terça-feira, 11 de maio de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 63

Sucesso gera sucesso e agora Sindona, mais confiante do que nunca, se aventurou fora da Itália para um paraíso fiscal, o Lishtenstein. Ali estabeleceu uma companhia de holding como ex vice Presidente da American Crucible Co.

A transferência provou ser tão benéfica que Sindona se atreveu a aproximar-se dos bens conhecidos bancos particulares – o Continental illinois National & Trust Co. of Chicago e do Hambros de Londres, com os quais ele entrelaçou o seu próprio Banca Privata Finanziara.

Assim aconteceu e certamente foi surpresa para ele que o banco tivesse laços muito fortes com o departamento financeiro mais importante do Vaticano, o IOR, Instituto para Obras Religiosas, um canal para qualquer pessoa transferir dinheiro anonimamente da Itália.

Sindona era o homem ideal, visto que tinha o hábito de guardar segredo sobre tudo o que fazia, e especialmente sobre as operações financeiras discretas dos eu cliente – o Vaticano.

Observadores astutos, contudo, logo notaram o quanto ele próprio se beneficiava, através do seu mais augusto cliente, sempre que fazia um negócio. Contudo, por causa da natureza da maioria de suas operações clandestinas era impossível substanciar a acusação.

As atividades de Sindona podiam e conseguiam prejudicar amigos e inimigos, do mesmo modo, não excluindo o Vaticano, onde corriam rumores de que nem o próprio papa jamais conseguia ter certeza de quanto o seu principal conselheiro financeiro estava operando em favor das Igreja, dele próprio, ou de ambos simultaneamente.

Portanto quando tais rumores chegaram aos ouvidos do cardeal Vagnozzi, chefe da prefeitura dos Assuntos Econômicos do Vaticano, e ao bispo Marcinkus, chefe do IOR, eles não se preocuparam com que as operações de Sindona fossem desvantajosas para a Igreja, conforme declaravam. E foi isso que aconteceu.

A tolerância do cardeal parece ter sido justificada, visto como Sindona, nesse tempo, havia se tornado quase indispensável, onde quer que a Igreja se encontrasse em algum embaraço ou situação difícil. Desse modo, conquanto fosse verdade que Sindona usava a Igreja quando lidava com operações financeiras duvidosas era igualmente verdade que o Vaticano o usava como testa de ferro, sempre que era confrontado com algum doloroso dilema.

Tal se deu, por exemplo, quando se descobriu, conforme previamente mencionado, que o Vaticano era proprietário de uma corporação química fabricante de anti-concepcionais, e até de explosivos, o Instituto Farmacológico Serona em Roma. Além do mais o presidente do Instituto era outro senão o Príncipe G. Paceli, sobrinho de Pio XII. E isso exatamente na época em que o papa condenava quase diariamente o controle da natalidade. (1)

Os dilemas diante dos quais o Vaticano ocasionalmente se defrontou foram muitos e variados, por exemplo, aconteceu que o Vaticano achou-se em consórcio com alguns parceiros de cama marxistas. Estes haviam decidido estabelecer-se dentro do birô do Banca Unione controlado pelo próprio Vaticano.

Dentre outros, a rubra família revolucionária dos publicadores Feltrinelli, cujo fundador não muito tempo depois se explodiu ao tentar colocar dinamite contra o pilar de alta voltagem elétrica, fora de Milão, enquanto, como foi dito, tentava executar um ousado ato de sabotagem contra o estabelecimento.

A parceria amorosa tinha deixado o Vaticano gradualmente alarmado. O problema foi levado a Sindona. Este comprou o banco e expulsou o escandaloso parceiro imediatamente. Fora até muito fácil fazê-lo.

Contudo, Sindona havia matado dois coelhos com uma só cajadada. Uma vez tendo livrado o cliente do Vaticano de um tremendo pesadelo político ele fez para si mesmo um ótimo negócio.

Uma vez sob o controle do Banca Unione, até aquele momento um banco provinciano meio parado, Sindona o revitalizou imediatamente, oferecendo aos seus investidores taxas de interesse dobradas. O resultado era previsível. Os depósitos do Banca Unione cresceram de 70 para 165 milhões de dólares praticamente numa noite.

Sindona continuou a operar com auxílio do Vaticano. Como quando por exemplo, o chefe do IOR, Bispo Marcinkus, sugeriu-lhe comprar o Banco Ambrosiano de Milão, foco de um iminente escândalo dos anos 80.

Ou quando Marcinkus convenceu o papa a obrigar o Patriarca de Veneza a vender seus interesses controlados no Banco Católico de Veneto, um banco de Veneza, a Sindona, que o revendeu ao Banco Ambrosiano, onde o Vaticano já possuía ações substanciais que o controlavam parcialmente.

Esta e outras operações similares impressionaram não só ao Chefe dos Assuntos Econômicos do Vaticano, mas também o próprio papa. Este estava tão satisfeito com Sindona, que em um dos seus raros momentos de entusiasmo chamou Sindona de sua “mente especial raposinha financeira”.

A fama de Sindona espalhou-se na Itália e exterior. Nos Estados Unidos David Kennedy, que havia sido presidente do Continental Illinois National Bank & Trust Co. of Chicago, considerava Sindona um mago das finanças.

A importância de tal reputação pode ser julgada pelo fato de que anos mais tarde, Kennedy tornou-se Tesoureiro Secretário no primeiro gabinete do Presidente Nixon. Essa foi uma oportunidade política e social inestimável para Sindona.

Foi nesse estágio que o Vaticano, embaraçado pelas ameaças na Itália que o forçava a pagar imposto sobre seus holdings no Mercado Financeiro Italiano e além do mais, a pagar com segurança, transferindo o seu dinheiro para fora do país.

Como com o Banca Unione, Sindona foi procurado para dar auxílio no sentido de acabar com aquele pesadelo ameaçador contra a Igreja, Sindona aceitou sob uma condição: o Vaticano teria de ajudá-lo a negociar com a maior unidade de construção do período, a Societa General Imobilliare de 175 milhões de dólares.

Essa era a mesma companhia que havia fabricado o complexo Watergate em Washington, D.C. de 70 milhões de dólares, a maior parte com dinheiro do Vaticano. A Sociedade, por trás do qual havia substanciais ações do Vaticano, tinha construído através de companhias testa de ferro o Cavalier Hilton Hotel em Roma e muitas outras construções valiosas na Itália, Estados unidos e outros países.

Sindona, fiel às suas práticas, comprou os interesses controladores que o Vaticano possuía na Societa e vendeu 16% à Gulf e indústrias ocidentais. Então guardou 40% desses interesses para si mesmo dando 5% para o seu cliente principal, o Vaticano.

A maneira de dispor da SGI pelo último é interessante para esclarecer a estratégia do time Vaticano Sindona. Em 1969/70, o Vaticano declarou, tentando descartar sua imagem de agente ligado aos negócios, que havia vendido o seu holding na SGI aos “americanos” querendo dizer que nada mais tinha a ver com a SGI.

“Os americanos” se transformaram em Gulf and Western Industries, proprietários da Paramount Pictures Corporation, cuja soma de ações na Societa era tão substancial ao ponto de praticamente controlar a mesma. O homem chave por trás dessa transação foi Charles de Blundorn, Presidente da Gulf and Western Industries, e Michele Sindona era o chefe financeiro.

Agora Sindona agia não apenas para o Vaticano, mas também tangencialmente para corporações não menos poderosas, gozando, então da confiança de um número crescente de companhias de negócios americanas, a começar do banco controlado pelos jesuítas, o Bank of America, a Celanese Corporation e outras corporações gigantes dos Estados Unidos.

Para completar a transferência Sindona adquiriu 3,5% das ações da Societa, as quais até o momento eram possuídas pela Azzicurazioni General. A Azzicurazioni, deve-se notar era mais uma companhia de seguros controlada pelo Vaticano através de sólida aquisição de ações.

Graças a essas brilhantes operações, Sindona foi promovido ao birô dos ditadores da própria SGI. Era uma vindicação de suas capacidades financeiras. Seu patrocinador mais secreto, o Vaticano e seus patrocinadores ficaram encantados.

Sindona tornou-se o financista preferido de vários quartéis comerciais católicos nos Estados Unidos, dos quais ele sacou soma ilimitada de boa vontade, proteção e fundos.

Entrementes, o Vaticano estava tão agradecido a ele que colocou à sua disposição um time exclusivo de peritos internacionais composto de dezoito importantíssimos homens de negócio. Sua tarefa era dar conselhos a Sindona. A importância dessa oferta pode ser avaliada pelo fato de que o time havia sido aprovado pessoalmente pelo próprio Sindona. Compunha-se de indivíduos retirados dos mais altos escalões financeiros dos Estados Unidos.

Para mencionar apenas alguns – John Bugos, Vice-Presidente da Ford Motor Corporation; Vermont C. Roylster, Vice-Presidente Emérito do Wall Street Journal; Y. A Farley, ex chefe geral dos Correios dos Estados Unidos; Martin R. Ghainsburg, economista chefe do birô de Conferência Nacional Industrial dos Estados Unidos. (2)

Apoiado por esse tanque pensador de todos os americanos e com as bênçãos papais, Sindona lançou-se de cabeça no “negócio”.

Sem dúvida o Vaticano continuava sendo o seu principal patrocinador, protetor e cliente. Isso quer dizer que ele era chamado com a maior urgência cada vez que o IOR, sobrecarregado com o inconveniente portes de ações ou imóveis, ficava ansioso para se livrar destes sem muita devassa ou descobertas desconcertantes. Para conseguir resultado rápido, muito freqüentemente Sindona usava o método peculiar. Comprava tudo que o Vaticano não mais queria. Se a operação tornava Sindona o comprador real ou se ele agia apenas como testa de ferro do Vaticano, não preocupava pessoa alguma nem mesmo o próprio Vaticano, uma vez que Sindona estava operando a favor da Igreja.

O fenômeno Sindona cresceu ininterrupto, a tal ponto que nos anos 70 ele já havia se tornado indispensável à Igreja, sempre que esta precisa lidar com operações financeiras importantes.

Dentro de poucos anos, graças à sua energia, o portifólio do Vaticano não apenas atingiu as alturas e fronteiras jamais vistas como se tornou diversificado com divisas das mais variadas espécies. Estas iam desde o Chase Manhattan Bank até a Standard Oil, Celanese, Colgate, Uni Lever, General Foods, Procter and Grambers, Westinghouse e congêneres.

Simultaneamente, o Vaticano se envolveu ainda que tangencialmente com vastos projetos de construção, por exemplo, aquele projeto que ele financiou substancialmente com esquema de 3 milhões de dólares, cooperando com corporações tais como a Uris Building Corp. ou Tisham Realty Constrution.

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