quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 44

Sua parceria com o Fascismo, portanto, quando analisada por este prisma era tão natural quanto a aliança com as corporações de petróleo dos Estados Unidos na aventura do México. O fato de que a Igreja Católica se preocupava mais com suas possessões terrenas do que com os tesouros espirituais foi demonstrado por seu comportamento ou talvez atividades em relação ao bolchevismo. Estes pareceriam quase inacreditáveis se não fossem concretos e bem documentados uma vez que a verdade sobre o assunto é que ela secretamente deu as boas vindas à Revolução Bolchevista.

Isto parece a mais absurda contradição, em vista da imediata, inequívoca e rompante condenação e oposição da Igreja Católica à Rússia Vermelha durante quase meio século. Contudo, enquanto suas ações anti-bolchevistas eram genuínas e efetivas, suas atividades secretas em dar as boas vindas ao Bolchevismo não eram menos reais. Essas políticas duplas conduzidas ao mesmo tempo em todos os níveis durante um período de anos, eram o resultado dos dois mais básicos procedimentos que sempre tinham aviltado sua conduta através de sua longa existência – insaciável fome de engrandecimento eclesiástico e insaciável apetite por qualquer projeção de potencial riqueza terrena.

Com a queda da Rússia czarista e o advento do Bolchevismo ateísta, a Igreja Católica vislumbrou um vasto panorama dessa dupla conquista que se abria diante dos seus olhos. Os Bolchevistas, deve-se lembrar, fiéis à sua palavra, haviam aniquilado a Igreja Ortodoxa. A Igreja Ortodoxa Russa, tendo-se identificado com os czares, era secundada apenas pela coroa em prestígio, poder e possessões. Sua fortuna era colossal, o parasitismo do seu clero, inacreditável. A destruição do sistema czarista, portanto, trouxe consigo a inevitável destruição da Igreja Ortodoxa.

Para o Vaticano, que havia bancado a guerra contra a Igreja Ortodoxa, desde o século onze, a queda da sua rival milenar era boa demais para ser verdade (1). A maldade do Bolchevismo podia, então, ser aceita por ter este destruído a Igreja Ortodoxa com a condição, contudo, essa desse a Roma campo livre para terminar a tarefa de eliminar a Ortodoxia na Rússia, de uma vez por todas. O negócio foi fechado e aconteceu que, enquanto o Vaticano fulminava o Bolchevismo, no Kremlin, os diplomatas do Vaticano em Roma começavam as negociações secretas. Lenin concordava com o Papa. A maquinária foi estabelecida. As comissões papais, algumas lideradas por prelados americanos, eram despachadas para a Rússia Bolchevista, disfarçadas de missões de combate à fome e coisa semelhante.

Em Roma e em qualquer lugar aos padres católicos eram dadas instruções aceleradas sobre o ritual e a Teologia Ortodoxa Russa por todos os modos, incluindo os reclamos de suas antigas riquezas e terras; estas para serem colocadas num estágio posterior, uma vez que o Catolicismo tivesse sucesso. Grandiosos esquemas foram impressos para desapossar a Igreja Ortodoxa em todos os sentidos. Contudo, Lenin, primeiro, depois seus sucessores, começaram a se acautelar contra o jogo do Vaticano. Ele criou dificuldaees e a lua de mel secreta do Kremlin-Vaticano foi abruptamente interrompida em cerca de 1925. Havia durado quase desde o início da Revolução Bolchevista, de 1917-1918.

Em 1922, Mussolini tornou-se Primeiro Ministro da Itália. O Vaticano que ainda estava de namoro com o Bolchevismo, resolveu dar-lhe um gelo. De fato, a Igreja até lançou um partido católico para combater o Fascismo. Em 1925 contudo, após terem sido cortadas as negociações secretas com o Kremlin, o Vaticano reorientou sua política e adotou o Fascismo. Fez um acordo secreto com Mussolini. O papa iria bancar o Fascismo contanto que Mussolini bancasse o Vaticano e lutasse contra o Bolchevismo. No ano seguinte, 1926, ao líder do Partido Católico foi ordenado pelo próprio papa (Pio XI) desmanchar o partido (2) e seus membros apoiarem o Fascismo.

Em 1929 o papa assinou o Tratado Laterano e uma Concordata com Mussolini. O noivado Vaticano-Fascismo tornou-se um casamento oficial.

A união Fascista-Católica foi um evento da maior importância para a Europa e o Ocidente, pois criou dois precedentes ou, quem sabe, estabeleceu os fundamentos para as duas políticas básicas do Catolicismo. A primeira foi aquela pela qual a Igreja Católica identificou-se com os dois extremos regimes do Ocidente – os da extrema direita conservadora – o Fascismo e o Nazismo – cujo objetivo principal era destruir o Bolchevismo russo ou de qualquer parte (3), o segundo, e o que é de interesse importante ao nosso exame atual foi a assinatura do Tratado Laterano.

Esse Tratado foi o selo oficial para acabar com as pressões temporais da Igreja, às quais ela renunciava o presente que Pepino lhe havia devolvido no século 8, conhecido como Estados Papais.

Quando em 1870 os italianos se apossaram dos Estados Papais, estes se fecharam dentro das paredes do Vaticano em protesto contra o “roubo”, obstinadamente recusando-se a colocar os pés fora do Vaticano. Pio IX, Leão XIII, Pio X, Benedito XV e Pio XI, uma vez dentro do Vaticano, jamais dele saíram. Contudo, com o Tratado, os papas reconheceram seu antigo território papal como parte integral da Itália. Em troca desse reconhecimento, eles exigiram e receberam o pagamento de tudo que lhes havia pertencido antes.

Foi tudo sólido. A Igreja Católica, uma religião que diz respeito às coisas celestiais barganhou de meneira comercial uma mercadoria de modo bastante moderno. Ela não deu nada de graça. Ela exigiu e barganhou por investimentos sonantes, sólidos e terrenos em forma de dinheiro, crédito bancário e bônus do governo. Nada dessa bobagem evangélica de pobreza no negócio e muito menos daquele conselho dado pelo Homem que ela diz representar – vai, vende o que tens e dá aos pobres.

O Tratado foi assinado em fevereiro de 1929. A Itália reconheceu a soberania da Santa Sé, baseada no Estado do Vaticano, cobrindo uma área de menos de uma milha quadrada. O papa, dentro dessa área é o absoluto governante com poder religioso, judicial e legislativo. Os vastos territórios que a Igreja havia governado indignamente, com apropriações indébitas, e arruinado durante quase um milênio, ficavam agora resumidas a um Estado microscópico da atualidade. Contudo a igreja, conquanto resignando-se a essa perda, insistiu em sua libra de carne e tentou conseguir o mais que pôde nesse negócio. A Itália Fascista pagou-lhe 750 milhões de liras e os italianos 5% em somas no valor nominal de cem milhões de liras.

Fisicamente o Vaticano fora reduzido ao menor Estado do mundo – uma máquina eclesiástica independente e operante de uma teocracia pendente numa micro fatia de poeira. A soma que recebeu, embora aparentemente grande, era pequena comparada aos milhares de milhas quadradas que ela teve de entregar.

Contudo os milhões que ela recebeu como “compensação” tornaram-se as sementes dos bilhões que ela estava para amealhar, nas décadas seguintes. Ele quase já havia descartado seus modos habituais de acumular riquezas terrenas. A partir de então ele iria multiplicar esses milhões da mesma maneira da sociedade contemporânea – isto é, ele iria superar as grandes organizações industriais e financeiras, os trusts e as corporações mundiais dentro do seu próprio jogo, transformando-se, assim num colosso mamônico com o seu próprio direito.

Os anos de 1929-1930, portanto tornaram-se o ponto de partida nos anais da Igreja Católica, pois o Tratado Laterano encerrou uma era, abrindo outra simultaneamente. Foi o início do período em que a riqueza do futuro iria sobrepujar, além da imaginação, as riquezas do passado.

Capítulo 17

Os Primeiros Fundamentos de um Império

Católico Financeiro no Século 20

Seguindo o Tratado Laterano de fevereiro de 1929, o então papa reinante Pio XI, estabeleceu uma agência especial para administrar os cem milhões de dólares que a Itália Fascista havia colocado nos cofres do Vaticano. Com essa agência a Igreja Católica iniciou uma nova marca na política, a qual tem caracterizado suas ações desde então, isto é, investimentos internacionais. Foi um passo que, embora conduzindo-a por uma estrada perigosa de especulação internacional, oscilações financeiras e riscos políticos, contudo dentro de um espantoso curto espaço de tempo ela conseguiu amealhar ricos dividendos. O ano de 1930 pode ser chamado de início dessa nova era.

A agência não era uma novidade, brotando de antiga parentela – Administração dos Bens da Santa Sé, originalmente estabelecida pelo Papa Leão XIII lá pelo ano de 1878. Esta fora instituída para tratar de assuntos financeiros da transformada e obsoleta economia papal, após a perda dos seus domínios temporais em 1870.

Agora o papado se lançava em novos esquemas para o investimento de milhões agora ao seu dispor. Isso a Igreja fez investindo uma grande proporção dos mesmos na própria Itália. Graças a isso o dinheiro do Vaticano abriu caminho dentro dos labirintos das altas finanças, comércio, indústria, imóveis italianos, etc. O processo foi grandemente facilitado pelas relações políticas favoráveis com a ditadura fascista, mas se este foi um fator importante, contudo não foi o único. Outros não menos importantes contribuíram para deslanchar a bem sucedida operação financeira. Eram de várias naturezas, mas suas atividades combinadas desempenharam a parte principal nessa aventura.

Algumas das principais podem ser sumariadas no fato de que: a) o Vaticano tinha os seus próprios bancos; b) ele havia sido isentado pelo Fascismo de taxas esmagadoras e; c) ele tinha ao seu serviço uma máquina de espionagem não igualada por nenhuma outra. O Vaticano direta ou indiretamente controlava várias organizações bancárias bem estabelecidas, tais como o Banco do Espírito Santo, fundado em Roma em 1608, e o Banco de Roma, fundado em 1808. Além destes, ele mexia nos interesses financeiros da maquinária interna de vários outros interesses banqueiros e financeiros, os quais, embora aparentemente muito longe do Vaticano, contudo cooperavam estreitamente com este.

Mussolini concordara em isentar a maior parte dos investimentos da taxação, acrescentando assim novos milhões aos já recebidos.

A rede de espionagem do Vaticano, representada pela mais alta hierarquia, bem como pelos católicos colocados em posições chaves no mundo financeiro e industrial, supriam os investidores do Vaticano com informações altamente confidenciais, não disponíveis a ninguém mais, possibilitando assim que o Vaticano conseguisse especulações proveitosas antes do público em geral e, realmente, até antes dos centros oficiais financeiros da Itália e do exterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doações para manutenção

341- Banco Itaú

Ag. 0387 c/c 25770-2


104 - Caixa Econômica Federal

Ag. 4402 c/c 2851-5 Op. 013