domingo, 21 de março de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 14

Henrique desejando fortificar o seu império, e assegurar as províncias que possuía no além mar da França desejou subjugar a Ilha da Irlanda; e para completar esse desígnio teve de recorrer ao Papa Adriano, ele próprio um inglês, que com mão liberal concedeu-lhe toda a cobertura.

O zelo manifestado por Henrique em converter toda a Irlanda à fé moveu a alma do Papa Adriano a investi-lo com a soberania dessa Ilha. Três condições importantes foram englobadas à dádiva:

1) Que o rei deveria fazer tudo que pudesse para propagar a religião católica através da Irlanda.

2) Que cada um dos seus súditos pagasse o tributo anual de um penny à santa Sé comumente chamado “moeda de Pedro”.

3) Que todos os privilégios e imunidades da Igreja permanecessem invioláveis (3).

Estas “condições” foram obtidas através da autoridade papal e da espada do rei. Quando o Rei Henrique parecia ter se estabelecido firmemente no solo irlandês, o papa fortaleceu-o mobilizando a Igreja irlandesa a apoiá-lo. O cristão O’Conachy, Bispo de Lismore e Legado Papal presidiu o sínodo assistido pelos bispos de Dublin, Casheel e Tuam, seus abades auxiliares e outros dignatários. A soberania de Henrique foi reconhecida e as constituições feitas, o que trouxe a Irlanda para mais perto de Roma do que nunca. Assim foi uma ironia da história que a Irlanda católica fosse vendida pelos próprios papas a um país destinado a tornar-se o campeão do protestantismo.

Mas a concessão da Irlanda teve outra grande repercussão. Ela proveu um precedente aos papas, não apenas para exigir e dar de presente ilhas e povos, mas também para dar de presente um novo mundo. Pois a linguagem da concessão de Adriano IV e alguns dos seus sucessores desenvolveu princípios jamais conhecidos na cristandade, uma vez que Adriano havia declarado que a Irlanda e todas as ilhas pertenciam à jurisdição especial de São Pedro (4).

Esta não foi uma expressão retórica. Tornou-se uma realidade concreta, quando navegantes ousados começaram a descobrir terras nos até então inexplorados oceanos. Quando em 1492 Cristóvão Colombo descobriu as Américas, sua descoberta não só estimulou uma ambiciosa competição entre as duas aventureiras nações ibéricas mas abriu tanto para a Espanha como para Portugal tremendas vistas de expansão territorial, econômica e política.

Tão logo se iniciou a corrida pela conquista do hemisfério ocidental, o papa veio para tomar a frente como Senhor e Árbitro dos continentes a serem conquistados. Pois, se todas as ilhas pertenciam por direito a São Pedro, então todas as terras recém descobertas e aquelas ainda a serem descobertas no porvir com todas as suas riquezas e tesouros de qualquer forma pertenciam aos papas, seus sucessores. O Novo Mundo, portanto, havia se tornado a possessão do papado. Era simples demais.

Isto não foi deixado nem a cargo de exigências teóricas nem de direitos especulativos. Entrou logo em ação, com autoridade total. O Papa Alexandre VI, pontífice então reinante, de fato, um ano apenas depois da descoberta da América – isto é, em 1493 – editou um documento que é um dos mais surpreendentes escritos papais de todos os tempos. Nele Alexandre VI, agindo como único proprietário legal de todas as ilhas dos oceanos, concedeu todas as terras a serem descobertas ao Rei da Espanha.

Aqui estão as relevantes palavras deste celebrado decreto:

Estamos seguramente informados de que de uns tempos para cá vós estivestes determinados a procurar e encontrar certas ilhas e terras firmes muito remotas e desconhecidas... Nomeastes o nosso bem amado Cristóvão Colombo... para procurar (por mares nunca dantes navegados) essas terras firmes e ilhas muito remotas e ainda desconhecidas...

...Nós, de moto próprio, e na totalidade do poder apostólico, damos, concedemos e vos asseguramos e a vossos herdeiros e sucessores todas as terras firmes e ilhas, já encontradas e a serem encontradas, descobertas ou ainda a serem descobertas. (5)

Mas, então, desde que a rivalidade entre a Espanha e Portugal, ameaçava com perigo a situação em 1494, o Tratado de Tordesilhas moveu a linha papal da demarcação do Meridiano 370 léguas a oeste de Açores. Isto trouxe o Brasil à existência.

O Papa Leão, muito tempo depois de passado o feudalismo, mantinha tão intransigentemente como sempre a concepção de propriedade da terra. Como soberano mundial ele concedeu ao Rei de Portugal permissão para possuir todos os reinos e ilhas do Oriente Distante, que ele tinha tirado dos infiéis, e todos os que no futuro assim fossem adquiridos, mesmo as que naquele tempo ainda fossem desconhecidas e não descobertas. (6)

A vontade do papa logo foi desobedecida pelas nações rebeldes, tais como a Inglaterra e a Holanda protestantes e até países católicos como a França. Contudo, ela foi forte demais para transformar 2/3 do Novo Mundo no domínio espiritual de Roma.

A Doação de Constantino, portanto, foi culpada de incalculáveis conseqüências, não somente para a Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Irlanda e praticamente toda a Europa, mas também para as Américas e Oriente Próximo e Médio. De fato, em sua total extensão encontrava admissão de que até mesmo na Rússia, pois ela existe na Kormezaia Kniga, o Corpus Juris Canonici da Igreja Greco-Eslava a qual foi traduzida do grego por um sérvio ou búlgaro no século 13 ou 14.

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