junho. Na Itália o dinheiro é entregue aos bispos, que o remetem a Roma. Nos demais países, via de regra, é entregue ao Núncio Apostólico. Os contribuintes mais generosos são a Alemanha e os Estados Unidos, sendo este último o mais generoso de todos. Os bispos e cardeais americanos são de fato considerados os campeões da Moeda de Pedro na atualidade. Já nos referimos ao Cardeal Spellmann que costumava levar para o papa o mínimo de um milhão de dólares.
Várias estimativas têm sido feitas acerca do total da Moeda de Pedro, mas o Vaticano jamais prestou a mínima informação sobre isto. Contudo através de simples cálculos aritméticos chegamos à conclusão de que ela atinge a soma de muitos milhões. Admitindo-se que a contribuição média de cada católico seja apenas de vinte e cinco centavos, isto é, um quarto de dólar, como existem agora mais de oitocentos milhões de católicos, ela chegaria a duzentos milhões de dólares semanalmente. A reclamação de que alguns católicos dão menos ou nada, é anulada pelo fato de que muitos, a começar dos alemães, holandeses e ingleses, dão o dobro ou o triplo disso, para compensar os que dão menos de vinte e cinco centavos nos países mais pobres. Devemos lembrar que não é uma taxa forçada, ela é dada por zelo religioso e é uma característica surpreendente que muitas vezes os países campeões são não apenas os mais devotos, mas também os mais generosos.
O humilde valor da Moeda de Pedro, ao chegar a Roma, pode efetivamente ter-ser multiplicado em milhões de dólares. A Moeda de Pedro tem muitas imitações, por exemplo as primícias católicas das diversas nações. As dioceses de bispos e cardeais americanos por exemplo têm sua próprias coletas individuais. Tanto é que não são chamadas Moeda de Pedro e os fundos não são enviados a Roma. Elas são programadas para cair diretamente nos cofres das dioceses. Apesar de tudo, as contribuições são sempre substanciais. Uma vez integrada na máquina da Igreja Católica elas se tornam ipso facto uma parte do seu império financeiro. Não é de admirar que certas dioceses dos Estados Unidos, graças principalmente a sua pujança financeira, tenham sido chamadas de os Pequenos Vaticanos.
Contudo mesmo sendo a Moeda de Pedro um concreto, embora intangível arrecadador de milhões, a imensa rede de serviço de ajuda e assistência é ainda maior. A estimativa total por ano é de mais de mil milhões de dólares. A imensidade desta soma pode melhor ser apreciada se nos lembrarmos que ela é maior do que a receita de muitos países das da ONU (Organizações das Nações Unidas), no mesmo campo. Em verdade é até maior do que os programas oficiais de ajuda além mar dos Estados Unidos. Os mil milhões de dólares anuais do trabalho em rede de ajuda e assistência tornou-se financeiramente tão extraordinário que o Vaticano teve de criar um corpo especial chamado “Corunum”, o qual se encontrou pela primeira vez em Roma, em 1972, a fim de coordenar melhor esse polvo católico financeiro de multiplicação.
O dilema da Igreja Católica e sua preocupação com a riqueza tem se tornado incrivelmente preocupante para os leigos e clérigos católicos, uma vez que a reconciliação das doutrinas de valores não terrenos que ela prega junto com a cumulação fabulosa da riqueza mundana à sua disposição está se tornando incrivelmente evasiva. Que a própria Igreja nos últimos anos deveria ter se tornado ciente disso, foi provado através dos esporádicos e contudo multiplicados protestos contra a sua riqueza, feitos por muitos dos seus mais sinceros membros. Prova disso é o Cardeal François Marty, Arcebispo de Paris, que pôs à venda parte do mobiliário da casa do arcebispado naquela cidade “como um gesto simbólico”. O cardeal Marty explicou que havia feito isso atendendo ao apelo do Arcebispo do Recife (Brasil), visto terem ambos concordado em “eliminar as marcas de riqueza e ostentação incompatíveis com a pobreza de Cristo” (6).
Até mesmo o papa começou a mencionar o antigo conceito de “uma igreja pobre existindo amplamente para os pobres”. Sem dúvida o conceito não era novo (7). Muitos papas no passado disseram o mesmo em contradição ao fato de que a Igreja apesar de suas palavras tinha continuado a crescer e a se tornou cada vez mais rica. As declarações papais foram sempre recebidas com muito cinismo, especialmente em Roma. A reação da população romana tem sido sempre um bom indicador. Uma comentário geralmente em uso sobre as últimas admoestações papais referentes à pobreza da igreja, além de ser típica é comentada. Refere-se às idas e vindas da cidade do Vaticano das limusines dos cardeais. As iniciais em sua placas dizem S.C.V. – Stato Citta Vaticano (Estado do Vaticano). Os romanos entretanto costumavam interpretar essas iniciais como: “Se Christo Vedesse”, isto é, se Cristo visse....
Deveria ser dito que a Igreja precisa de seus bilhões para desenvolver suas incontáveis atividades. Isso parece plausível e até certo ponto, correto. As palavras de São Gregório, o Grande, ainda podem ser relembradas: “não temos riqueza que nos pertença, mas a nós foi confiada a custódia e distribuição do sustento do pobre”. Desde os tempos de São Gregório, contudo, a realidade histórica concreta é que a Igreja apesar de periódicas desestabilizações, muitas das quais mencionamos neste livro, têm crescido como um dos maiores potentados mundiais em termos de riqueza material, do mesmo modo como tem feito a sua oponente protestante. A última por exemplo tem um grosso de três bilhões só nos Estados Unidos. A soma exata é de dois bilhões setecentos e quarenta e cinco milhões, trezentos e sete mil e quinze dólares, uma rival digna da Igreja Católica, em verdade, sua sósia financeira, se se pudesse considerar toda a riqueza material das igrejas protestantes representada pelas propriedades da igreja, hospitais, escolas e congêneres. Nos idos de 1970 essa riqueza chegava à soma colossal de 40,6 bilhões de dólares (8) e, em 1980 a sessenta bilhões (9).
O Cristianismo organizado desse modo tem-se tornado um imenso acumulador e usuário de riqueza financeira, comercial e industrial, o que jamais foi igualado em épocas passadas.
Quase mil milhões de Cristãos ainda são contribuintes voluntários da já fantástica riqueza de suas denominações. Mais de oitocentos milhões de Católicos Romanos (10) pertencem a uma única Igreja que, devido à sua unidade, propósito e zelo, tem, ainda mais do que as denominações protestantes, se tornado uma rival dos mais fortes potentados financeiros da terra.
Os mil milhões de cristãos na sua ânsia de ganhar o céu não têm esquecido de colocar uma moeda extra ou mesmo um milhão de dólares extra nos cofres protestantes ou católicos. É o seu direito inalienável não apenas de crer qual seja o tipo de interpretação do Cristianismo que preferem, mas igualmente ajudar suas próprias igrejas financeiramente ou de outro modo ou de qualquer forma com qualquer quantia que quiserem.
A pergunta que tanto os protestantes como os católicos deveriam começar a fazer a si mesmos com grande urgência, em vista dos tremores globais na atual instável sociedade contemporânea é muito pertinente. O que faria Cristo com tão colossal acumulação eclesiástica de riqueza?
Em suas respostas estão não apenas a interpretação certa ou errada dos evangelhos de Jesus como igualmente o futuro do próprio cristianismo organizado.
Capítulo 35 do livro
“Os Bilhões do Vaticano”
traduzido por Mary Schultze
Bibliografia:
1. Pinturas incluindo obras de Perugino, Weyden e Mino da Fiesole. “The Times”, Londres, 5/11/69.
2. “The Times”, 19/05/71.
3. “The Times”, 21/10/71
4. O documento estava no apartamento do Prof. J. Ibaiz
Prat de la Riba, Terragona, Espanha, 1972.
5. 30.000 aos da Natividade da Virgem e 100.000 da Epifania.
Ver artigo do autor do livro “Como Tornar-se Santo Sem Sequer Tentar”,
“The Independent”, N. York, 1969.
6. “The Times”, 22/06/70
7. “The Times”, 21/07/70
8. M. A Larson e C. L. Lowell “Agradeça ao Senhor pela Isenção de Imposto”.
9. “Finance and Property”, 15/01/80
10. Em 1978 os Católicos Romanos eram oficialmente 765 milhões. Em 1984 já chegavam a 800 milhões. “Operation World”. (Hoje chegam a um bilhão).
Capítulo 36
Árbitro do Mundo Ocidental
Calcula-se que se os bilhões da Igreja Católica se multiplicarem na mesma proporção de seu crescimento atual e que se todas as suas propriedades visíveis e invisíveis, locais e globais continuarem na mesma aceleração em valor monetário, somando-se ao paralelo aumento da população católica, a Igreja Católica a esta altura já possui pelo menos 1/3 de toda a riqueza do hemisfério ocidental.
A perspectiva seria assustadora se fosse apenas abstração. Como especulação ela é alarmante. Como perspectiva real ela é, no mínimo, aterrorizante para os não católicos e do mesmo modo para os Católicos – e até mesmo, para a própria segurança da Igreja Católica, conforme ela está constituída atualmente.
O processo é inevitável, visto como todas as características dos dias passados ainda permanecem, apenas com uma nova e terrível característica, sua imensa aceleração. Pois conquanto no passado sua acumulação de riqueza, não importa quanta, se limitava aos confins de uma simples nação ou grupo de nações, ela agora extrapola os hemisférios e engloba os dois continentes mais progressistas, vitais, poderosos e ricos da terra: a Europa e as Américas.
Sua permanente acumulação de riqueza temporal, além de corrompê-la (1 Timóteo 6:9,10), sempre a tem conduzido ao desastre inevitável. Já vimos exemplos disso nas páginas anteriores. Uma vez ela se tornou um poder temporal através da falsa “Doação de Pepino” de Roma e Itália Central, quando a Igreja atravessava um dos mais negros períodos de sua história. Alguns dos seus papas foram os mais grosseiros e execráveis vilões de uma era já condenável. Isso porque a maioria deles desejava