domingo, 25 de abril de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 47

O papado, embora apreensivo, parecia não temer coisa alguma. Hitler, sem levar em conta pequenas disputas periódicas com a hierarquia católica germânica, jamais havia ameaçado tomar a riqueza da Igreja. Pelo contrário, ele havia assegurado as propriedades e a estabilidade católica dentro do Reich Nazista através de um solene tratado – a Concordata - assinada entre Hitler e o Papa Pio XI, em junho de 1933, apenas alguns meses após Hitler ter-se tornado o Chanceler da Alemanha, em janeiro. Este feliz estado de negociações foi devido ao fato principal de que a Igreja Católica e o Nazismo haviam concordado em se apoiar mutuamente. Ao mesmo tempo em que Hitler garantia ao Vaticano suas propriedades e vários privilégios especiais, o Catolicismo ordenava ao seu clero não fazer pacto algum de ataque ao Nazismo. Orações eram rezadas publicamente em favor da Alemanha Nazista. Os bispos obrigavam todos os padres católicos a jurar que eles jamais se oporiam ou prejudicariam a ditadura nazista. Era o mesmo tipo de casamento formal daquele contraído com a Itália fascista, apenas quatro anos antes.

Considerado sob o enfoque acima, portanto, o assunto de como Hitler seria mau, não interessava ao papado, pois basicamente ele seria útil – até o ponto em que se posicionasse contra Stalin. Este era a personificação do Bolchevismo, que procurava aniquilar a Igreja e se apossar de suas propriedades. Hitler dispôs-se a destruir não apenas Stalin, mas também o Bolchevismo russo e europeu. Daí, com guerra ou sem guerra, ele se tornaria o mais efetivo defensor da Igreja e, portanto, de todos os bilhões desta.

Tal argumento, visto do interesse próprio do Vaticano, parecia bom e esta é a razão por que o seu principal promotor, o Cardeal Pacelli, mais tarde Papa Pio XII, seguiu, desde o princípio, uma política de apoio direto aos dois mais vigorosos movimentos de extrema direita anti-comunistas do período, o Fascismo italiano e o Nazismo germânico. O Vaticano foi ao ponto de pavimentar o caminho para Hitler, e em verdade forçar os católicos alemães dissidentes a apoiarem a linha Vaticano- Hitlerista. Os quatro objetivos dessa política foram estabelecidos: 1) Quando o líder do Partido Católico Alemão, Franz Von Papen, foi nomeado Vice-Chanceler da Alemanha Nazista, secundado apenas por Hitler, em janeiro de 1933; 2) Quando os deputados do Partido Católico no Parlamento votaram pela concessão de poder absoluto para Hitler (23/03/1933); 3) Quando o Vaticano deu ordens ao líder do Partido de Centro Alemão (Partido Católico) para se dissolver, de modo a encerrar qualquer oposição contra Hitler – o que foi feito imediatamente, em 05/07/1933, e 4) Quando o Vaticano e Hitler assinaram a Concordata, no verão de 1933. Conforme o Artigo 20 desta concordata “...Aos domingos orações especiais... serão oferecidas... para o bem estar do Reich (Alemanha Nazista)”. Bem mais sério era o Artigo 16: “Antes dos Bispos tomarem posse em suas dioceses, devem fazer um pacto de lealdade ao Representante do Reich...” Todos os detalhes desta política já foram tornados públicos por este autor em seu livro “The Vatican in World Politics”.

Olhando-se retrospectivamente, a colaboração Hitler-Vaticano parece um colossal julgamento errado da parte do papado. Contudo, nesse período, a ameaça do Comunismo nos campos doméstico e internacional era real, pressionadora e iminente. O Comunismo estava pondo em risco não apenas a religião, mas também a riqueza da religião estabelecida, inclusive toda a riqueza da Igreja Católica Romana.

Ao explodir a II Guerra Mundial, portanto, a Igreja não hesitou sobre de que lado ficaria. Sem dúvida, como a fé possuía adeptos de ambos os lados, a Igreja Católica tinha de desempenhar o papel oficial de neutralidade. Ela não podia antagonizar milhões de Católicos na França, Bélgica, Holanda, Polônia, Inglaterra e, acima de tudo, nos Estados Unidos. Mas enquanto desempenhava o papel de “pai universal”, Pio XII, estava apoiando a cruzada hitlerista, até o ápice, como o fizeram alguns países católicos fora do campo dos Aliados.

A guerra de Hitler, vista a partir de Roma, era uma cruzada essencialmente anti-bolchevista. Quando, portanto, em junho de 1941, Hitler cruzou as fronteiras da Rússia, houve manifesta alegria no Vaticano. Orações, novenas e o culto a Fátima, baseado nas promessas da Virgem de que “o Santo Padre me consagrará a Rússia” foram todas revividas e magnificadas.

Para ajudar a promessa da Virgem a se tornar realidade, e também tornar possível a Pio XII consagrar-lhe a Rússia, ospaíses católicos enviaram contingentes ao front russo. Os católicos da Espanha enviaram a Divisão Azul junto com os exércitos nazistas, e voluntários deram dízimos em praticamente todos os países católicos. Enquanto tal acontecia, Franco determinou-se a reconstruir sua terra meio destruída. Isso ele fez, restaurando as fortunas do Vaticano na Espanha varrida pela guerra. Desse modo em 27/01/1940, ele assinou um decreto devovendo formamelmente “as vastas propriedades pertencentes à Sociedade de Jesus, que haviam sido confiscadas pela República, em 1932”. Ao mesmo tempo ele também restaurou todas as terras que a República ou os legalistas haviam tomado da Igreja Católica, em 1931.

Para o Vaticano esta era uma grande vitória. Seus bilhões haviam retornado aos seus cofres. O governo nacionalista iniciou a reconstrução. E assim fez a Igreja. Ela fez isso adquirindo mais propriedades, investindo em mais imóveis, blocos de apartamentos e até mesmo comprando ações em fábricas, tentando recuperar ostensivamente os milhões de pesetas que havia perdido durante a Guerra Civil.

Durante a Guerra Civil, centenas de milhões de pesetas e de bônus avaliados em dólares e capital haviam sido confiscados ou escondidos em locais seguros, os quais foram esquecidos, perdidos ou roubados.

A hierarquia espanhola usou todos os meios possíveis para recuperar as riquezas deste mundo, com zelo jamais superado no trato com as com as riquezas do outro mundo. Ela mobilizou peritos no país e no exterior. Foi ao ponto de usar o mais “indigno” método comercial leigo, a propaganda em jornal. E aconteceu que os prelados especialistas em negócios, no início em 1940, começaram a colocar anúncios em vários jornais, dando números e outros detalhes sobre as ações extraviadas, e seus esforços foram coroados de êxito.

O trunfo, contudo, foi duvidoso, pois os Católicos Romanos agora, para sua surpresa, vieram a saber com exatidão como sua Igreja, aparentemente preocupada apenas com as riquezas celestiais e os princípios morais, tinha estado e continuava estando muito mais interessada nas riquezas que ela possuía nos bancos, companhias telefônicas, companhias de navegação e outras organizações seculares, muito antes da Guerra Civil ter começado, e isso após suas longas declarações, durante o conflito, de que não tinha ali absolutamente quaisquer interesses temporais.

No dia 07 de janeiro de 1940, por exemplo, o jornal ABC veio à tona com um item listando os valores na Companhia Telefônica Nacional da Espanha, e em 24 de janeiro, outro item listava os valores da Companhia Transatlântica. O lado interessante deste fato é que não apenas a Igreja espanhola havia investido nesses assuntos leigos, mas que havia financiado interesses nos assuntos internacionais. Pois enquanto o segundo estava ligado com a Companhia Espanhola Transatlântica de Navegação, o primeiro era parte e parcela da Companhia Americana Intenacional de Telefone e Telégrafo, a qual, por acaso, havia construído o primeiro arranha-céu na Espanha.

A IT&T (Companhia Americana Internacional de Telefone e Telégrafo) não afirmou que era o Vaticano quem possuía o dinheiro, nem mesmo que ela pertencia à hierarquia. O Vaticano é esperto demais, um mestre nas jogadas deste mundo, para permitir isso. Como na Itália, nos Estados Unidos e em outros países, a maior parte de suas propriedades, ações e bônus estão camuflados sob os nomes de pessoas do laicato católico ou mesmo de negócios puramente financeiros ou bancários. Contudo, neste caso, os certificados declaravam que além do laicato havia também claramente hierarcas tocando na banda financeira, como a Metropolitana de Valença por exemplo, a qual possuía várias centenas de ações da Companhia Telefônica. A Casa Diocesana do Arcebispado, de Lerida, possuía quatorze ações preferenciais, enquanto o reitor do Colégio São José, de Valência, junto com os jesuítas, o Colégio de Maria Imaculada e várias outras congregações católicas, possuíam o restante.

Alguns dos proprietários de capital na Companhia de Navegação eram o Arcebispo de Madri-Acala (50 ações sob os números 91-101-150), o Vigário Geral da Congregação dos Irmãos Descalços da “ Redcera Orden de la BMV del Carmen” de Tarragona. A Igreja possuía mais ou menos 1/3 da riqueza total móvel e imobiliária da Espanha. Para citar apenas algumas das organizações nas quais ela possuía interesses financeiros totais ou parciais, aqui estão alguns citados na “Espagne au XXe Siecle”: “A Ferrovia Norte, Companhia Transatlântica de Navegação, as plantações de laranjas de Andaluzia, as minas das províncias bascas e em Rif, e dúzias de fábricas na Catalunha, que estão sob a direção aberta ou oculta da Igreja”.

Acreditar, contudo que a Igreja Católica estava recuperando, acumulando e multiplicando seus milhões somente na Espanha, antes e durante a II Guerra Mundial, seria um erro. Pois ela estava sendo igualmente ativa em outros países, como por exemplo na Bélgica, Holanda, Polônia e França. Neste último país, por exemplo, o Vaticano costumava controlar o Banco Franco-Italiano da América do Sul, o qual tinha um capital de 40 milhões de Francos (antes da II Guerra Mundial), a Societé du Textiles du Nord, na qual a participação do Vaticano chegava a 70% do capital, e outros investimentos semelhantes, igualmente proveitosos, a tal extensão que a participação total em capital do Vaticano às vezes era estimada em 200 milhões de Francos, (metade do capital do banco), ao valor de compra daquela época (1939-1940).

Além disso, o Vaticano, conquanto estivesse confiando nos exércitos nazistas para protegerem suas riquezas dos comunistas na pátria e no exterior, contudo achou prudente projetar seus interesses financeiros através do oceano. Desse modo, muito antes de rebentar a II Guerra Mundial ele já havia dado os primeiros passos bem sucedidos para implementar um empreendimento tão cauteloso e lucrativo. O Vaticano começou a investir não apenas nos países da América do Sul, mas também no país protestante – Estados Unidos. Isso ficou bem conhecido naquele tempo. O que, porém, surpreendeu, após a II Guerra Mundial, foi o volume dos investimentos do Vaticano ali. A extensão da participação do Vaticano no “big business” americano veio à tona antes de terminarem as hostilidades, quando certos documentos caíram nas mãos dos líderes socialistas italianos. Esta era a prova de que o Vaticano investira maciçamente através da América do Norte e, contudo, ele não poderia contar toda a história por causa da política do Vaticano de disfarçar suas posses por trás do muro do silêncio dos assuntos do

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