Daí que a fabulosa energia expansionista das corporações bilionárias americanas é uma mina de ouro para uma Igreja Católica preocupada com negócios que levem à multiplicação de suas riquezas também no campo internacional. Na vigilância sobre os seus associados financeiros e industriais, a influência da Igreja é exercida ao mesmo tempo com fabulosas potencialidades religiosas, sociais e políticas em todo mundo. Isso representa em todos os sentidos, uma garantia de ouro para as corporações a ela associadas, do máximo benefício para a sua própria e bem sucedida expansão comercial.
Dessa maneira a Igreja Católica pode exercer sua influência como um gigante comercial fora dos Estados Unidos. Essa influência, contudo, seria grandemente reduzida se não fosse tão comercialmente gigantesca em seu próprio direito. Daí a sua admissão ao clube exclusivista dos bilionários americanos.
Desse modo a Igreja Católica na América opera como uma corporação gigantesca – não apenas como uma potencial construtora ou destruidora de políticos em todos os níveis, mas igualmente como um gigante financeiro em pé de igualdade com os seus parceiros na corrida da vida econômica do país.
Capítulo 22
Cardeais entre os Corretores da Bolsa
A hierarquia dos Estados Unidos é um novo fenômeno nos anais do Catolicismo. Ela mal conhece a teologia. Isto, contudo, é contrabalançado pelo seu exclusivo conhecimento de taxas de interesse e pela sua visível capacidade para desenvolver a Explosão do Vintém. Seus membros são os supremos peritos contabilistas e guarda livros da Igreja Católica no século 20, e a contra parte eclesiástica é a fabulosamente bem sucedida operadora das corporações gigantes. Esses hierarcas e leigos são os operadores das corporações gigantes da Igreja Católica da América. Sua reputação é amplamente justificada. Em termos de discernimento financeiro e operações bem sucedidas em dólares, eles podem realmente posar em igualdade com os gerentes de qualquer trust gigante do petróleo, do aço e dos motores na América. Em verdade, o engajamento comercial permeia toda a estrutura da máquina eclesiástica da Igreja Católica na América, de uma a outra extremidade, com o sacerdote paroquial comum não menos desejoso de fazer negócio do que o mais célebre cardeal. Corporação nenhuma pode contar com um staff tão imenso, dedicado e entusiasta. As centenas de milhares de cardeais, arcebispos, bispos, padres, frades, freiras, professores e trabalhadores subsidiários são todos motivados por um só objetivo – o avanço da Igreja, não apenas nos campos religioso e político, mas também no campo material, isto é, na constante acumulação de riqueza.
O resultado cumulativo dessa enorme energia coletivizada é que a Igreja tem realmente atingido o estado redobrado de uma corporação gigante e de fato sobrepuja todas as corporações gigantes dos Estados Unidos, individual e coletivamente. A arrogância do prelado que se gabava dessa realidade era mais que justificada “somos já bem maiores do que a Ford Motors, Shell Petróleo e Aços Bethlem colocados juntos” ele disse. (1) Esta é uma compacta soma de um dos mais chocantes fatos da vida contemporânea nos Estados Unidos.
Uma das principais razões da hierarquia americana não se igualar em parte alguma é que ela já se especializou em negócios e transações financeiras ressonantemente bem sucedidas, conforme os interesses da Igreja. Mais freqüentemente estes são perigosamente balanceados na fronteira entre os assuntos eclesiásticos e os assuntos financeiros puramente leigos, um estado de coisas que tem levantado preocupação geral sobre essa posição brilhantemente privilegiada de uma Igreja, cuja energia é insolentemente gasta na promoção entusiástica e real de seus interesses mundialmente tangíveis em nome dos assuntos espirituais. Seus representantes altos ou baixos parecem ter sido infectados com o vírus da ambição. Assim, enquanto em outras terras – por exemplo na África – o objetivo principal dos clérigos católicos é o número de negros convertidos; ou na Europa que os jesuítas tenham a influência na mídia de massa, nos Estados Unidos. Além deste último, o objetivo mais importante da hierarquia romana nos estados unidos é conseguir o saldo mais alto possível no banco. Este é um objetivo louvável, sem dúvida, até o ponto em que o dinheiro não se torne a única medida do sucesso da Igreja.
O fenômeno do prelado que se torna uma fabulosa história de sucesso no campo eclesiástico, bem como no financeiro, tende a ser mais regra do que exceção. Um dos casos mais célebres foi certamente o do cardeal Spellman, o Primaz extra-oficial da Igreja dos Estados Unidos, sob o reinado dos papas Pio XII, João XXIII e Paulo VI.
Spellman exercia uma influência preponderante, não apenas nos círculos políticos militares americanos, mas também dentro do próprio Vaticano. Já tratamos dessas atividades em outro livro (2). Além de atuar como conselheiro principal junto ao Vaticano em intermináveis missões diplomáticas, ele era precioso para o Vaticano no campo financeiro. Graças aos seus contatos pessoais com as principais corporações financeiras e altos oficiais do governo, o Cardeal Spellman logo podia dar informações altamente confidenciais ao Vaticano e à Igreja nos Estados Unidos, referentes a operações seguras, financeiras, industriais e similares, conseguidas na fonte, e visto como estas vinham muito antes do conhecimento do público em geral, a Igreja nos Estados Unidos e o Vaticano se beneficiavam com incontáveis milhões de dólares. Conquanto fosse verdade que esse estado de coisas fosse atribuído mais à íntima amizade pessoal entre Pio XII e Spellman, era, contudo, a garantia segura da importância que o prelado americano tinha aos olhos do Vaticano.
Um episódio interessante, que foi relatado por um amigo pessoal, Nino Lo Bello, correspondente europeu do New York Herald Tribune, especialista em assuntos econômicos, é esclarecedor. Referindo-se ao fato pouco conhecido de que os programas radiofônicos do Vaticano emitiam mensagens codificadas para os padres, núncios e cardeais, ele citou a experiência do correspondente da NBC que, após ter visitado a estação de rádio do Vaticano e tendo sido informado dessa transmissão diária para os Estados Unidos, indagou em tom de brincadeira: “É assim que o Cardeal Spellman recebe ordens do Vaticano?” O funcionário que lhe servia de cicerone, respondeu com um largo sorriso: “não senhor, é de outra maneira” (3). A observação não era exagero nem mera retórica. Era um comentário da realidade em assuntos financeiros, bem como em assuntos políticos e diplomáticos, conforme já foi visto em outra parte (4).
A piada seguinte reflete a alta opinião geral da habilidade comercial do Cardeal. Quando Spellman estava para entregar o espírito (morreu em 1967) observou suas filas de abençoados, escolheu uma cadeira e sentou-se. O bendito Pedro depressa grunhiu em desaprovação: “desculpe, Eminência, seu lugar é lá” e apontou uma fila de corretores de bolsa!
S. Pedro tinha razão, pois o Cardeal Spellman era um mestre do big business em favor de sua Igreja. Um exemplo típico provará isso. Um dos golpes mais proveitosos foi a compra em 1952, por apenas US$ 400.000 de 250 acres de terra, que fazia parte do imóvel campestre do Reid, do Ohhir Hallurchase, New York. O Cardeal havia instalado ali, ao custo de 15 milhões de dólares o Manhatatan Ville College, que ficava no alto Manhattan... Foi então que ele vendeu o sítio do antigo colégio à cidade e com esta simples operação o Cardeal faturou 8.800.000 dólares – um golpe de mestre. Até 1964 Spellman já havia construído 130 novas escolas católicas, 37 igrejas e 5 grandes hospitais. Ele gastou 90 milhões por ano em construção. Em 1960, um exame do magazine financeiro Fortune calculou que as obras católicas de caridade rendiam 50 milhões anualmente e suas escolas, 22 milhões. Spellman costumava levar ao Papa um milhão de dólares do vintém de Pedro, anualmente, sempre em janeiro. Este era coletado geralmente dentro de todas as igrejas de New York.
Novamente, conforme o autorizado “Fortune”, em 1960, os lucros e coletas da arquidiocese de Spellman atingiram 150 milhões de dólares. Não é de admirar que esse Cardeal fosse apelidado de “Cardeal Sacoleiro de Dólares”.
Pio XII, instruído por Spellman, não ficava atrás. Um amigo do autor que serviu três papas intimamente, tendo com eles contatos diários, deu testemunho de que, acima de qualquer taxa, até o tempo em que Pio XII foi sucedido por João XXIII, a ascendência financeira dos Estados Unidos sobre o Vaticano era simplesmente o critério único baseado no qual a Igreja como um todo, no que se referia a assuntos comerciais, era inspirada (5). Hoje é ainda mais verdadeiro. E conquanto outros indivíduos eclesiásticos americanos tivessem uma grande parcela de influência, era a hierarquia americana como um todo que mais tinha ascendência dentro do Vaticano. Isso se devia ao seu discernimento financeiro, sua incansável maneira de conduzir-se e, naturalmente ao seu interminável sucesso em consegui-lo. Uma promoção expansionista de negócios múltiplos, de programas de construção, de transações comerciais e, mais que tudo, de uma bem planejada administração, tornaram-se a chave do sucesso para essa posição privilegiada da Igreja em geral e sobre as operações financeiras do Vaticano em particular.
A vida e a carreira de outro prelado americano, o Cardeal Cushing, são típicos. O sucesso deste cardeal foi indevidamente magnificado por uma imprensa católica leiga bajuladora. Contudo, foi mais que a história de uma vida em matéria de sucesso eclesiástico. Mesmo que poucos prelados pudessem a ele se igualar nos legendários atributos de ganhar dinheiro, contudo sucessos idênticos desse tipo, quando multiplicados por centenas ou milhares de vezes, causarão um impacto verdadeiramente impressionante na sociedade em que acontecem, e muitos mais dentro dos cofres de seus bancos. O estabelecimento, neste caso, a Igreja Católica, que pode produzir híbridos financeiros e eclesiásticos desse tipo, é algo a ser apreciado com admiração e respeito, mesmo em se tratando de Roma.
Cushing era o confidente do clã Kennedy e amigo íntimo do presidente Kennedy assassinado. Em 1921, depois de ter passado os primeiros onze meses como padre paroquial, ele foi transformado em coletor de fundos da Sociedade para a Propagação da Fé. Em 1948, ele foi temporariamente nomeado administrador da arquidiocese, em razão do sucesso no cargo anterior, isto é, arrecadar dinheiro. De 1944 a 1969, sua arquidiocese se expandiu ao ponto de englobar dois milhões de católicos, a terceira maior, depois de Chicago e Nova York. Nesta ele instalou mais de sessenta ordens religiosas e deu tanto dinheiro aos Jesuítas que cada jesuíta na Província da Nova Inglaterra ficou na obrigação de rezar 3 missas pela sua alma.
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