Em 1120, o Bispo de Laon excomungou as lagartas que estavam devorando sua diocese. Isso fez ele com a mesma fórmula empregada no ano anterior pelo Conselho de Rheims, ao amaldiçoar um padre que insistia em casar-se. Ao Bispo de Laon foram oferecidos dinheiro e ofertas pelos camponeses agradecidos. (2)
Similarmente, São Bernardo, quando pregava em Foigny, foi interrompido por um enxame de muitas moscas não cristãs. Perdendo sua santa paciência, ele as excomungou. Na manhã seguinte as moscas foram encontradas todas mortas. Ele recebeu ofertas, as quais ele deu ao mosteiro mais próximo. (3)
Em 1451, William Saluces Bispo de Lausanne, ordenou o julgamento de multidões de parasitas que ameaçavam a pesca em Genebra. Ele ordenou aos parasitas sob pena de excomunhão, a se juntarem num determinado local. O povo envolvido fez abundantes ofertas à Igreja.
A corte eclesiástica de Autun, em 1480, excomungou um exército de lagartas e ordenou aos padres da região que repetissem do púlpito o anátema, até que as lagartas fossem exterminadas. No ano seguinte, 1481, e novamente em 1487, uma multidão muito anti-religiosa de caracóis em Macom foi devidamente excomungada. Em 1516 o clero excomungou os demais numerosos gafanhotos em Millieri, na Normandia. Em 1587, em Valência, um julgamento formal foi encerrado com uma sentença de banimento contra outra multidão de lagartas. (4)
Bartholomeu Chassanee, que escreveu um grosso volume registrando esses julgamentos, declarou que além de serem legais eles também eram úteis até o ponto em que a Igreja, sempre com sucesso em tais ações, era recompensada com florins e dízimos mais abundantes do que teria sido no caso dos vermes nunca terem aparecido. Quando tais milagres, excomunhões, julgamentos e semelhantes se multiplicavam aos milhares, os florins se multiplicaram com maior rapidez do que os vermes e as moscas.
Esta maneira de coletar dinheiro, contudo, apesar de compensadora não resultava tanto, quanto como quando os santos autênticos eram trazidos à ação. Assim, sob o comando de Santo Estanislau, um certo Pedro, que estava morto, levantou-se do túmulo e entrou numa corte judicial para autenticar a venda de um imóvel – após o que, certamente, a igreja local foi amplamente recompensada, recebendo uma parte do tal imóvel.
No século 13, Santo Antônio foi informado, na Itália, que seu pai, em Lisboa, fora acusado de assassinato. Um anjo o transportou da Itália até Lisboa. Uma vez lá, Antônio indagou ao homem assassinado: “É verdade que meu pai é culpado de tua morte?” “Claro que não !” respondeu o cadáver e o pai de Antônio foi libertado. Logo em seguida Antônio foi levado de volta à Itália pelo mesmo anjo. Uma basílica foi construída sobre o corpo de Antônio. Os peregrinos têm ido desde então até o dia de hoje, com estupendas ofertas de dinheiro principalmente das Américas do Norte e Latina.
São Vicente Ferrier (1345-1419) fez ainda melhor. Pois freqüentemente no meio de sua pregação, ele adquiria asas e flutuava no ar, e ia a diversos lugares consolar alguém que estava morrendo. Uma vez em Pamplona ele disse a uma mulher moribunda que se ela consentisse em confessar os seus pecados ele lhe daria a absolvição do céu. Tendo a mulher consentido, São Vicente escreveu a seguinte carta: O Irmão Vicente roga à Santíssima Trindade conceder à mulher pecadora aqui presente a absolvição dos seus pecados. “A carta voou imediatamente para o céu e após alguns minutos voltou. Nela estava escrito: Nós da Santíssima Trindade, a pedido do nosso Vicente, concedemos à mulher pecadora da qual ele nos contou, o perdão dos seus pecados e se ela confessar, estará no céu dentro de poucos anos. Santíssima Trindade”. (5)
Para satisfazer o cinismo dos incrédulos, o evento foi atestado por outro irmão, o camareiro do papa, que deu copiosa evidência deste “fato”, como ele o chamava, além de dar o nome de 14 prelados altamente colocados que por ele juraram. (6)
O precedente criou uma epidemia de cartas celestiais. Elas valiam tremendos preços. Curiosamente o céu sempre as enviava ao clero. O número de milagres operados por São Vicente foi realmente miraculoso. Durante uma enquete realizada em Avignon, Toulouse, Nantes e Nancy, foi revelado que a lista oficial chegava a 800. “Se computarmos apenas um pequeno número de oito milagres por dia durante os seus vinte e cinco anos” diz o Monsenhor Guerin, seu biógrafo, “temos 58.400 milagres”. E ele acrescenta, com uma compreensível prudência: “Aqui tratamos, é claro, só dos milagres públicos”.
Os beneficiários de tais portentos, é claro, mostravam sua gratidão com sólidas moedas de comprovação. Vicente operou tantos milagres que, como foi oficialmente relatado, “era um milagre quando ele não operava milagre, e o maior milagre que ele operou foi quando não operou mais milagre”. (7)
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