segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 34

Capítulo 13

A Igreja Católica e a fabulosa riqueza

das Colônias Espanholas.

Os caminhos da Providência são inescrutáveis e o modelo do futuro, incompreensível às mentes finitas dos homens. Pois enquanto o último lamentará as perdas de proporções aparentemente apocalípticas, esquemas de tremenda importância serão postos em ação mesmo sem preocupação quanto à sua significação no porvir.

Com a cisão da Europa Católica em dois campos hostis, as sementes do engrandecimento espiritual e temporal da Igreja Romana foram substituídos quase simultaneamente no Ocidente, para aí crescer com um poder jamais sonhado nem mesmo na conturbada Europa do século 16, visto como para os pontífices as Américas recém descobertas, além de se constituírem em oportuno portento, eram também um dos mais maravilhosos sinais delineando as coisas do porvir. Desse modo, quando, apenas algumas décadas após ter Colombo pisado um novo solo, e a Europa ter sido perdida pela Reforma, isso quase fez o mundo católico sucumbir e, os papas se empenharam ardorosamente na conquista de novos horizontes.

Apenas um ano após a descoberta das Américas, o papa deu o primeiro passo nessa direção. Ele emitiu um famoso documento, o qual já vimos, a Bula enviada a Castela, com referência ao Novo Mundo, em 1493, na qual ele designava as Américas exclusivamente a dois países católicos, Espanha e Portugal. No ano seguinte, 1494, no Tratado de Tordesilhas, a linha papal de demarcação entre os dois países foi movida para o meridiano 370 léguas a oeste de Açores. A concessão às duas nações ibéricas foi logo transformada no que realmente pretendia ser, a saber, um monopólio para exclusiva evangelização do continente através das duas nações católicas.

A ação papal foi um sucesso espetacular, pois dentro de um século os emblemas papais haviam sido plantados desde a parte mais ao norte da Califórnia até a parte mais ao sul da América do Sul, e ainda ao longo das linhas costeiras orientais e ocidentais de praticamente todo o hemisfério ocidental. A Divina Providência havia certamente compensado o papado pelas perdas sofridas na Europa, pouco tempo antes. As Américas estavam sendo verdadeiramente convertidas num imenso feudo papal, muitas vezes maior do que o Velho Mundo. A tarefa, contudo, não podia ser completada sem a total cooperação dos governantes temporais, com o resultado de que desde o exato começo, a Igreja e o Estado se tornaram interdependentes.

Sua colaboração, embora imensamente benéfica para ambos, levou ao inevitável conflito, que tão ostensivamente afligiu de novo suas relações, na Velha Europa; isto é, Igreja e Estado se encontravam em disputas tão freqüentemente como havia acontecido no Velho Mundo – de fato até com mais freqüência. Pois desde a Reforma até mesmo os reis católicos haviam se tornado mais ousados em suas exigências pela independência real do jugo papal, com resultado de que, para sua completa perplexidade e raiva dos papas, esses governantes, enquanto lutavam pela Igreja, ao mesmo tempo raramente deixavam passar ocasião de colocar os interesses da coroa antes dos interesses do papado, de modo que as colônias americanas logo chegaram a ser perturbadas pelas duas poderosas e ambiciosas autoridades conflitantes, a eclesiástica e a secular.

Mas enquanto na Europa a Igreja se encontrava do lado perdedor, aqui ela estava no lado vencedor, visto como havia determinado transformar praticamente todo o continente americano num vasto império católico, no qual o seu controle fosse supremo. Em vista disso, ela havia decidido não perder sua autoridade, como a havia perdido na Europa. Enquanto a coroa espanhola cooperasse, tudo muito bem. Quando não mais o fez então começou a guerra entre ambos. A guerra explodia sempre que os interesses econômicos da Igreja Católica eram ameaçados. Suas possessões, que estavam crescendo com maior rapidez, mesmo bem mais do que havia acontecido na Europa, eram intimamente interligadas com o seu poder religioso geralmente, identificado com a sua hierarquia. Altos prelados agarravam terras, imóveis e interesses comerciais, não somente para a própria Igreja, mas também para as dioceses ou, em verdade, para si mesmos. Essas atividades o mais das vezes eram toleradas pelas autoridades civis, até o ponto em que as últimas fossem beneficiadas tanto quanto o clero desse status quo, com sólidas recompensas monetárias e a perspectiva de uma estabilidade geral se ampliando indefinidamente em direção ao futuro. Entretanto, sempre que os benefícios não eram razoavelmente divididos e a Igreja e seus hierarcas se mostravam ambiciosos demais, aí começava o conflito. Às vezes era localizado, porém às vezes suas repercussões atingiam Madri e Roma.

Seria útil ilustrá-lo com um caso característico, o qual, mesmo típico da natureza e relações dos interesses econômicos, civis e eclesiásticos em escala local, contudo tornou-se identificado com o estado geral, econômico e financeiro, a cooperação e o conflito existentes entre Roma e Madri – naquele tempo os dois mais influentes poderes no continente americano. O caso é especialmente significativo uma vez

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