeia foi detonada, culminando com o desastre Ambrosiano /IOR.

Por causa dessa aceitação, as cartas de consolo eram consideradas como garantia de confiabilidade financeira. Elas eram tão confiáveis quanto aqueles que as escreviam. Ao emitir essas cartas o Vaticano havia assegurado aos credores um crédito garantido das companhias fantasmas do Ambrosiano. Isso implicava em obrigação moral com relação a esses débitos. Significavam ainda que o Arcebispo Marcinkus assumira inteira responsabilidade pelos mesmos.

Cinco dias antes Calvi havia se dirigido ao IOR com um documento dele mesmo. Este era chamado uma “carta de liberação”. Com efeito a “carta de liberação” negava a “carta de consolo”. Isto é, isentava o Vaticano de qualquer responsabilidade pelas companhias envolvidas. A carta jamais foi levada ao conhecimento dos bancos latino americanos do Ambrosiano que haviam emprestado o dinheiro às firmas fantasmas de Calvi.

O arranjo entre Calvi e o banco do Vaticano, para resumir, foi uma conspiração deliberada no sentido de sustentar dados fundamentais dos principais bancos dos empréstimos. Mais tarde o Vaticano negaria Ter qualquer coisa a ver com as companhias fantasmas, eximindo-se de toda a responsabilidade pelo “sumiço” de mais de um bilhão de dólares emprestados. Isso ele fez mesmo após Ter o governo italiano insistido em que as conexões do IOR com o Ambrosiano provavam o contrário. Registros de que o Vaticano controlava e, de fato, era proprietário, mesmo que tangencialmente de pelo menos dez das agências fantasmas foram negados com veemência como sendo falsos rumores.

As “cartas de consolo” do Arcebispo Marcinkus e as “cartas de liberação” de Calvi trouxeram confiança passageira, tanto para o Ambrosiano como para o IOR. Apesar destas, contudo, a tempestade se aproximava com furor. Uma vez que o fato de que as subsidiárias fantasmas ainda possuídas pelo Ambrosiano de cerca de 1,2 bilhão de dólares, os 800 milhões que ele havia emprestado, mais 400 milhões de interesses lá estavam para que todos vissem. A dura realidade não chegaria longe. Como a pressão tivesse fortemente aumentado Calvi se aproximou mais uma vez de Marcinkus querendo renovar suas “cartas”. Marcinkus recusou sob a alegação de que não poderia comprometer o IOR.

Entrementes o Banco da Itália havia renovado o seu pedido de mais informações sobre os grupos ambrosianos de subsidiárias estrangeiras. Em 31.05.82, ele declarou necessitar de dados exatos sobre os 1.400 milhões de dólares de empréstimos. Logo em seguida o Arcebispo Marcinkus, depois de consultar o papa (João Paulo II), renunciou inesperadamente ao cargo de diretor da agência do Ambrosiano de Nassau, a qual tinha a chave de todos os demais empréstimos . A demissão acelerou o pânico já crescente no meio de toda a comunidade financeira européia. Dúzias de bancos respeitáveis que haviam “emprestado” dinheiro, a começar do Midland Bank of England, ameaçaram cobrar os empréstimos muito altos que haviam feito ao Ambrosiano. Outros bancos respeitáveis, tais como o poderoso National West Minister Bank of London ameaçavam agir do mesmo modo. Dúzias de outros bancos prometiam também fazer o mesmo. Todos eles queriam saber o paradeiro do dinheiro e pressionavam o Ambrosiano pelos pagamentos adiados por muito tempo. Seu alvo principal, o Ambrosiano. Não podia nem queria dar qualquer explicação satisfatória. Nessa altura o banco do Vaticano foi ignorado por causa da crença geral de que ele tinha pouco ou nada a ver com as companhias fantasmas.

É óbvio que o Ambrosiano fora a bancarrota. Quem havia estado por trás dele ou que havia causado a sua falência. Seria possível que o Vaticano escondido atrás da cortina do IOR conforme os rumores estivesse envolvido em todo o negócio mais do que se acreditava a princípio? Era óbvio que a chave de toda a verdade estava nas mãos de dois homens – o Presidente o Vice- Presidente do Banco Ambrosiano. Estes poderiam dar os nomes das pessoas misteriosas que haviam se apropriado dos milhões destinados às companhias fantasmas panamenhas”.

Robert Calvi, que estava nesse tempo em Roma, onde tinha dois “encontros vitais” dentro e fora do Vaticano, de repente ficou indisponível ou não podia falar, ou evitava qualquer outro contato porque temia por sua vida. Seu receio se acentuou com a piora da situação, a pressão do Banco da Itália, a recusa de ajuda do IOR, as ameaças veladas de forças hostis das quais estava cercado. Isso não passava de imaginação. Eles o haviam obrigado andar com pelo menos uma dúzia de guarda- costas, onde quer que fosse. Mesmo antes de sua ida a Roma, ele já havia despendido mais de 1 milhão em sua segurança pessoal.

Robert Rosoni, vice-presidente não tinha esses temores. Contudo em 27/04/82 suas pernas foram alvejadas por um pistoleiro profissional. O pistoleiro, por sua vez, foi alvejado e morto no mesmo dia por desconhecidos. A situação parecia desesperadora. Após tentar contactar mais uma os misteriosos homens do IOR, de repente sumiu de Roma, em 15/06/82.

Dois dias depois, 17/06/82, de volta a Milão, os diretores do Banco Ambrosiano votaram pela expulsão do seu cargo. O Banco da Itália nomeou um comitê para intervir no Ambrosiano, num esforço de descobrir a verdade sobre o mistério do desaparecimento de 1.400 milhões de dólares.

Apenas algumas horas depois do dia 17/06/82 Graziella Corrocher, a fiel secretária suíça, há muito tempo confidente de Calvi saltara para a morte do 4º andar do Edifício Ambrosiano em Milão deixando uma nota de “suicídio”. Graziella conhecia todos os segredos de Calvi, não apenas os segredos do Ambrosiano, mas também os do IOR e da Loja Maçônica P2. De fato ela conhecia os segredos destas três entidades e talvez muito mais. Se ela falasse ou se fosse forçada a falar o mundo inteiro teria desabado sobra as cabeças de muitas pessoas eminentes na comunidade financeira dentro do Vaticano, na Itália e no exterior. Portanto era muito mais seguro para todos que ela estivesse morta.

Capítulo 31

O homem sob a Ponte Blackfriars.

O sumiço de 1,4 bilhão e a morte de um cardeal

Logo cedo, na manhã de 18/06/82, um homem foi encontrado enforcado sob a ponte Blackfriars em Londres. Em seu bolso havia 1400 dólares, um passaporte e um visto para o Brasil e vários tijolos. Também uma lista com vários com vários nomes.

A polícia baixou o corpo e tendo identificado o morto, encerrou uma caçada de nove dias. Ou pelo menos assim pensava. O negócio havia começado na Itália em conexão com o súbito desaparecimento do homem em Roma, onde se esperava que ele comparecesse diante da corte judicial por um apelo de 4 anos de sentença por exortação ilícita de dinheiro. Menos de 24 horas antes, a confidente de sua vida havia cometido dramático suicídio.

Seu nome: Robert Calvi, o “Banqueiro de Deus” ex-presidente do Banco Ambrosiano.

Os tijolos em seu bolso tinham sido colocados claramente com a intenção de dar uma significação ritualística à morte de um “irmão” que havia infringido, ou estava quase a infringir, as regras de sua Loja. A escolha da ponte, também. Black a primeira palavra de Blackfrias era a cor da vestimenta do ritual negro, do capuz da Loja P2, usado pelos membros em seus encontros oficiais. Friars (frades) era como os membros da loja se autodenominavam. Os tijolos eram, sem dúvida, o símbolo da Franco-maçonaria. A lista continha nomes da Loja P2.

As autoridades, tendo rapidamente descartado a impressão de um clássico suicídio, suspeitaram de assassinato. No dia 28/07, um inquérito oficial, contudo, chegou a uma conclusão contrária. Um júri britânico de obtusos investigadores decidiu que Robert Calvi havia, de fato, se suicidado.

O veredicto foi logo confrontado. Não só pela família de Calvi e seus associados íntimos, mas igualmente por outros na Inglaterra e na Itália. Alguns acusaram os investigadores de saber muito bem o que “realmente” acontecera. Outros declararam que o júri havia sido indevidamente influenciado por um magistrado que os “irmãos” da Itália haviam contatado antes do inquérito. As acusações jamais foram provadas, embora os últimos fatos relativos ao morto, antes e depois de sua estada em Londres, apontassem a teoria de uma bem planejada “execução”.

O absurdo da conclusão do júri era tão auto-evidente que a especulação sobre isso tenha sido que uma desnatural substituição judicial fora largamente aceita como a melhor alternativa, exceto em certos quartéis localizados na maioria na cidade de Londres, o centro financeiro mais influente do mundo.

Um exame mínimo dos fatores relacionados com o “suicídio” prova logo o absurdo do julgamento do júri de Londres. Calvi voou de Roma para Londres só para se enforcar sob a ponte, sinistramente chamada Blackfriers. Na noite seguinte, após sua chegada para agir assim, ele deixou um flat alugado, andou quatro milhas ao longo do Tamisa, até uma alta ponte, embora sofresse de vertigem. Ao chegar lá, ele ficou sob essa mesma ponte escapulindo para um andaime que não podia ser visto diretamente do topo (este autor, após o suicídio não podia, como outros não podiam).

Em seguida, tendo cruzado a ponte para um local de construção, encheu seus bolsos de tijolos, novamente desceu 20 pés para um nível mais baixo, com água e no escuro pulou sobre um vão, até um oscilante palco de madeira, apanhou um pedaço de corda, convenientemente flutuando na correnteza, atirou-se para cima das extremidades do andaime, amarrou uma ponta à outra extremidade do mesmo, a outra em seu pescoço, botou mais tijolos nas calças e então se arremessou no espaço seus pés tocando a água do rio.

Quando confirmado por este prisma, está claro que o “suicídio” não foi outra coisa senão um assassinato premeditado. Como já foi indicado, a escolha da ponte com seu nome esquisito e conotações simbólicas davam indicação óbvia de que não podem ter sido outra coisa. A Blackfriers Bridge, portanto, como simbolismo, desejava propositadamente contar uma história aos “irmãos” que Calvi tinha ou poderia ter colocado em perigo, caso lhe fosse permitido contar os seus segredos. Em resumo, os votos sussurrados que o haviam ligado à Loja haviam sido executados literalmente. Como um traidor em potencial, ele fora naturalmente morto, de maneira macabra como lembrete a todos os outros “blackfriers” de que qualquer um que se atrevesse quebrá-los, teriam a mesma sorte.

Alguns dias após o “suicídio” 21/06, o Banco da Itália, preocupado com a dimensão do impasse financeiro do Ambrosiano, nomeou três comissários para esclarecer o verdadeiro estado dos negócios.

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