sábado, 4 de abril de 2015

CreioNoFilho
Credo Apostólico referindo-se aos sofrimentos de Jesus Cristo, diz: “Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado…”. Esta confissão feita historicamente pela Igreja até os nossos dias, é ampla e fortemente embasada nas Escrituras Sagradas. A sua fundamentação bíblica, no entanto, não impediu que homens e sistemas teológicos a negassem de forma direta ou indireta, ora afirmando a impossibilidade de Deus sofrer; logo, Jesus Cristo não é Deus, ora afirmando que os fatos narrados nos Evangelhos não são de fato como ocorreram; as descrições, dizem, estariam mais próximas da fé dos evangelistas do que da realidade…
Para nós, entretanto, conforme já estudamos, a Bíblia é o registro fiel, inerrante e infalível da Palavra de Deus, sendo a nossa fé gerada e amparada pelo Espírito através da Palavra (Rm 10.17; Ef 2.8).
Estudemos agora, o que a Bíblia nos ensina a respeito dos sofrimentos de Cristo, nosso Senhor.

AS CAUSAS DO SOFRIMENTO DE CRISTO:

O PECADO HUMANO:

O pecado de nossos primeiros pais bem como o de toda a humanidade, visto que todos pecaram (Rm 3.23; 5.12), trouxe sobre toda a natureza um estado de maldição e juízo (Gn 3.17-19; Rm 8.20-23); tendo agora, o homem que arcar com as conseqüências de sua escolha, estando irremediavelmente perdido, já que nele estava o símbolo da total impossibilidade de agradar a Deus, reconciliando-se com ele. Agora ele tornou-se escravo do pecado, tendo a sua vontade governada por este tirano (Jo 8.34).
A impossibilidade do homem realça a possibilidade de Deus; o possível para o homem o é por Deus; contudo, é na impossibilidade do homem que muitas vezes ele se lembra do Deus Todo-Poderoso. O pecado do homem, permitido por Deus, pôs em andamento a execução histórica do Plano eterno e sábio de Deus, para salvar o seu povo escolhido desde à eternidade. Sem o pecado não seria necessário o sacrifício de Cristo e, por outro lado, o pecado não obriga Deus a enviar o seu Filho para morrer pelo seu povo; Deus não é obrigado a nos salvar; ele o faz por sua graça. Com isso, não chegamos ao ponto de afirma que “Deus seja a vítima do mal”,[1] mas que as conseqüências do pecado foram levadas voluntariamente por Cristo na cruz, a fim de conduzir o seu povo de forma definitiva a vencer o mal.

A JUSTIÇA E O AMOR RECONCILIADOR DE DEUS:

Deus não é obrigado a salvar pessoa alguma; todavia ele o faz! Somos todos igualmente devedores à graça de Deus.
Deus sempre age em harmonia com o seu ser. O homem é pecador e, por isso, precisa ser punido pelo seu ato de rebelião contra Deus; a disciplina faz parte da execução da justiça eterna de Deus. Por outro lado, Deus em seu amor eterno, infinito e causado em si mesmo – visto que não há nada em nós que mereça ou mesmo desperte o amor de Deus –, deseja salvá-lo (Jr 31.3; Ef 1.3-14). A justiça de Deus é santa e o seu amor é real; a graça de Deus não é barata; ela tem sempre um alto preço para Deus. A graça é a própria fonte do Evangelho; sem a graça de Deus não haveria boas novas de salvação; todos nós herdaríamos as conseqüências eternas dos nossos pecados. Todavia, a graça reina e Jesus Cristo é a personificação da graça; ele encarna a graça e a verdade (Jo 1.17; 14.6). Ele é a causa, o conteúdo e a manifestação da graça de Deus; falar de Cristo é falar da graça. Deste modo, Deus tornou-se um de nós (Jo 1.14; Gl 4.4,5), a fim de resgatar-nos do poder e maldição do pecado. “Deus, que é justo, pode perdoar pecado porque ele já puniu o pecado na Pessoa de seu unigênito Filho. (…) Deus proclama sua eterna justiça e ainda pode perdoar os pecados daqueles que crêem em Jesus – eis uma terribilíssima, uma profundíssima declaração.”[2]
Os sacrifícios do Antigo Testamento denotam a iniciativa do Deus Justo e Amoroso que providencia a reconciliação de seu povo pecador[3] – porém igualmente amado e eleito –, consigo mesmo, encontrando este processo, a sua plenitude e ápice em Jesus Cristo: O Verbo encarnado. “Em resumo ‘tudo é de Deus’: o desejo de perdoar e reconciliar, os meios indicados, a provisão da vítima vindo do seu próprio seio, mediante preço infinito. Tudo acontece dentro da própria vida de Deus: pois se tomamos a Cristologia do Novo Testamento, temos de afirmar que ‘Deus estava em Cristo’ neste grande sacrifício expiatório, e que o Sacerdote e a Vítima eram o mesmo Deus”.[4]
Devemos, portanto, enfatizar que mesmo no Antigo Testamento, os patriarcas, os profetas e o povo em geral foram perdoados, não porque ofereceram sacrifícios, mas sim, pela fé no Cristo que viria. A obra de Cristo envolve todos os crentes: todos os fiéis do passado, presente e futuro.[5] “A única maneira de alguém ser perdoado, antes de Cristo, depois de Cristo e em qualquer ocasião, é através de Cristo, e este crucificado”.[6] A obra de Cristo envolve todo o seu povo, ninguém ficará de fora nem jamais houve ou haverá redenção fora do sacrifício único e vicário de Cristo: a obra de Cristo é completa e suficiente “…. Em cada época, desde o princípio, houve pecados que necessitavam de expiação. Portanto, a menos que o sacrifício de Cristo fosse eficaz, nenhum dos [antigos] pais haveria obtido a salvação. Visto que se achavam sujeitos à ira divina, qualquer remédio para livrá-los teria resultado em nada, se Cristo, ao sofrer uma vez por todas, não sofresse o suficiente para reconciliar os homens com a graça de Deus, desde o princípio do mundo e até ao fim. A não ser que desejemos muitas mortes, contentemo-nos com um só sacrifício. (…) Não está no poder do homem inventar sacrifícios como lhe apraz. Eis aqui uma verdade expressa pelo Espírito Santo, a saber: que os pecados não são expiados por um sacrifício, a menos que haja derramamento de sangue. Por conseguinte, a idéia de que Cristo é sacrificado muitas vezes não passa de uma invenção diabólica”.[7]
Paulo nos diz que o triunfo de Cristo em nos perdoar, concedendo-nos vida, foi manifesto na cruz do Calvário: “E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões, e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.13-15).
É importante observar que a Bíblia não faz distinção entre o amor de Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito Santo; o sacrifício do Filho revela o amor do Trino Deus: o Pai não passou a nos amar porque o seu Filho morreu por nós; antes, o Filho morreu por nós porque o Trino Deus eternamente nos amou e confiou-nos ao Filho (Jo 3.16; 10.22-30; 15.16; 17.6-26; Rm 5.8; 1Jo 4.9). O Filho reconciliou-nos com o Pai e com o nosso próximo através da cruz (Ef 2.11-22; Cl 1.19-20). “Nenhum estudo da expiação pode ser devidamente desenvolvido sem reconhecer em primeiro lugar o livre e soberano amor de Deus (…) Este amor é a causa ou a fonte da expiação.”[8]

A VOLUNTARIEDADE DO FILHO:

A vinda de Jesus Cristo e todos os seus atos foram norteados pela sua obediência ao Pai e pela consciência de que era necessário assim fazê-lo, tendo sempre como meta, glorificar a Deus e salvar o seu povo (Jo 4.34; 5.30; 6.38,39; 10.10-18; 17.1-8).
Desta forma, a obra de Cristo foi feita com espírito voluntário; ele assumiu o nosso lugar morrendo sob o estigma da maldição, resgatando-nos da decorrente condenação, por sua livre graça (Gl 3.13,14). Assim, o que era impossível ao homem – ter acesso a Deus e expiar o seu próprio pecado –, Jesus realizou perfeita e vicariamente! (1Pe 3.18; Hb 7.26-28; 9.23-28; 10.10-18). “Na cruz, a vontade do Pai e a vontade do Filho estavam em perfeita harmonia. Jamais devemos supor que o Filho se ofereceu para fazer alguma coisa contra a vontade do Pai, ou que o Pai exigiu do Filho alguma coisa contra a própria vontade deste”.9 “A morte de Jesus pelo pecado foi um ato de auto-sacrifício e segundo a vontade de Deus Pai”.10Voltaremos a este assunto em outro tópico.

[1] Cf. Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 190-191.
[2] D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, p. 420.
[3] “O objetivo dos sacrifícios era que Deus olhasse para o povo pecador de uma maneira benigna, de uma maneira que revelasse prontidão em recebê-lo.” [D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, p. 406].
[4] Donald M. Baillie, Deus Estava em Cristo, São Paulo: ASTE., 1964, p. 215.
[5] “Quando o Filho de Deus sofreu e morreu, Ele assim expiou os pecados de todos os que o aceitaram ou iriam aceitá-lo por meio de uma fé viva, ou seja, por todos os crentes de ambas as dispensações. Os méritos da cruz extendem-se tanto para trás como para adiante” [W. Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 3.25-26), p. 178].
[6] D. Martyn Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: FIEL., 1984, p. 359. “Ninguém pode dizer, nem por um momento, que pessoas como Davi, Abraão, Isaque e Jacó não foram perdoadas. Mas não o foram por causa daqueles sacrifícios que ofereceram. Eles foram perdoados porque olhavam para Cristo. Não percebiam isso claramente, mas criam no ensinamento e faziam essas ofertas pela fé. Criam na Palavra de Deus, que Ele um dia no porvir, proveria um sacrifício, e pela fé se mantiveram firmes nisso. Foi a fé em Cristo que os salvou, exatamente como é a fé em Cristo que salva agora” (D.M. Lloyd-Jones, A Cruz: A Justificação de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (s.d.), p. 9-10).
[7] João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 9.26), p. 245-246. “A razão pela qual Deus ordenara que se oferecessem vítimas como expressão de ações de graça foi, como é bem notório, para ensinar ao povo que seus louvores eram contaminados pelo pecado, e que necessitavam de ser santificados exteriormente. Por mais que proponhamos a nós mesmos louvar o nome de Deus, outra coisa não fazemos senão profaná-lo com nossos lábios impuros, não houvera Cristo se oferecido em sacrifício com o propósito de santificar a nós e às nossas atividades sagradas [Hb 10.7]. É através dele, como aprendemos do apóstolo, que nossos louvores são aceitos” [João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, Vol. 2, (Sl 66.15), p. 631].
[8] John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Cultura Cristã, 1993, p. 11, 13.

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