quinta-feira, 6 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 58

Os dois extremos parecem ser os jesuítas e seus contrários, os palotinos. Os belicosos jesuítas, cerca de 8.000 só nos Estados Unidos, dos 35 mil da ordem, entre 1983 e 1984 aumentaram seus ganhos entre 300 e 350 milhões de dólares e eram os controladores, mesmo que tangencialmente, do maior banco do mundo o Bank of América.

Os mais pobres, os padres palotinos, com apenas algumas centenas de padres em cinco províncias dos Estados Unidos, tiveram bastante energia para exceder qualquer outra ordem mendicante. Entre novembro de 72 e novembro de 1975, para dar um exemplo chocante, eles “pediram esmolas”, através de 270 milhões de cartas enviadas no sentido de coletar fundos. Só de correio eles gastaram 5 milhões de dólares (1).

Os peritos em coleta de fundos estimaram que as 106 milhões de cartas enviadas em 1974 renderam à ordem entre 10 e 15 milhões de dólares em “doações” voluntárias. Embora sendo uma das menores ordens religiosas, os palotinos, que “vivem de esmolas"” construíram um impressionante império financeiro. Uma auditoria feita em 1974 e 1975 mostrou que a ordem usou apenas 74% de 20 milhões coletados para “missões”.

Multiplique-se isto por centenas e a riqueza corporativa dessas ordens “mendicantes”, cerca de quinhentas alcança proporções astronômicas. Isso, deve-se notar, sem se adicionarem as centenas de subsidiárias culturais, empresas comerciais e semelhantes, ligadas financeiramente às mesmas direta e indiretamente.

As dioceses católicas, embora não afirmem qualquer voto especial de pobreza, por outro lado, individual ou coletivamente não ficam muito atrás de suas “irmãs pobres”, conforme foi examinado em capítulo anteriores. Um dos exemplos mais típicos é o da arquidiocese de Hartfort, que costumava possuir mais terra do que o próprio estado de Connecticut. Com um valor de mercado de 350 milhões de dólares entre 69 e 70, mesmo que tangencialmente, por causa da erosão inflacionária, seu valor chegou a cerca de 450 milhões de dólares em 1983/84.

O que admira é que a Igreja não é somente mais rica do que realmente aparenta, considerando a obsessão da hierarquia dos Estados Unidos pela aquisição, produção e multiplicação da riqueza.

O arquétipo dessa hierarquia americana foi o sacoleiro de dólares, cardeal Spellman, obcecado pela “mania de construir edifícios”, uma típica aflição comum a todo o clero americano, conforme foi indicado anteriormente. Quando Spellman foi empossado em Nova Iorque foi sobrecarregado com um débito de 28 milhões de dólares.

Em pouquíssimo tempo, mesmo com uma despesa de 50 milhões de dólares, a diocese de Nova Iorque transformou Spellman no maior construtor de edifícios, secundado apenas pela própria municipalidade, na diocese mais rica, não apenas da América, mas também de todo o mundo católico e o maior contribuinte da “Moeda de Pedro” como já foi visto.

Entre 1939 e 1967, ele investiu cerca de 150 milhões de dólares e contabilizou uma média de dólares (500 milhões) em novas construções.

Outro cardeal digno de Spellman, foi o cardeal Francis McIntire, de Los Angeles, um inveterado corretor da bolsa. Ele sobrepujou o próprio Spellman em matéria de esperteza.

Não menos típico foi o Cardeal Cushing, que afirmava poder sobrepujar seus dois confrades em matéria de esperteza, em seu próprio jogo, isto é, acumulação de propriedades, o que realmente conseguiu. O Cardeal Cushing se gabava de que em 26 anos de ofício havia coletado U$350 milhões. Ele costumava declarar o seguinte: “isto dá 37 mil dólares diários ou apenas 25 dólares por minuto”. Seu registro de levantamento de fundos não foi igualado em seus resultados como foram a velocidade da luz.

Em 1962 Robert F. Kennedy, então Procurador Geral, perguntou-lhe se podia conseguir um milhão de dólares dentro de 24 horas. O cardeal prometeu telefonar-lhe de volta. Naquela mesma tarde lá pelas seis horas, Cushing disse a Kennedy que o milhão lhe seria entregue naquele mesmo dia.

Quando precisava de dinheiro, Cushing usava a falsa persuasão e opressão através de ameaças. Ele incitava o seu rebanho a competir com outras dioceses. Certa vez ele disse que enquanto Chicago havia coletado U$45.000.000, Nova Iorque, U$39.000.000, Brooklin, U$38.000.000, Boston tinha obrigação de ultrapassar um tanto e coletar pelo menos U$50.000.000. O que realmente foi conseguido.

A riqueza adicional recebida anualmente pela Igreja Católica não pode ser computada corretamente em razão de sua natureza secreta. Contudo, ela tem sido estimada, em quartéis conservadores que alcança entre U$700 milhões e 1,5 bilhão de dólares anuais, todos isentos de impostos.

Além do mais, a Igreja é também o recipiente de um recôndito, mas contínuo fluxo de doações em dinheiro e bens imóveis dos generosos benfeitores católicos, alguns deles pertencentes às famílias mais ricas dos Estados Unidos.

Então existem as caridades católicas patrocinadas por pessoas e corporações filantrópicas que fazem generosas doações conhecidas e muitas vezes anônimas.

Os números totais dessas contribuições, anuidades, terras, edifícios e moeda corrente têm sido estimados em outro 1,5 bilhão de dólares anuais.

Mas sem enumerar indivíduos ou simples detalhes de sua riqueza, conforme representada pela sua multivariada dominação financeira, como já fizemos nos capítulos precedentes, uma simples olhada sobre algumas das características e feições ajudariam a avaliar a massa do seu poder financeiro.

A Igreja Católica em Washington D.C. por exemplo possuía ou costumava possuir até recentemente, 60% de toda isenção de imposto territorial, além do sustento através de agências federais. Os bens imóveis da Igreja Católica em Washington D.C. correspondem ou correspondiam, até pouco tempo atrás a 3 vezes a área da cidade do Vaticano.

Em 1983 a Igreja Católica possuía mais propriedades do que qualquer outra organização particular em todos os estados unidos Ela perdia somente para o governo federal na aquisição anual de bens imóveis.

A Igreja Católica é a mais rica de todas as denominações religiosas da América. Ela controla mais terras do que o próprio Vaticano no resto do mundo. Seus haveres combinados nos Estados Unidos e no Canadá têm sido calculados em U$ 120 bilhões, com um imposto cumulativo de 14 a 15 bilhões de dólares ao ano.

Um perito em riqueza da Igreja e do imposto de renda nos estados Unidos descobriu que antes de 1973/74 a Igreja e suas subsidiárias tinham uma renda superior a 9 bilhões de dólares. Ela gozou isenção de impostos imobiliários em cerca de 75 bilhões de dólares e estes haveres totalizavam um valor de 170 bilhões de dólares (4).

Foi estimado que de 1983 a 1984 esses algarismos cresceram de 10 a 20%, transformando a Igreja Católica em séria competidora industrial dos conglomerados gigantes de todo o país americano. Nem mesmo o Vaticano pode comparar-se com essa ponderabilidade financeira.

E não é tudo. Potencialmente a Igreja tem ao seu dispor a boa vontade de 55 a 60 milhões de católicos, cuja característica, além de sua lealdade religiosa é a generosidade sem precedentes com a sua igreja. O moto destes, conforme colocado por um entusiástico bispo coletor de fundos é este: “Pray, Pay and Obey” (Rezem, Paguem e Obedeçam), que é o resumo mais perfeito da exclusividade da imensa riqueza da IC dos estados Unidos atualmente.

Outra igreja que operava com a mesma obsessão era a Igreja Ortodoxa Grega da Rússia Imperial que um dia também foi financeiramente onipotente como é agora o Catolicismo nos Estados Unidos. Ela foi levada ao desastre sob o imenso peso de toda a riqueza que havia acumulado durante séculos.

Sua pujança financeira se esvaiu junto com a ordem social que lhe havia permitido florescer até chegar ao ponto em que chegara, quando o “César – papismo” – isto é, a identificação da ortodoxia com czarismo e sua riqueza mamônica em terras e bens imóveis – ruiu fragorosamente, transformando-se em pó. A longa identificação da igreja da Rússia com a riqueza e o poder do sistema que a sustentava provocou a ira dos descontentes e finalmente conduziu-a à ruína.

Desse modo, não apenas muitos das suas esplêndidas igrejas e catedrais foram destruídas, fechadas e transformadas em frios museus, o seu clero aprisionado, perseguido e exilado, como até o próprio Deus foi “banido” de todos os povos que a Igreja Ortodoxa fora encarregada de conduzir em humildade e pobreza evangélicas.

Hoje, o Catolicismo dos Estados Unidos, ao aliar-se com o “dólar-papismo”, isto é ao identificar-se com o poder financeiro do dólar, parece estar seguindo as mesmas pegadas da Igreja Ortodoxa Russa. Ao cometer a tolice de confiar em sua imensa riqueza identificando-se com o César-papismo da Rússia Imperial tornando-se a causa principal de sua própria destruição (5).

A história tem tido sempre a característica de repetir-se. A desapropriação da Igreja Católica nos séculos passados, desde a Reforma Protestante, até às Revoluções Francesa e Mexicana, conforme foi visto em capítulos anteriores, e doloroso é lembrar, que tentar servir ao mesmo tempo a Deus e a Mamom, sempre resultou em completo desastre.

Quando as igrejas se transformam em casas de câmbio e o seu clero fica sempre consultando os boletins financeiros da Wall Street, em vez dos evangelhos, como acontece nos Estados Unidos, então elas já estão se preparando para uma reprise do que aconteceu na ortodoxia russa, desde a Revolução Bolchevista, quando se fecharam em conchas, convertidas em curiosidades históricas, locais de shows de cultura ou centro anti-religiosos (6). De fato, várias delas se transformaram em museus do ateísmo, como a antiga magnificente Catedral de Santo Isaque, bem no coração de Leningrado (7).

Outra não menos esplêndida igreja naquela cidade foi até mais longe. Para incrível espanto deste autor, certo dia, quando ele ocasionalmente entrou no antigo edifício eclesiástico em estilo renascentista, deparou-se, frente a frente, com um enorme retrato de Lenin, colocado exatamente no lugar onde antigamente ficava o altar principal, dentro de uma igreja completamente vazia e pintada de branco. O moto da teologia da libertação na América Latina é: “onde está Lenin aí está Jerusalém”, veio à mente do autor, já não mais como um slogan retórico, mas como a dura realidade. A realidade de uma sociedade sem Deus, a qual tendo vencido a igreja há tanto obcecada por Mamom, agora havia substituído a mesma por um profeta bolchevista, proclamando-o como o legítimo salvador do povo russo.

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