sexta-feira, 9 de abril de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 32

que a explosão não tivesse ocorrido antes. O fenômeno de Martinho Lutero, conseqüentemente, não foi inesperado. O frade alemão, sem se aperceber, tinha se tornado o porta-voz, não tanto de si mesmo, suas dúvidas e a corrupção do Catolicismo Romano quando vista à luz da Escritura, mas de um populacho moroso e ressentido, que já não podia sofrer com a antiga passividade a degeneração mamônica deste sistema religioso, governado como era por vilões depravados, por legiões de libertinos opulentos e por hordas de parasitas leigos e eclesiásticos, todos vivendo sobre os imensos e paramentados interesses de uma Cristandade papal totalmente saturada por uma sede cada vez mais insaciável de possessões materiais deste mundo.

Pois verdadeiramente, a Igreja dificilmente poderia possuir mais do que já possuía – ou ser mais corrupta, ou alienar-se ela própria mais do espírito da tradição apostólica. Mosteiros, conventos, abadias haviam se tornado os parasitários senhores de bens imóveis de vastos estados através da Europa. Milhares de seus companheiros haviam substituído os velhos proprietários da terra e tinham provado ser mestres mais severos dos trabalhadores no cultivo dos campos do que haviam sido os antigos. O trabalho gratuito, dízimos, taxas de todo tipo haviam contribuído para engordar as populações indolentes das multiplicadas ordens monásticas, enquanto simultaneamente empobrecendo o feudo rural dos semi abundantes vilarejos e as plebes absolutamente pobres das cidades. Os palácios episcopais tinham se tornado opulentas moradias dos prelados amantes da luxúria, cuja preocupação principal era o lucro que cada diocese arrecadava. Os cardeais compravam e vendiam abertamente ou “permitiam” as rendas de ricas abadias, muitas das quais se tornaram propriedades de barganha sempre que uma nomeação eclesiástica tinha de ser feita. Na França e na Alemanha, como na Inglaterra, a liderança dos mosteiros e conventos tinha se tornado o domínio de filhos e filhas dos ricos e poderosos.

Os próprios papas tinham dado exemplo de vida perdulária, corrupção e uma ostensiva venda de qualquer coisa sagrada para ganhar dinheiro. De fato, antes da morte de um papa, a mais escandalosa barganha acontecia entre os cardeais que tinham de eleger o próximo pontífice – às vezes mesmo antes que o papa moribundo finalmente expirasse. O dinheiro fluía da mão de um cardeal para o outro. Os candidatos ambiciosos faziam promessas. Ofereciam ouro e compravam votos com ostentação que parecia incrível, se não fosse verdadeira.

Em adição ao fato dos cardeais comprarem e venderem seus votos pelas mais altas ofertas para o papado, os agentes dos príncipes, reis e imperadores penetravam abertamente nos conclaves com ofertas de vastas somas de ouro ou bens imóveis para induzir os cardeais a votar nos candidatos preferidos pelos cabos eleitorais da realeza, com o resultado de que muito freqüentemente os papas eram eleitos conforme as ofertas que eles ou os seus protetores tinham podido oferecer aos cardeais eleitores.

Durante séculos os conclaves eram nada além de barganha de lugares onde o papado era comprado ou vendido ao ofertante mais alto. Os cardeais e, portanto os papas, tornaram-se assim as inevitáveis garantias financeiras do jogo sacrílego em que a simonia, corrupção e a barganha desonesta eram os principais fatores.

Deve-se lembrar que nesse período os cardeais eram não apenas príncipes da Igreja. Porém, mais freqüentemente, eles eram também príncipes leigos ou mantinham posições de poder, equivalente ao de um príncipe do reino. A testemunha Cardeal Wolsey, que se tornou chanceler e cardeal em 1515, controlava um poder quase ilimitado e foi o governante virtual da Inglaterra, de 1514 até 1529. Todos os negócios do estado passavam pelas suas mãos, bem como a maior parte dos seus lucros. Ele vivia em régio esplendor. Ele construiu para si mesmo a Hampton Court, que eventualmente excitou a inveja e a ambição de Henrique VIII. O cardeal Wolsey esteve duas vezes em vias de ser eleito papa. Se isso tivesse ocorrido, com toda probabilidade a Igreja da Inglaterra jamais teria nascido. Wolsey foi o protótipo do príncipe da Igreja Romana através da Europa controlando ilimitado poder eclesiástico e temporal, com imensa riqueza, nadando em opulência, esplendor e glória. Os cardeais desta espécie, portanto, quando postos juntos para a eleição de um novo papa, traziam consigo sua temporal pompa, orgulho, vício, ambição, luxúria e sensualidade por dinheiro. Eles agiam como potentados que vinham eleger outro potentado, um papa, de quem podiam retirar ainda mais benefícios.

Durante os séculos 14 e 15 a maior parte dos cardeais, antes de entrar no conclave, trazia para dentro do seu recinto não um simples estofo de palha, pão e água e fervente oração ao Espírito Santo. Muitos deles traziam para dentro a luxúria dos príncipes, um secretário ou secretários, criados, três conclavistas, um sacristão com o seu funcionário, um confessor, dois doutores, um cirurgião, um químico com vários assistentes, dois mestres de cerimônia, mais um carpinteiro, um barbeiro, um pedreiro com seus vários aprendizes, e um número de serventes gerais para assistir as necessidades de Sua Eminência. E não era só. Durante a maior parte dos conclaves, Roma costumava observar procissões de coches de gala, carregando as refeições dos cardeais em caixas pintadas com o brazão de armas de cada Eminência. Estes eram rodeados de açougueiros, mordomos, criados e pedestres, todos vestidos de suntuosas roupas e dirigindo-se a caráter ao conclave, partindo de vários palácios cardinalícios. Isto, podemos lembrar, enquanto se supunha que os cardeais levavam uma vida de austeridade, penitência e oração para ajudar a fazer a escolha certa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doações para manutenção

341- Banco Itaú

Ag. 0387 c/c 25770-2


104 - Caixa Econômica Federal

Ag. 4402 c/c 2851-5 Op. 013