segunda-feira, 6 de abril de 2015

CreioNoFilho
A primeira tentativa de se negar a ressurreição de Cristo foi feita pelos próprios sacerdotes judeus. Justamente aqueles que deveriam se arrepender de seus erros, tentam, diante das evidências dos fatos, ocultar a verdade mediante suborno (Cf. Mt 28.11-15). Entretanto, eles nada podiam fazer de eficaz contra a realidade do Senhor Jesus ressurreto.
Aqui não nos ocuparemos com as tentativas dos incrédulos em negar o fato da ressurreição; para nós, basta o que a Bíblia nos diz; todavia, apresentaremos alguns elementos bíblicos que manifestam com clareza a realidade da ressurreição de Cristo.

O TÚMULO VAZIO

Mateus registra que um anjo do Senhor removeu a pedra (de cerca de duas toneladas)[4] que fechara o sepulcro de Jesus (Mt 28.2-4); certamente isto não foi feito para que Jesus pudesse sair, visto que a matéria não servia de empecilho para o corpo glorificado do Senhor ressurreto (Cf. Jo 20.19,26); todavia isto foi feito, segundo me parece, a fim de que primeiramente Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José (Mt 27.56,61; 28.1), pudessem constatar com os seus próprios olhos o túmulo vazio (Lc 24.1-3) e, posteriormente, também o fizessem João e Pedro (Jo 20.1-10). O túmulo continuou vazio como evidência concreta da ausência do corpo de Jesus. Todavia, o túmulo vazio pode ser explicado de três formas: 1) Os discípulos de Jesus levaram o corpo; 2) Os inimigos de Jesus levaram o corpo; ou 3) ele realmente ressuscitou.
Analisemos rapidamente as possibilidades: Quanto à primeira, podemos observar que não aconteceu, pois eles ficaram desanimados e desesperados com a morte de Jesus, não esperando ressurreição alguma (Cf. Lc 24.17-21;36,37); e, mesmo que eles tentassem raptar o corpo de Jesus, isto seria impossível visto que havia uma escolta de sobreaviso guardando o túmulo (Cf. Mt 27.62-66). O mesmo é válido para a possibilidade dos inimigos de Jesus tentarem roubar o seu corpo; e, também, por que eles fariam isso? Para dar uma pista errada aos crédulos? Ora, se fosse assim, e o rapto tivesse ocorrido, quando os discípulos começassem a proclamar a ressurreição de Cristo, eles viriam a público apresentando o corpo morto de Cristo ou alguma evidência irrefutável, silenciando definitivamente a pregação apostólica e pondo fim à Igreja de Cristo; entretanto eles silenciaram; tentaram pela força fazê-los calar, visto que não tinham como argumentar contra a evidência do túmulo vazio. Jesus realmente ressuscitou!

AS APARIÇÕES DE JESUS

O Senhor ressurreto apareceu durante quarenta dias (At 1.3) a várias pessoas em cerca de 13 ocasiões diferentes, dando prova evidente da sua ressurreição. Paulo faz um sumário das aparições de Jesus ressurreto (1Co 15.3-8).

A TRANSFORMAÇÃO DOS DISCÍPULOS

Apesar de sua a priori autoconfiança ingênua, os discípulos, diante da prisão de Jesus, fogem deixando-o em mãos de seus algozes (Mt 26.33-35;56). Após a sua crucificação, estão atemorizados, às portas trancadas (Jo 20.19,26); agora, após a confirmação da ressurreição de Cristo, Pedro – que antes negou a Cristo três vezes –, juntamente com João, dá testemunho corajoso diante das autoridades judaicas (At 4.13,18-20; 5.29). Esta transformação só pode ser explicada pela certeza da presença confortadora do Cristo vivo entre eles (Mt 28.20). Os apóstolos jamais extrairiam esta coragem de uma mentira por eles inventada; esta ousadia era fruto do Espírito de Cristo que neles habitava (2Tm 1.7).

A PREGAÇÃO APOSTÓLICA

A certeza e o significado da ressurreição de Cristo estavam tão nítidos na mente e nos corações dos discípulos, que todos os seus sermões tinham como clímax histórico, a ressurreição. A mensagem apostólica apontava para a vitória de Deus sobre o pecado e a morte, por meio da ressurreição de Cristo. A pregação apostólica se baseava nas Palavras e nos atos salvadores de Deus na História; e, a ressurreição foi um fato histórico (Ver: At 1.22; 2.24; 3.15; 4.10,33. 5.30; 10.39-41; 17.2,3,17,18; 26.23; 1Co 15.12).
Como temos enfatizado, Paulo em Atenas, “pregava (εὐαγγελίζομαι) a Jesus e a ressurreição” (At 17.18). A ressurreição era a tônica de toda mensagem apostólica; sem a ressurreição de Cristo não haveria pregação, nem fé, nem esperança. No livro de Atos, não encontramos nenhum sermão em que a ressurreição não fizesse parte da proclamação (At 8.5; Rm 10.8-10; 1Co 15.1,3,4,12; 2Tm 2.8). Mesmo que muitos estudiosos céticos não creiam na ressurreição de Cristo, têm de admitir: os discípulos criam e a proclamavam.

A CONVERSÃO DE MUITÍSSIMOS SACERDOTES

Humanamente falando, os sacerdotes judeus para aceitarem a pregação de Jesus como o Cristo, precisavam estar certos da realidade da sua ressurreição, já que tudo parecia ser o oposto (por exemplo: A crença predominante de um Messias militar, o boato forjado pelos principais sacerdotes de que os discípulos de Jesus roubaram o seu corpo, etc.). Entretanto, o Deus que age mediante a verdade, agiu em suas mentes e corações por meio da realidade da ressurreição histórica de Cristo (Cf. At 6.7).

A CONVERSÃO DE SAULO

Saulo teve a sua vida transformada pelo confronto com o Cristo ressurreto (At 9.1-6). Saulo, o perseguidor, agora é Paulo o perseguido, disposto a dar a sua vida – como de fato deu –, por amor ao Cristo vivo (Vejam-se: At 20.22-24; 21.13; 2Tm 4.6-8). Paulo transforma-se no pregador efetivo do Cristo ressurreto, o qual lhe aparecera no caminho de Damasco e, era uma realidade viva em sua existência (At 22.6-10; 26.8-18). Vinte anos depois do seu encontro com Senhor vivo, Paulo se inclui entre aqueles que viram o Senhor ressurreto, dizendo: “E, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo” (1Co 15.8).

A OBSERVÂNCIA DO DOMINGO [5]

É fato que no Novo Testamento não encontramos nenhuma ordem ou mesmo ensinamento para a Igreja se reunir no domingo; se isto é assim, por que, então, a Igreja substituiu o sábado pelo domingo? A resposta para esta pergunta encontra-se nas páginas do Novo Testamento e, também, na História da Igreja dos séculos posteriores. O Novo Testamento nos mostra que a ressurreição de Cristo deu-se “no primeiro dia da semana” (domingo) e, que algumas das suas aparições deram-se também no domingo (Cf. Mc 16.2,9; Jo 20.1,19,26).
O sábado está relacionado ao evento histórico da libertação do povo do Egito (Dt 5.15). Além, obviamente da lembrança desse fato histórico, o sábado assume um caráter de gratidão a Deus por sua libertação e preservação; é um convite irrestrito a meditarmos na bondade e misericórdia de Deus para com o seu povo. Guardar o sábado significa preservar a aliança (Ex 31.16).
No Novo Testamento, a associação do dia de descanso com a ressurreição de Cristo foi mais do que natural, visto que é em Cristo que encontramos a verdadeira e total liberdade (Jo 8.32,36) e o padrão que assinala “antecipadamente a perfeição da obra recriadora”.[6] “Na ressurreição, Deus trouxe ao cumprimento final seu programa criativo/redentivo. A criação original produziu o mundo. Mas a criação-ressurreição trouxe o mundo à sua destinada perfeição”.[7]
A Igreja do Novo Testamento era primordialmente composta de judeus, os quais jamais mudariam a guarda do sábado – que era um sinal da aliança feita entre Deus e o povo (Ex 31.13; Ez 20.12,20) –, pelo domingo, se não tivesse um motivo bastante consistente e, mais ainda, se não estivessem convictos da aprovação divina. Deve ser mencionado que mesmo as Igrejas estando sempre com um grande número de judeus, em Atos e nas Epístolas, não encontramos nenhuma discussão ou mesmo menção de problemas relacionados à substituição gradual do sábado pelo domingo.
O único motivo que nos parece plausível para esta mudança, é a certeza de que Cristo ressuscitou no primeiro dia da semana, passando aos poucos os cristãos a se reunirem em casas, no primeiro dia da semana, já que ainda não havia templo cristão (At 20.7; 1Co 16.2). Mais tarde, já no final do primeiro século, João narrando a visão que teve do Senhor, diz que a recebeu no “dia do Senhor” (Ap 1.10), provavelmente se referindo ao dia que a Igreja reservara para o culto cristão.
Outro documento que atesta a antiguidade da guarda do domingo por parte da Igreja Cristã, é o Didaquê(c. 120 AD), texto anônimo, o qual usa a mesma linguagem de João se referindo ao domingo como o “dia do Senhor”. Assim, aludindo à reunião da Igreja, diz: “Reunindo-vos no dia do Senhor, parti o pão e dai graças….”.[8]
Do mesmo modo, em outro documento escrito por Justino (100-167 AD), por volta do ano 150 – no qual temos a mais completa descrição do culto na Igreja Primitiva –, temos a mesma referência.
“No dia que se chama do sol [domingo],[9] celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se lêem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos [quatro Evangelhos] [10] ou os escritos dos profetas….”.[11]
Justino, explicando o motivo porque a Igreja se reunia para cultuar a Deus no domingo, diz: “Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos”.[12]
Portanto, meus irmãos, a observância do primeiro dia da semana é um sinal evidente de que a Igreja sempre creu na ressurreição de Jesus Cristo.

OUTRAS EVIDÊNCIAS

1) A Existência da Igreja

A Igreja Cristã só pode ser explicada e compreendida à luz da ressurreição de Cristo, porque se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé (1Co 15.14,17). Ladd (1911-1984), de modo enfático afirma: “Não foi a esperança da continuidade da vida no além-túmulo, uma confiança na supremacia de Deus sobre a morte ou a convicção da imortalidade do espírito humano que deu origem à igreja e à mensagem a ser proclamada. Foi a crença em um evento acontecido no tempo e no espaço: Jesus de Nazaré ressuscitou dentre os mortos. Fé na ressurreição de Jesus é um fato histórico inevitável. Sem essa evidência não haveria igreja”.[13]

2) A Crença na Divindade de Cristo

Um dos elementos que atestam a divindade de Cristo é o cumprimento das suas promessas. Se Cristo não tivesse ressuscitado, os discípulos jamais aceitariam a sua divindade, pois, assim, Cristo teria sido o motivo de suas decepções (Ver: Lc 24.13-21).

3) A Existência do Novo Testamento

Se Cristo não tivesse ressuscitado, não haveria história a ser contada visto que o Novo Testamento é a narrativa do cumprimento das promessas de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor (1Co 15.1-5).
Estas são apenas algumas evidências que a Bíblia apresenta da ressurreição de Cristo. A ressurreição para nós é um fato que encontra o seu apoio no registro infalível da Palavra de Deus e, isto nos basta; por isso, a nossa confissão é como a de Paulo: “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos….” (1Co 15.20).

[4] Cf. Josh McDowell, As Evidências da Ressurreição de Cristo, São Paulo: Candeia, 1985, p. 77-78.
[5] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Princípios Bíblicos de Adoração Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
[6] Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria Nele (II): In: Fides Reformata, 4/1 (1999), p. 132.
[7] O. Palmer Robertson, Cristo dos Pactos, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1997, p. 66-67. Veja-se: Gerard Van Groningen, O Sábado no Antigo Testamento: Tempo para o Senhor, Tempo de Alegria Nele (II): In: Fides Reformata, 4/1 (1999), p. 136.
[8] Didaquê, XIV. In: J.G. Salvador, ed. O Didaquê, São Paulo: Imprensa Metodista, 1957, p. 75.
[9] Cf. Justino de Roma, I Apologia, São Paulo: Paulus, 1995, 67.7. p. 83-84. Essa prática que tornou-se comum no Novo Testamento, perpetuou-se na Igreja Cristã e, já no segundo século encontramos farto material atestando o culto dominical. (Veja-se: The Epistle of Barnabas, XV. In: Alexander Roberts; James Donaldson, eds. The Ante-Nicene Fathers, Peabody, Massachusetts, Hendrickson Publishers, 1995, Vol. I, p. 147; Carta aos Magnésios, 9. In: Cartas de Santo Inácio de Antioquia, 3ª ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1984, p. 53).
[10] Esta expressão de Justino refere-se aos Evangelhos, conforme ele mesmo diz: “Foi isso o que os Apóstolos nas Memórias por eles escritas, que se chamam Evangelhos....” (Justino de Roma, I Apologia, 66.3. p. 82).
[11] Justino de Roma, I Apologia, 67. p. 83.
[12] Justino de Roma, I Apologia, 67. p. 83-84.
[13] George Eldon Ladd. Teologia do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP, 1985, p. 303.

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