Além disso, temos a descrição de uma testemunha ocular que tomou parte na mesma peregrinação do Jubileu, o historiador Ventura. Ele assegurou que o tributo recebido pelo Papa Bonifácio nessa ocasião foi “incomputável”. Então, a fim de provar que sua estimativa não era exagerada, ele dá uma gloriosa descrição. No altar de São Pedro, diz ele, onde ele próprio foi orar, permaneciam, dia e noite, funcionários “juntando o dinheiro infinito” – suas próprias palavras! (1). O jubileu do Papa Bonifácio havia experimentado um tremendo sucesso. Os cofres do Abençoado Pedro foram novamente locupletados e Roma novamente pode prosperar por um tempo.
Os sucessores de Bonifácio, contudo, ruminaram. Alguns deles nem podiam esperar para ver o início do próximo século, visto como as vidas dos papas naqueles dias eram muitas vezes abreviadas, não apenas pela idade, mas através de uma adaga, veneno ou a ambição de alguns sobrinhos. E assim, num claro dia de janeiro do ano de 1343, o Papa Clemente VI emitiu uma bula declarando que, em vista da brevidade da vida humana, ele havia reduzido o Jubileu de cem para apenas cinqüenta anos (2). Então, para ter certeza de que os peregrinos viriam em multidões, como na primeira ocasião, ele lhes oferecia uma promoção espiritual adicional. Em junho de 1346 ele emitiu outra bula na qual garantia que tinha completo controle e, em verdade, poder sobre a vida futura. E procedendo a exatos detalhes, ele falou aos peregrinos esperançosos que ele podia ordenar aos anjos do céu a libertar do purgatório as almas de qualquer um dos que morressem a caminho de Roma.
A promoção espiritual adicional do Papa Clemente obteve tremendo sucesso, pois deve-se lembrar que viajar naqueles dias era a ocupação mais árdua que se podia experimentar. A viagem era na maior parte, feita a pé, a cavalo, só alguns. Não havia hotéis, nem estradas de verdade, nem provisão de alimentos, nem bancos ou polícia; mas ao contrário, ladrões em todo o percurso, inanição, dormir ao relento, moléstias. Pelo tempo do segundo Jubileu, também apareceu a Peste Negra, que verdadeiramente dizimou a população da Europa. Para se ter idéia de como era árduo esse empreendimento bastaria lembrar que durante o Primeiro e o Segundo Jubileus somente um em cada dez peregrinos voltava vivo para casa.
Mesmo assim, apesar de tudo isso, durante a Páscoa do Jubileu estimava-se que havia bem mais de um milhão de peregrinos em Roma. Muitas pessoas eram pisoteadas até a morte nos túmulos dos Apóstolos e novamente a concreta gratidão dos peregrinos reabasteceu os cofres de São Pedro, além dos sonhos mais ferozes de Clemente.
Muitos outros através da Cristandade, contudo, não podiam ou queriam ir. Ou a Peste Negra havia matado suas famílias ou os tinha arruinado, ou os sobreviventes tinham de atender a importantes negócios, ou eram fracos demais para empreender jornada tão arriscada. Mas a piedade deles e anseio pela remissão dos seus pecados, com o privilégio adicional de liberar uma alma das chamas do purgatório, não eram menos sinceros do que os sentimentos daqueles afortunados que haviam ido pessoalmente a Roma. O papa ouviu, concordou e com a sua paternal consideração pelo bem estar espiritual daqueles filhos distantes, ele decretou que eles também poderiam participar dos privilégios das indulgências do Jubileu.
Ele começou com Hugo, Rei de Chipre; Eduardo III e Henrique, Duques de Lancaster na Inglaterra; a Rainha Isabela da França; a Rainha Filipa da Inglaterra e a Rainha Elizabeth, da Hungria. Todos estes responderam com régias oblações, isto é, com generosos e sólidos pagamentos em ouro.
Mas se reis e rainhas tinham sido assim favorecidos, porque não o povinho, tão bons católicos romanos como suas majestades? O papa concordou e prontamente instruiu os seus representantes fora de Roma a isentar os possíveis peregrinos de encetar a viagem, contanto que, sem dúvida, eles não se esquecessem de demonstrar gratidão ao Abençoado Pedro, através de uma pequena oferta. O Núncio Papal na Sicília foi um dos primeiros a executar as instruções. Ele isentou 30 pessoas de fazer a peregrinação contanto que pagassem o que a peregrinação lhes custaria caso eles realmente tivessem ido a Roma. E assim nasceu a prática de coletar dos penitentes em casa, somas equivalentes ao custo da peregrinação.
As vantagens para ambos os lados eram óbvias demais para fracassar e assim os hierarcas de outros países decidiram imitar o papa. Em 1420, o Arcebispo de Canterbury proclamou o Jubileu com os mesmos “perdões” como os de Roma. Este precedente, contudo, era perigoso demais. Suponhamos que se espalhasse por outros países? Martinho V, o papa reinante, classificou isto de “audacioso sacrilégio”, ameaçou de excomunhão e o arcebispo empreendedor teve de se contentar com as coletas locais.
O Jubileu de 1450 foi novamente um sucesso imenso. A quantia em ouro coletado dos peregrinos foi tão imensa que o Papa Nicolau V mandou cunhar uma moeda conhecida como “O jubileu”. Esta moeda era de tamanho tão especial que equivalia a três das peças de ouro comuns lançadas naquele tempo pelos cunhadores reais da Europa.
Um dos sucessores do Papa Nicolau, o Papa Paulo II, em 1470 reduziu o intervalo do Jubileu para vinte e cinco anos e para animar os peregrinos a virem a Roma, em vez de os beneficiar com os privilégios do jubileu no lar, ele suspendeu todas as outras indulgências. Apesar de todas essas medidas contudo, o Jubileu de 1475 não foi grande sucesso.
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