quinta-feira, 18 de março de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 11

Tais pretensões não foram deixadas tão somente ao campo teórico. Foram dirigidas a concretos objetivos territoriais, políticos e financeiros que os pontífices perseguiram com infatigável pertinácia. O Papa Inocêncio II (1198-1216), o mais enérgico campeão da supremacia papal, trovejava incessantemente para toda a Europa que exigia supremacia temporal sobre todas as coroas da Cristandade; pois como sucessor de São Pedro, ele era simultaneamente o cabeça supremo da verdadeira religião e o soberano temporal do universo. Suas incansáveis exigências foram no sentido de que o governo papal fosse estendido sobre várias terras e reinos. Ao final do seu reinado, de fato, o Vaticano havia se tornado o governante temporal de Nápoles, das Ilhas de Sicília e Sardenha, de quase todos os Estados da Península Ibérica, tais como Castela, Leão, Navarro, Aragão e Portugal, de todas as terras da Escandinávia, do reino da Hungria, do Estado Eslavo da Boêmia, Sérvia, Bósnia, Bulgária e Polônia. Uma lista orgulhosa!

Ele se tornou também o soberano verdadeiro de facto e de jure da Inglaterra, após haver compelido João à completa submissão. Durante os últimos anos do reinado desse rei e os poucos primeiros do de Henrique III, Inocêncio governou efetivamente a Ilha através de seus legados. Isso, contudo, não foi o bastante, pois Inocêncio se proclamou o governante temporal dos estados cristãos fundados na Síria pelos cruzados. De fato, ele foi até mais longe. Tomando vantagem da Cruzada Franco-Veneziana de 1202, ele planejou a anexação do Império Bizantino. Um Império Latino veio à existência no Oriente e enquanto os Bizantinos se tornaram vassalos temporais do papa, a Igreja Ortodoxa Grega foi obrigada a reconhecer a supremacia de Roma. Mais tarde esse imenso domínio foi ampliado pelos seus sucessores através da conversão ao Catolicismo Romano dos pagãos do Báltico.

Nesse tempo, como no passado, um país mais que qualquer outro se opunha à irresistível absorção eclesiástica; o poderoso Império Germânico. Mas o papa, apesar de muitos revezes jamais reconheceu a Alemanha como estando fora do formidável império papal, baseando na assertiva familiar de que ela fazia parte do patrimônio de São Pedro.

Não contente com a Doação de Constantino, Inocêncio IV afirmava que o que Constantino dera à Igreja não lhe pertencia de modo algum, pois a Europa havia sempre pertencido à Igreja. Numa encíclica publicada logo após o encerramento do Concílio de Lyon, em 1245, Inocêncio declarou expressamente:

É errado mostrar ignorância sobre a origem das coisas e imaginar que o governo da Sé Apostólica sobre assuntos seculares, data de Constantino. Antes dele, este poder já era da Santa Sé. Constantino simplesmente restituiu às mãos da Igreja um poder que ele usava sem direito enquanto se achava fora de sua fronteira. Uma vez admitido à Igreja, ele obteve, por concessão do Vigário de Cristo a autoridade que somente então se tornou legítima.

Após o que, na mesma encíclica, Inocêncio prazerosamente ficou com a idéia de que a aceitação da Doação de Constantino pelo papa foi apenas um sinal visível do seu domínio soberano sobre o mundo inteiro e conseqüentemente de toda a riqueza que fosse encontrada na terra. A crença na Doação e na l vasta extensão de território que Constantino nela incluiu cresceu ainda mais. O próprio Graciano não a incluiu, ela foi logo inserida como palea e assim deu entrada em todas as escolas de jurisprudência canônica, de modo que a partir desse tempo, os advogados eram os mais influentes publicadores e defensores dessa ficção. A linguagem dos papas foi daí para a frente mais confiante.

“Omne regnum Occidents ei (Silvestre) tradidit et divisit “- disse Inocêncio III (1198-1216).

Gregório IX (1227-1241) levou isto até às últimas conseqüências, de um modo que ultrapassou tudo que havia sido feito antes, quando ele representou diante do Imperador Frederico II que Constantino havia, junto com a insígnia imperial, doado Roma com o ducado e o império aos cuidados eternos dos papas. Daí porque os papas, sem diminuir qualquer grau na sua jurisdição, estabeleceram o tribunal do império, transferiram-no aos alemães e estavam acostumados a conceder o poder da espada aos imperadores em sua coroação.

Por enquanto, isso era o mesmo que dizer que esta autoridade imperial tinha sua origem única nos papas, podia ser aumentada ou diminuída a seu belprazer, e que o papa podia chamar cada imperador a dar conta pelo uso do poder e das riquezas a ele confiadas.

Porém o elo mais alto da estrutura hierárquica ainda não havia sido alcançado. Ele foi conseguido primeiro pelo sucessor de Gregório, Inocêncio IV, quando o Sínodo de Lyon resultou na deposição de Frederico, em cujo ato este papa foi além de todos os seus predecessores no aumento de exigência e extensão da autoridade de Roma.

O dominicano Tolomeo de Lucca, autor dos dois últimos livros da obra De Regimini Principum, cujos dois primeiros livros eram de Tomás de Aquino, foi mais longe ainda e explicou a Doação como uma final abdicação de Constantino a favor de Silvestre. Anexando esta a outras circunstâncias históricas, que eram ou invenções ou concepções erradas, ele então chegou à conclusão de que o poder e a riqueza de todos os príncipes temporais derivavam sua força e eficácia unicamente do poder espiritual dos papas. Não havia possibilidade de meio termo e imediatamente depois, na controvérsia de Bonifácio VIII com Filipe de França, o frade agostiniano Egídio Colonna de Roma, o qual havia sido nomeado pelo papa como Arcebispo de Bourges, chegou à conclusão natural, sem o menor disfarce, numa obra que ele dedicou ao seu patrocinador.

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