com o resultado de que logo o Trono Papal exigia a possessão de uma ilha que os próprios Romanos jamais haviam possuído.
Daí para a frente, em virtude da Doação de Constantino, os papas exigiam em alta voz serem os senhores feudais de todas as ilhas do oceano e começaram a dispor das mesmas conforme a sua vontade. Laborando para obter a supremacia papal, eles usavam esses direitos como uma poderosa barganha política através da qual aumentavam o seu domínio político sobre a Europa: a) obrigando os reis a reconhecê-los como senhores; b) concedendo a esses reis domínio sobre as terras das quais o papado exigia propriedade e c) fazendo supremo o domínio espiritual e político da Igreja nas terras assim “deixadas” às nações amigas.
O mais famoso exemplo de tal barganha em transferir é sem dúvida a Irlanda. A Irlanda havia sido por algum tempo presa de lutas intestinas que estavam firmes mas certamente trazendo a um total estado de confusão. Em 1170, de fato, ela já havia tido 61 reis. E acontecia que os papas, tendo decidido trazer os irlandeses dentre os quais havia “muitos governantes pagãos, ateus e rebeldes”, para debaixo da mão forte da Igreja mãe, planejou uma grande estratégia, graças, à qual poderiam não apenas impor a disciplina do seu sistema religioso, como ligar ao papado mais firmemente do que nunca o Reino Inglês conferindo ao monarca inglês o direito exclusivo de conquistar essas ilhas e subjugar o seu povo. Neste sentido os papas atingiriam vários objetivos simultaneamente; eles reimporiam sua autoridade na Irlanda, fortaleceriam o seu poder sobre o Reino Inglês e assim também reforçariam o seu domínio sobre a França e indiretamente sobre toda a Europa.
E assim aconteceu que os reis ingleses tinham acalentado os mesmos desígnios e também que naquele tempo estava assentado no trono papal um homem de nome Nicolau Breakspeare conhecido como Adriano IV, um Inglês (1154-59) que tornou possível a subjugação da Irlanda pela sua “Anglicana Affectione”, conforme declarou um capitão irlandês em 1316, numa carta ao Papa João XXII.
O Rei e o Papa começaram a negociar. O Papa estava pronto a conferir o domínio da Irlanda ao rei inglês, sob a condição de que o rei aceitasse a doutrina da soberania papal, o que implicava em que, como rei da Inglaterra ele era um vassalo do papa. O rei por outro lado estava pronto a aceitar isso sob a condição de que o papado o sustentasse na conquista militar e política da Irlanda usando a poderosa máquina da Igreja.
A sorte pareceu favorecer o projeto, pois Diarmait um potentado Irlandês, anos antes de Henrique se tornar Rei da Inglaterra, tinha-lhe oferecido uma oportunidade há muito desejada, propondo a conquista da Irlanda. Visto como o papa e o rei entraram em acordo, Adriano IV concedeu ao rei inglês o senhorio hereditário da Irlanda enviando uma carta com um anel, um símbolo de investidura, conferindo-lhe desse modo o domínio sobre a ilha da Irlanda a qual “como todas as ilhas cristãs, indubitavelmente pertenciam por direito a São Pedro e à Igreja Romana”. A concessão papal feita em 1155 foi conservada em segredo até depois que Henrique desembarcou na Irlanda em 1172. Assim os ingleses receberam o domínio sobre a Irlanda, nas bases de que os pontífices eram os senhores feudais de todas as ilhas do oceano graças à Doação de Constantino.
A conquista irlandesa ordenada pelo Papa Adriano IV está autenticada por um documento popularmente chamado “Bula Laudabiliter”, encontrado apenas no Bullarium Romano (1739) e nos anais de Baronius, mas sua autenticidade tem sido aceita tanto pelos historiadores católicos Romanos como pelos Protestantes.
A Bula Laudabiliter está inserida na Expugnacttio Hibérnica de Geraldo Cambrensis, publicada mais ou menos em 1188 (1), onde ele afirma ter sido o documento trazido de Roma por João de Sallsbury, em 1155. Ele porém dá conta de como ela tem uma confirmação por Alexandre II, obtida, diz ele, por Henrique II após sua visita à Irlanda. João de Sallsbury amigo íntimo e confidente do Papa Adriano IV, também cita a Doação de Constantino nas bases deste direito de São Pedro sobre todas as ilhas dos oceanos. Além deste dois documentos existem três cartas de Alexandre III igualmente por nós conhecidas apenas de segunda mão, sendo transcritas naquele que é conhecido como Black Books of the Exchequer (2). Neles o papa expressa sua calorosa aprovação da conquista da Irlanda por Henrique II, chamando essa expedição de empresa missionária, louvando-o como um campeão da Igreja e particularmente de São Pedro e dos seus direitos, os quais São Pedro transferiu aos papas. Especialmente significativo é o fato de que os direitos exigidos pelos papas sob a Doação de Constantino sobre as todas ilhas são aqui reafirmados, não tanto para justificar a concessão da Irlanda a Henrique, mas a fim de possibilitar à Sé Papal a reclamar esses direitos para si mesma.
Tais direitos ainda foram reclamados pelo Vaticano num documento oficial, nas imediações de 1645. Quando naquele ano o Papa Inocêncio X despachou Rinuccini como Núncio Papal na Irlanda, ele lhe deu instruções formais em que estava incluído um breve resumo dos eventos passados. Nele encontramos esta passagem muito definida e chocante:
Por um longo período a verdadeira fé foi mantida, até que o país foi invadido pelos Danes, e povo idólatra, caindo na maior parte em ímpia superstição. Este estado de trevas durou até os reinados de Adriano IV e Henrique II Rei da Inglaterra.
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