quinta-feira, 11 de março de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 4

escoceses, a se dirigirem ao túmulo do Apóstolo para fazer orações, tornando-se uma fonte de tremendo lucro. Hoje poderíamos chamar isso pelo mais exato e prosaico nome de turismo.

Os sucessores de Pedro promoveram peregrinações ao seu “túmulo” em Roma, muito cedo, embora desde o início eles demonstrassem uma predileção especial pelos mais ricos e poderosos personagens daqueles tempos – isto é, por indivíduos que poderiam oferecer-lhes presentes caros, terra e poder.

Para citar apenas um caso típico, o Papa Leão nos conta como o imperador Valentiniano III e sua família realizavam regularmente suas devoções no túmulo de São Pedro, “tal prática resultando em proveitoso respeito pelos sucessores de Pedro” a quem ofereciam valiosos presentes e o direito a terras.

O Papa Gregório, por outro lado, (590-604) prometeu à rainha Brunilda a remissão dos pecados desta. “O abençoadíssimo Pedro, Príncipe dos Apóstolos... fará com que apareçais purificada de qualquer mancha diante do juiz eterno” (2) enquanto ela concedesse a ele, Gregório, o que lhe pedisse, isto é, dinheiro, imóveis e investiduras, que acarretavam abundantes lucros à Igreja, uma prática que se tornou uma tradição durante os séculos seguintes.

Gregório até foi mais longe e enviou ao nobre Dynamius uma cruz contendo “raspas” das cadeias de São Pedro, dizendo-lhe que usasse a cruz no pescoço pois “seria como se ele estivesse usando as correntes do próprio Pedro” e acrescentava que “estas correntes que haviam sido colocadas ao redor do pescoço do abençoadíssimo Apóstolo Pedro, vos livrará para sempre de vossos pecados”. A oferta, sem dúvida, não foi gratuita. Custou dinheiro e ouro. (3)

Não satisfeito com isto, Gregório começou a distribuir “as chaves de São Pedro, nas quais se encontravam as preciosas raspas, que pela mesma relíquia também remiam pecados”- contanto que os recebedores pagassem à vista ou com presentes custosos. (4)

Uma vez que se tornara conhecido que as relíquias de São Pedro, quando combinadas com o poder espiritual de seus sucessores, podiam remir pecados, era natural que a maioria dos cristãos, através da cristandade, ansiasse ir até o túmulo e assim compartilhar dos tesouros espirituais de Pedro e do papa. Os últimos invariavelmente significavam tesouros terrenos de dinheiro, prata e ouro, ou possessões de imóveis. E aquilo que as peregrinações a Roma chamavam o Perdão de São Pedro, foi iniciado curiosamente na maior parte pelos anglo-saxões.

Em adição ao encorajamento da crença de que o túmulo de Pedro estava em Roma e de que seus sucessores tinham “raspas” das correntes de Pedro, os papas encorajaram a crença de que indo à Cidade Eterna, os peregrinos poderiam se dirigir ao Abençoado Pedro pessoalmente. A Igreja em vez de desencorajar essa impostura desonesta, dava-lhe aprovação. Vejamos por exemplo, São Gregório de Tours, o qual em seu De Gloria Martyrum fez uma detalhada descrição da cerimônia que tinha de ser realizada, a fim de falar com o Príncipe dos Apóstolos. (5)

O peregrino tinha de ajoelhar-se sobre o túmulo de São Pedro, sendo que a abertura do mesmo era coberta com uma porta surpresa. Então, levantando a porta, ele tinha de colocar a sua cabeça pelo buraco, após o que, permanecendo ainda nessa postura, ele tinha de revelar em voz alta o objetivo de sua visita ao santo. Ofertas de dinheiro eram lançadas aí dentro. Em seguida, veneração e submissão deviam ser oferecidas ao sucessor de São Pedro, o papa.

Os resultados religiosos e até mesmo políticos desta prática sobre as nações profundamente ignorantes, como os Anglo-Saxões e sobre os Francos, que os imitavam, pode ser facilmente imaginados. Governantes seculares dos mais altos escalões afluíam a Roma.

No início do século 7, por exemplo, dois príncipes Anglo-Saxões renunciaram aos respectivos tronos e passaram os dias de vida que lhes restavam no túmulo de São Pedro. (6) O próprio Rei Canuto não pôde resistir ao apelo de São Pedro. Uma vez em Roma, tendo prestado homenagem ao papa, ele escreveu uma carta aos nobres do seu reino, na qual dizia: “Informo-vos que venho a Roma rezar pelo perdão dos meus pecados... Fiz isto porque homens sábios têm me ensinado que o Apóstolo São Pedro recebeu do Senhor o grande poder de ligar e desligar, que ele é o porteiro do reino do céu... Por isso achei muito útil obter esse patrocínio diante de Deus”. (7)

A política bem calculada desse culto, uma vez estabelecida largamente, trouxe resultados crescentes em valores para os papas, os quais se apressaram em canalizar o prestígio assim obtido em poderoso instrumento através do qual adquiriram a submissão dos homens das camadas baixas ou altas, tanto no campo espiritual como no secular.

A acumulação de riquezas, a qual tinha não apenas começado a ser uma característica permanente do Catolicismo Romano, mas havia começado a crescer desde o tempo de Constantino, quando esse imperador havia promulgado uma lei referente à aquisição de terras pela Igreja (321 d.C.), agora havia atingido tal estágio que se tornara uma espécie de patrimônio possuído, controlado e administrado pelos Bispos de Roma.

A possessão de propriedades trouxe consigo uma inevitável deterioração e em verdade a corrupção do clero e, portanto, da própria Igreja, visto como o primeiro, ao ver a ânsia da última pelas coisas deste mundo, seguia seu exemplo. O clero, por exemplo, começou a pedir dinheiro em troca do seu trabalho ou ganhar dinheiro com os bens da Igreja.

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