controlavam tanta terra através da França, que o imposto que eles tiravam desta se igualava ao do próprio estado francês. (4)
A França não era exceção. Praticamente cada país na Europa Ocidental estava em idêntica situação. O domínio econômico da Santa Madre Igreja tinha se tornado um estrangulamento coletivo, que estava vagarosa mas inexoravelmente paralisando as estruturas mais vitais das terras inquilinas, do comércio e das finanças da Cristandade. Ela havia se tornado um peso tão morto que a revolta que suas práticas provocaram após ter fervido sob a superfície por centenas de anos explodiu no devido curso com a violência de um terremoto. Ela veio disfarçada em trajes teológicos, quando o martelo de um monge rebelde pregando algumas destas na porta da Igreja, fez Roma tremer em suas bases durante décadas e em verdade nos séculos vindouros.
Capítulo 8
O Turismo da Santa Missa
para cada geração
Tudo aconteceu no Ano 1300 da encarnação de nosso Senhor quando o vigário do Abençoadíssimo Pedro na terra, Papa Bonifácio VIII, proclamou que a partir do Natal anterior até o seguinte e de todas as centenas de anos seguintes, os Católicos Romanos visitando as Basílicas de São Pedro e São Paulo em Roma obteriam o mais completo perdão de todos os seus pecados. Qual o crente que poderia resistir a uma generosidade espiritual tão inédita e imensa?
E assim foi que o Burguês Mackirkeen da Escócia, Manfredo Domino, da Sicília, o Conde Estanislau da Polônia, o Cavaleiro de Arnhen da Saxônia, o Segñor Olivero da Espanha, Olla Olafson da Escandinávia, Segñor Maerigo Bernini de Florença, Charles Montfroid de Paris e milhares de outros partiram repentinamente, todos na mesma direção e em busca do mesmo objetivo, Roma, a Cidade Santa.
O que teria levado Bonifácio a criar tal precedente assim inesperadamente? Que arcana revelação o teria induzido a exercer essa misericórdia de abrir os portões dos tesouros do céu? A resposta é só uma: atrair os tesouros da terra.
Pois, verdadeiramente, a devoção ao Abençoado Pedro, que nos áureos dias passados tinha feito com que os inocentes saxões afluíssem ao seu túmulo em Roma, a fim de lhe pedir perdão havia diminuído grandemente. As ofertas monetárias haviam se reduzido a quase nada. O triste fato é que enquanto as hierarquias locais em muitas partes da Cristandade estavam se tornando gordas e ricas, o Santo Padre no coração de Roma estava se tornando progressivamente pobre. Os cofres de São Pedro, segundo afirmavam repetidamente os seus tesoureiros, estava em baixa; na realidade estavam quase vazios. Algo teria logo de ser feito no sentido de reabastecê-los.
E assim aconteceu que um dia a Providência deu ao Papa Bonifácio uma verdadeira e “providencial” inspiração. Esta ele teve, depois que um homem respeitado por ter alcançado a provecta idade de 107 anos, havia beijado os seus pés, dizendo que no ano de 1200 seu pai tinha ido a Roma oferecer uma moeda a São Pedro a fim de receber uma indulgência para a remissão de seus pecados. Ao ouvir isto Bonifácio já não precisava de qualquer providencial resposta. Ele agradeceu a Deus por ter sido informado a respeito disso, exatamente no início do Ano 1300. Antes tarde do que nunca. Sendo homem de ação, ele proclamou rapidamente o Jubileu, em 22 de fevereiro de 1300, para espanto, surpresa e deleite de muitos, particularmente de Roma.
Os bons filhos da Igreja, muitos dos quais não criam que pudessem igualar o vigoroso ancião de 107 anos, mas verificando que tão completa remissão de pecados era a verdadeiramente a chance de uma vida inteira, não hesitaram. Deixaram suas vilas, cidades e campos aos milhares. A Europa presenciou um movimento em massa, idêntico ao qual jamais havia antes experimentado e tudo limitado ao calendário de um simples ano. Um contemporâneo, Vilani, declarou que havia pelo menos 200.000 peregrinos diariamente em Roma. G. Ventura, outro contemporâneo e testemunha ocular, disse que as multidões eram tão grandes que ele presenciou homens e mulheres pisoteados. O poeta Dante não pôde conseguir melhor comparação para as multidões de condenados em seu inferno do que os que se congregavam em Roma durante o jubileu.
Mas se os peregrinos foram a Roma para obter total remissão de seus pecados, precisavam demonstrar sua gratidão aos Abençoados Pedro e Paulo, não apenas com orações, mas também com uma prova mais tangível de sua reverência, isto é, dinheiro. E o fizeram. O cardeal Gaietano, sobrinho do papa, admitiu que o seu tio Bonifácio recebeu mais de 30.000 florins de ouro ofertados pelos peregrinos somente no altar de São Pedro e acima de 20.000 no altar de São Paulo. Ele estava em posição de saber.
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