terça-feira, 16 de março de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 9

A primeira materialização espetacular da doação foi vista não muitos anos depois de sua primeira aparição, quando Carlos Magno, o mais potente monarca da Idade Média, concedeu territórios adicionais aos Estados Papais e seguiu para Roma a fim de ser solenemente coroado em São Pedro pelo Papa Leão, como primeiro imperador do Sacro Império Romano, no ano de 800. Os grandes sonhos papais: (a) o reconhecimento da supremacia espiritual dos papas sobre os imperadores e (b) a ressurreição do Império Romano finalmente se tornava real. A subjugação da Coroa Imperial não foi, contudo, o bastante. É verdade que isto colocou a fonte de toda a autoridade civil – isto quer dizer o imperador – sob o domínio do papa, é também verdade que as províncias distantes não podiam ou não deviam seguir o exemplo imperial. A melhor maneira de fazê-los obedecer era pelo controle da administração civil nas províncias, como fora feito em seu centro com o imperador. Como o papa havia tornado o imperador em vassalo seu, assim igualmente os bispos teriam de tornar em vassalos as autoridades civis em suas dioceses. Ao fazer isso o papa, com uma cega obediência, a máquina hierárquica podia controlar à vontade a administração civil de todo o império.

Foi para colocar tal esquema em efeito que mais uma falsificação complementando a Doação apareceu em pouco menos de meio século mais tarde, novamente não se sabe de onde. Em 850 os pseudo-Decretos de Isidoro, mais conhecidos como “Falsos Decretos” fizeram sua primeira aparição oficial. Eles são uma coleção heterogênea de antigos decretos dos concílios e papas. Seu propósito aparente era dar uma base legal às exigências do clero no império apelando a Roma contra os mal feitos dos altos prelados ou das autoridades civis. Embora parte do conteúdo dos Decretos fosse genuína, uma colossal proporção dos mesmos era confusa, forjada e distorcida, senão inteiramente fabricada. Isto foi afim de atingir seu real objetivo, que era conseguir mais poder para o papa, ao dar aos abades, bispos e clérigos em geral, autoridade sobre a jurisdição civil em todas as províncias, estabelecendo assim uma base legal para se evadirem das ordens dos governantes seculares provinciais.

O resultado foi que a Igreja Romana obteve importantes privilégios e dentre estes a imunidade das operações da lei secular, o que a colocava fora da jurisdição de todos os tribunais seculares. Desse modo o clero adquiriu não apenas uma santidade especial que o colocava acima do povo comum, mas uma inviolabilidade pessoal que lhe concedia enorme vantagem em todos os assuntos ou disputas com o poder civil.

Assim graças a uma série de fabricações, falsificações e distorções, levadas a efeito ao longo de vários séculos, e das quais a Doação de Constantino foi a mais espetacular, os papas obtiveram não apenas um vantajoso campo de incalculável valor, a partir do qual puderam estender o seu poder espiritual e temporal, mas os deixou praticamente independentes de toda a autoridade secular. Mais ainda, eles cuidaram para que os estatutos dos imperadores e reis, não menos que a lei civil das nações, fossem minados, grandemente enfraquecidos e de fato obliterados pela recém adquirida onipotência.

Capítulo 4

A Igreja exige propriedade

sobre o mundo ocidental

Uma vez enraizada na tradição e fortalecida pela credulidade dos tempos, a dúbia sementeira da Doação transformou-se em poderoso carvalho, à sombra do qual, o autoritarismo papal floresceu. A partir do nascimento do Império Carolingiano, do ano 800 em diante, os presentes de Pepino, a Doação de Constantino e os Falsos Decretos foram assiduamente usados pelos pontífices a fim de consolidar o seu poder. Isto eles fizeram até que com falsificações adicionais e o exercício arbitrário de poder espiritual e temporal, esses documentos se tornaram a formidável pedra angular sobre a qual eles iriam eventualmente edificar suas exigências políticas e territoriais, sobre cuja rocha se colocava toda a estrutura papal na Idade Média.

À Doação, foram dadas cada vez mais significações pelas sucessivas gerações de teólogos. Sem levar em conta os disparates de suas visões, contudo, todos concordavam numa interpretação fundamental: a Doação dava ao papado o poder e autoridade mais amplos possíveis. Assim, por exemplo, enquanto o Papa Adriano I declarou que Constantino havia “dado o domínio nestas regiões do Ocidente” à Igreja de Roma, Enéas, bispo de Paris, afirmou no ano de 868 que, como Constantino havia declarado que dois imperadores, um do império, outro da Igreja não podiam reinar numa cidade, havia removido sua residência para Constantinopla, colocando o território romano “e vasto número de diversas províncias” sob o governo da Sé Apostólica, após conferir poder real aos sucessores de Pedro.

Os papas se aproveitaram, usando o argumento como uma base para aumentar o seu controle territorial, com a inevitável nova acumulação de riqueza que o acompanhava. Gregório VII (1073) dirigiu todas as suas energias nessa direção. Ele concentrou a jurisdição espiritual e política em si mesmo, de

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