Nós, além disso, proibimos diretamente de todas as maneiras que pessoas, qualquer que seja o seu estado, grau, ordem ou condição o que sejam, embora de Dignidade Imperial ou Real sob pena de sentença de excomunhão em que incorrerão, se fizerem o contrário, que elas em hipótese alguma presumam, sem vossa licença especial, de vossos herdeiros e sucessores, viajar para mercadejar ou para qualquer outra causa, às ditas terras ou ilhas, encontradas ou a serem encontradas, descobertas ou a serem descobertas, na direção do Oeste e Sul, traçando uma linha do Polo Ártico até o Polo Antártico, se a terra firme e ilhas encontradas e ainda por serem encontradas, estiverem situadas em direção à Índia ou de qualquer outra parte.
Alexandre indicou, então, a demarcação atual das explorações e possessões mencionadas antes neste mesmo documento, e disse:
Estando distante da linha traçada cem léguas em direção a Oeste, a partir de qualquer das ilhas comumente chamadas DOS AÇORES E CABO VERDE: sem levar em conta as Constituições, Decretos e Ordenanças Apostólicas, o que quer que seja contrário.
Nele, de quem Impérios, Domínios e todas as boas coisas procedem, confiando no Deus Todo Poderoso, dirigindo Vossos Empreendimentos...
Finalmente ele concluiu seu ato de presentear ameaçando qualquer um que se atrevesse a “infringir” sua vontade:
Que homem nenhum, portanto, infrinja ou se atreva asperamente contrariar esta nossa carta de Elogio, Exortação, Pedido, Doação, Concessão, Consignação, Constituição, Deputação, Decreto, Mandamento, Inibição e Determinação. E se alguém presumir tentar o mesmo, fazei-o saber que incorrerá na indignação do Todo Poderoso e de seus Santos Apóstolos, Pedro e Paulo.
Entregue em Roma em São Pedro, no Ano da Encarnação de nosso Senhor, 1493. O quarto dia dos Nonos de Maio; o primeiro ano de Popedom.
Depois da Espanha católica veio o rival Portugal. Como resultado, no ano seguinte, 1494 – o Tratado de Tordesilhas removeu as linhas papais de demarcação para o Meridiano 370 léguas a oeste de Açores. Isto causou ainda um outro efeito visível da decisão papal sobre o Novo Mundo, a existência do Brasil. Pois empurrando a linha até o Oeste, uma grande porção de terra a ser logo descoberta, a do continente brasileira foi incluída no domínio português.
Entrementes, diversos navegadores audazes, animados pelo épico de Colombo, e a promessa de imensas riquezas, começaram a explorar os desconhecidos oceanos com renovado vigor. Vasco da Gama tomou a rota leste, o conceito inspirador original de passar por Constantinopla rodeando a África, em 1498 ele chegou à Índia, apenas seis anos após ter Colombo descoberto a América. Em 1500 Pedro Álvares Cabral descobriu o que seria mais tarde conhecido como Brasil. No ano seguinte, 1501, Corte Real navegou ao norte e desembarcou na Groenlândia – João Martins em 1541 pôs o pé no Alasca.
Os devotos filhos da Igreja, espanhóis e portugueses, tendo apanhado a febre da exploração incessante, continuaram a remexer os oceanos. Eles se tornaram os pioneiros originais que desembarcaram na China, Mollucas, Japão e até Austrália, enquanto tão cedo em 1520, Magelan foi o primeiro homem que já navegou ao redor do globo. Quando o Istmo do Panamá foi cruzado e o Oceano Pacífico descoberto, um padre, membro da expedição, mergulhou nas ondas segurando um crucifixo e gritando: “Tomo posse deste Oceano em nome de Jesus Cristo” – e daí em nome do seu vigário da terra, o Pontífice Romano. O Novo Mundo tinha mesmo se tornado, por direito divino e legal, a propriedade absoluta dos papas, das costas norte a sul. De leste a oeste. Um Novo Mundo foi acrescentado ao Velho. Já sob a tríplice coroa.
Capítulo 12
O Fator Econômico por trás da Reforma
Os gritos de angústia, raiva e desafio de todos os santos rebeldes e reformadores que rebatiam a Igreja por seus caminhos, haviam ecoado em um nunca acabar durante o milênio passado para a aclamação dos verdadeiros crentes, para a indiferença das multidões e para a surdez dos sucessivos pontífices reinantes. Suas repetidas exigências para a renovação da Cristandade Papal tinham sido todas em vão, ou se momentaneamente efetivas, haviam se extinguido no fogo. As cinzas de todos os que tinham sido queimados em praças públicas nas cidades medievais da Europa, poderiam dar testemunho disso: São Francisco, São Bernardo de Clarivaux, John Huss, Savanarola e as legiões de outros não menos ilustres e zelosos, tinham desaparecido após gritarem em vão no deserto – não, contudo, sem profetizar intermináveis ais e desastres futuros.
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