domingo, 11 de abril de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 33

ambição. Se esta estivesse ausente, seria duvidoso que a Reforma tivesse nascido e que pudesse sobreviver.

Deve-se lembrar que a Reforma não foi a primeira; ela foi a última de muitas que fracassaram. A Reforma se tornou “A Reforma” porque teve sucesso. Se não o tivesse tido, não seria nada mais que uma nota de rodapé nos anais da história do Cristianismo. Seu sucesso foi devido não tanto à maturidade dos tempos ou à corrupção da Igreja ou ao zelo dos líderes do movimento (muitos reformadores, tão zelosos e tão bravos quanto Lutero acabaram na estaca), mas ao fato de que por trás deles se movimentava um poderoso laicato com elementos desejosos de por as mãos na imensa riqueza da Igreja. Os príncipes, a nobreza, burgueses, para não mencionar os reis, foram motivados principalmente pela fascinação da distribuição de vastos imóveis até então possuídos por uma Igreja que eles desejavam despojar. As disputas teológicas foram para eles uma providencial justificativa para confiscar as terras que eram mantidas durante séculos. A oportunidade precisava ser agarrada pois talvez jamais voltasse.

A motivação econômica, contudo, não era confinada exclusivamente à nobreza da Alemanha, Inglaterra e outros países. Ela existia em todos os níveis da sociedade. Não poderia ter sido de outro modo, visto como as exigências fiscais do Catolicismo Romano, como já vimos tão freqüentemente, afetavam a cada um. Durante os séculos 14 e 15, elas se tornaram excessivamente pesadas. Tinham se tornado uma espécie de estrangulamento perpétuo, o qual, quando anexado à taxação imposta pelo rei, ou príncipe local, ou cidade, tornavam-se insuportáveis.

A Igreja, em vez de mostrar tolerância fiscal, tornara-se excessivamente ambiciosa, tanto de poder como de dinheiro. Seu direito de “visitação” fora estendido. O Sistema de apelo fora desenvolvido, a prática do patrocínio por meio de provisões tornara-se muito comum.

Em sua direta pressão para assegurar lucros, ela pressionava, sem levar em conta a situação econômica. Isto ela fazia através dos annates, por vários tributos, por inúmeros dízimos e, acima de tudo, pela sempre presente “moeda de Pedro”. E sucedeu que as disputas teológicas que em circunstâncias ordinárias teriam interessado apenas a um limitado segmento da sociedade, tornaram-se o foco de corrida para as forças que viram ser aquela, a oportunidade esperada, de por as mãos nas riquezas que contemplavam há longo tempo. Os príncipes alemães sucumbiram à tentação, como o fizeram vários potentados na Áustria, Suíça, França e a maior parte dos países do norte da Europa. Na Inglaterra a batalha do despojamento foi encabeçada pelo próprio rei.

Henrique VIII, por toda a sua rudeza, concupiscência animalesca e a desculpa de querer um herdeiro para o trono, no final tornou-se motivado pelo grande prêmio de riqueza da qual poderia tomar posse através da Reforma, a verdadeira mãe do Anglicanismo. A nobreza inglesa que havia se postado atrás dele não era menos ambiciosa do que Henrique. Seu apoio trouxe vastos domínios territoriais, imóveis e dinheiro, tudo vindo da Igreja que eles agora tão convenientemente repudiavam. A Reforma foi para eles nada além de uma vasta transação comercial, na qual se tornaram os principais beneficiários.

O incentivo econômico desempenhou, assim, um principal, se não o principal papel no sucesso da Reforma como tal, não apenas na Inglaterra, mas também na Alemanha. Jamais se devia esquecer que a força de Lutero e, portanto, o sucesso veio do apoio da maioria dos príncipes alemães que o sustentaram a fim ganhar pela “secularização” as propriedades da Igreja. Foi a fascinação das imensas possessões materiais que deu ímpeto, força e o desejo de serem bem sucedidos aqueles que se haviam enfileirado contra ela. Se tais possessões não existissem, duvidamos que os elementos leigos que fizeram pender a balança a favor dos reformadores protestantes tê-los-iam apoiado somente por razões teológicas, visto como poucos estavam genuinamente interessados nestas. A riqueza material, portanto, finalmente se tornou um dos fatores principais para a perda dessa mesma riqueza que a Igreja Romana tinha transformado em seu objetivo principal de acumular e de fato tinha aumentado cada vez mais através de sua existência.

Deve se lembrar que o papado nesse período era o maior, o mais rico e o mais poderoso senhor de terras em toda a Europa. A Igreja era muito mais rica e possuía muito mais terras, imóveis, interesses financeiros e ouro do que qualquer príncipe ou rei. Somente na Inglaterra ela possuía direta e indiretamente mais da metade de toda terra produtiva do reino. De fato, sua riqueza agregada era tal que excedia toda a riqueza da nobreza e da coroa colocadas juntas. O mesmo acontecia na França, e nos Estados germânicos para não mencionar a Espanha, a Itália e outros países.

A ostensiva acumulação de riquezas temporais de Roma no final se tornou uma das principais causas senão a principal responsável pelas perdas espirituais e materiais que ela teve de sofrer através da Reforma. Desse modo a admoestação de Eclesiastes 5:13 - “Grave mal vi debaixo do sol: as riquezas que seus donos guardam para o próprio dano”, tornou-se algo mais que uma profecia de uma antiga voz da sabedoria. Tornou-se de fato o veredicto contra e a condenação da mais corrupta, mais materialista, menos religiosa e acima de tudo a restituição mais rica da terra ocupada por Mamom e todos os principados deste mundo. Ela jamais se havia identificado com os filhos espirituais Daquele que ela afirmava ser o seu Fundador para agir como protetora, confortadora e provedora deles.

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