domingo, 16 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 68

Também para traçar os principais elos com associados financeiros suspeitos. Um deste revelou ser o IOR, isto é, o Banco do Vaticano. E muito mais interessante é que o IOR havia sido o principal sócio do Ambrosiano.

O Banco da Itália informou ao governo sobre essa descoberta. O governo italiano, então (06/07) pediu formalmente ao Vaticano – através do Ministro do Tesouro – para aceitar o débito do Ambrosiano. Para mostrar sua boa vontade, o Banco e o Governo (10/07) encorajaram os seis maiores bancos italianos a ajudar a resolver o problema do colossal “rombo” financeiro no Ambrosiano. Ao mesmo tempo pediu que o Vaticano investigasse o papel desempenhado pelo seu próprio IOR. O Vaticano, sobrecarregado pela crescente especulação sobre sua parte no assunto, em seguida nomeou três católicos praticantes para investigar os laços financeiros do IOR com o falido Banco Ambrosiano. Simultaneamente a tudo isso, dois grandes Bancos Britânicos, o Midland e o National Westmisnster, logo seguido por outros, encontraram falta sobre os empréstimos (locais) aos holdings do Ambrosiano em Luxemburgo o qual havia levantado 450 milhões de dólares. Segundo os movimentos o Banco da Itália, apoiado pelo governo italiano, disse ao Vaticano para representar claramente e assumir a responsabilidade do IOR referente ao ressarcimento de 1.400 milhões de dólares conectados aos misteriosos empréstimos das companhias fantasmas de além mar. Como resposta, o Vaticano, para surpresa de todos os envolvidos negou ter qualquer coisa a ver com as companhias “fantasmas”, ou seja, o sumiço dos 1.400 milhões de dólares.

Logo em seguida, a Itália acusou a Inglaterra de uma cobertura maciça. Informações vitais sobre o “suicídio” de Calvi. Daí a interrupção das investigações. O caso contudo, foi novamente ativado um ano mais tarde, quando um novo julgamento foi levado em Londres, seguindo-se o veredicto majoritário de “suicídio”, o qual, entrementes, tinha sido esmagado pela Alta Corte. Após sentarem-se por duas longas semanas através de detalhada evidência, o segundo júri devolveu um veredicto aberto em 27/06/83. O mistério de quem matou o “Banqueiro de Deus” permaneceu na mesma, o culto, quando o Lord Chefe da Justiça declarou: “é uma concatenação de intrigas financeiras” (London Times, 28/06/83).

É óbvio que a ação havia sido executada por criminosos profissionais. De fato até foi suposto que o trabalho subterrâneo de homens britânicos e americanos estava envolvido. A sugestão, embora aparentemente improvável, contudo não parecia tão absurda assim, visto como o governo italiano, em sua tentativa de penetrar a “espessa teia de aranha” gerada pelas empresas “fantasmas” de Luxemburgo e suas filiais na América Latina foi “boicotado” ativando a sua investigação. Seus oficiais até se haviam tornado o alvo de “ameaças veladas” conforme foi admitido oficialmente no Parlamento do Ministro do Tesouro da Itália. (1)

Investigações adicionais, contudo, tendo descoberto estreitos laços entre o Ambrosiano e o Banco do Vaticano, trouxeram mais provas ao fato de que o Ambrosiano e o IOR haviam sido “parceiros de fato”. O Vaticano negou a acusação dizendo que não tinham fundamento. O Ministro da Itália, Andreaza, foi contra acusado por declarar que o Vaticano havia participado em dúzias de transações no sentido de desviar somas imensas do Banco de Calvi. De fato, ele acrescentou que a maior parte de 1.400 milhões de dólares havia sumido em empréstimos feitos a várias companhias “fantasmas” panamenhas e outras. Estas eram controladas e até pertenciam ao próprio IOR. Toda a transação havia sido garantida pelas “cartas de conforto” do IOR.

Para frisar mais o ponto, o Ministro declarou então que o Arcebispo Marcinkus, Diretor do Banco do Vaticano, além de Ter sido sócio de Calvi nos negócios também havia estado na direção das subsidiárias ocultas de Nassau. A disputa eventualmente foi entregue ao Secretário de Estado do Vaticano, o qual apontou três financeiros leigos importantes para acertar a confiabilidade do IOR, conforme vimos.

Entrementes os principais bancos envolvidos no assunto acharam por bem discutir a relação Ambrosiano-IOR-Luxemburgo e sua responsabilidade no sumiço dos 1.400 milhões de mepréstimos. Resultado: um frio reconhecimento de um desastre ainda maior: desfalque de mais de 200 milhões de dólares pelos principais bancos da Alemanha Ocidental, Grã Bretanha e Suíça, devido principalmente a empréstimos às subsidiárias de Luxemburgo. Os 250 bancos haviam emprestado “coletivamente” 400 milhões de dólares.

Quando os duros fatos emergiram e envolvimento do IOR no desastroso assunto ficou mais patente, o Vaticano começou a admitir, embora relutantemente, uma “responsabilidade parcial”. Em seguida, quando foi comprovado que pelo menos sete das companhias “fantasmas”, muitas das quais ligadas a Luxemburgo, eram “controladas” e de fato até pertencentes ao IOR, ele finalmente admitiu possível responsabilidade (2). Tal responsabilidade, contudo, ele declarou, somava apenas 250 milhões dos 1.400 milhões de dólares sumidos.

A Itália havia pedido ao Cardeal Casaroli para revelar o que os “três homens sábios” haviam descoberto. Para impressioná-lo com a seriedade de sua exigência, ela começou por indiciar os dois mais altos oficiais do próprio IOR, com acusações de outro escândalo bancário, o colapso de Sindona, em 1974.

Não contente com isto, sugeriu que se o Arcebispo Marcinkus deixasse a Cidade do Vaticano, ele seria logo preso como cúmplice. À justificativa para essa prisão foi dada maior validade pela intervenção do próprio Sindona, ex finanacista do Vaticano, o qual da prisão nos Estados Unidos apresentou a declaração de que Marcinkus havia recebido 20 milhões de dólares de comissão, ao lidar com operações duvidosas com vários bancos ligados ao Ambrosiano (3). Seguindo as palavras com ação, a Itália enviou, então uma subpena formal ao próprio Arcebispo Marcinkus que já se encontrava virtualmente preso dentro da Cidade do Vaticano. O documento foi rejeitado sem ter sido aberto, sob a alegação de que deveria ter sido enviado por vias diplomáticas.

A Itália, então, acusou o Vaticano de ter “ocultado intencionalmente” do Banco da Itália os fatos relevantes da verdadeira relação desse banco com o Ambrosiano. E muito pior, das companhias “fantasmas”. Em seguida informou à Santa Sé que havia encontrado mais um rombo de 280 milhões nas contas do Ambrosiano-IOR. Por tudo isso, o Vaticano era responsável por pelo menos 766 milhões de dólares sumidos entre os 1.400 do Ambrosiano.

Inesperadamente surgiram rumores de que o papa estava pronto para assumir um compromisso secreto. O resultado foi dito, do encontro de uns cem cardeais em Roma, onde os problemas do IOR foram discutidos. Também foi sugerido, graças à oferta de auxílio financeiro que havia chegado da Opus Dei, uma organização poderosa, rica e meio secreta que João Paulo II havia patrocinado desde que se elegera papa, conforme veremos a seguir.

Enquanto tudo isso acontecia, um grupo de sete bancos italianos, numa brava tentativa de reerguer o Ambrosiano, aplicaram no mesmo vigorosa injeção financeira, ressuscitando-o como o nome de Nuovo Banco Ambrosiano. A operação de resgate não era nova. No princípio do ano, outro grupo dos Bancos Lombardo, todos estritamente católicos, haviam emitido um documento admoestando o papa sobre o iminente desastre, conforme veremos no próximo capítulo. O Ambrosiano e, desse modo, o IOR, disseram ao papa, estiveram negociando com a Franco-maçonaria. Calvi e o Arcebispo Marcinkus eram associados com a notória Loja P2 e suas operações sombrias. Isso levaria ao descrédito da Igreja. (4)

Entrementes, antes e depois da formação do Nuovo Banco Ambrosiano, o Promotor Público de Milão havia emitido uma ordem de prisão contra dois maçons importantes, Lício Gelli e F. Carboni. A acusação era de cumplicidade em falência fraudulenta.

Enquanto determinado a indiciar o Arcebispo Marcinkus, a Itália simultaneamente avisou a Suíça da iminente visita de dois homens importantes da Loja P2, cujo objetivo era a retirada imediata de fundos depositados em duvidosas contas bancárias numeradas. O grão mestre da loja P2, Lício Gelli, foi para a Suíça conforme predito, e tentou sacar 60 milhões de dólares. Foi detido imediatamente pelas autoridades de Genebra. A prisão causou um alvoroço, visto como o segredo tradicional de um banco suíço parecia ter sido infringido. Contudo, a equívoca identidade, tanto dos depositantes e a maneira pela qual estavam em vias de ser sacados por um membro da Loja P2, obrigou as autoridades suíças agirem assim. O Ambrosiano-IOR havia sacudido até as fundações e a comunidade bancária da Europa Ocidental. Essa, incluindo a Suíça. A seriedade do assunto foi que as mais respeitáveis instituições do mundo ocidental estiveram todas interligadas com o “imbroglio” Ambrosiano-IOR, através das atividades equívocas com a Franco-maçonaria, com o Vaticano, com a subversão política na Europa Ocidental e com as Repúblicas da América do Sul.

Por causa dessas conexões potencialmente perigosas, portanto, a identidade dos milhões depositados nos bancos da Suíça tiveram primeiro de ser identificados antes de serem sacados por quaisquer exigências potenciais.

O Grão Mestre da Loja P2 havia tentado retirar 60 milhões de dólares de fundos que, dizia-se, haviam sido colocados lá por vários “associados”. Dentre eles estavam as várias companhias “fantasmas” e, portanto, por associação, o IOR ou Banco do Vaticano, o Ambrosiano e os membros da Loja P2.

A sabedoria da cautela suíça foi confirmada por ,ais uma Segunda tentativa de retirada. O “irmão” maçon Carboni, amigo do Grão Mestre também tinha ido à longínqua Suíça para uma silenciosa retirada de uma porção de contas bancárias numeradas. Carboni era o “irmão”da Loja P2 que havia ajudado a misteriosa viagem de Calvi a Londres, via Veneza, Áustria e, finalmente, Inglaterra, onde futuramente a ele se juntaria durante um período de tempo virtualmente certo, logo antes do “suicídio” de Calvi.

Após a morte de Calvi, Carboni voou para Edinburgo, um notório centro maçônico e de lá, em avião particular, para a Suíça, onde tentou sacar um recôndito número de milhões de dólares. Ele foi discretamente detido perto de Lugano, quarenta e dois dias após a morte de Calvi, não longe do mesmo banco o executivo havia cometido “suicídio”, atravessado na linha ferroviária, quando acusado da desastrosa especulação financeira.

A detenção levou à descoberta de um fato interessante: cerca de 100 milhões de dólares do Ambrosiano haviam sido depositados secretamente em várias contas numeradas no Union Bank of Switzerland (Banco União da Suíça), em Genebra. A partir da prisão dos dois maçons, a Suíça congelou todos os seus fundos pendentes de esclarecimento com respeito à sua legalidade.

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