sexta-feira, 26 de março de 2010

Os Bilhões do Vaticano - parte 17

Crer, contudo que a acumulação de riquezas terminou com o “grand coup” da profecia do milênio, seria um erro. Os fiéis, embora poupados do confronto coletivo do Dia do Julgamento, no Ano 1000, ainda estavam morrendo sozinhos como indivíduos. Isso significava que para obter mérito no céu, eles teriam de se livrar de sólidos bens aqui na terra. A tradição jamais foi abandonada. Ela sobreviveu ao choque do Ano 1000. E isso a tal extensão que ainda está florescendo em nosso próprio tempo, à medida em que nos aproximamos rapidamente da chegada do Ano 2000, sendo a riqueza do Sistema Católico Romano hoje na Europa e nos Estados Unidos a melhor testemunha à veracidade desta afirmação.

Os crentes continuaram a dar; e uma vez que os crentes morreram, gerações após gerações, suas ofertas continuaram a aumentar no coração de um sistema religioso que jamais morreu o qual em verdade continuou a se expandir e a preparar-se para novas contribuições temporais, não apenas de gerações que ainda não nasceram, mas igualmente de territórios ainda não cristianizados.

As conseqüências deste processo ininterrupto de ajuntamento de riquezas se tornaram tão ostensivas depois dos primeiros dois ou três séculos do segundo milênio, que um número crescente dos mais austeros filhos do Romanismo se revoltou contra ele.

E foi assim que o Cristianismo testemunhou o fenômeno de Francisco de Assis, cujos passos iniciais em direção à santidade foram renunciar até a própria roupa do corpo, as quais foram devolvidas ao seu pai; após o que, tendo assim abertamente atestado sua renúncia total aos bens mundanos, ele se dedicou a uma vida de completa pobreza, ao pedir a proteção do bispo completamente despido. O episódio foi um rebate à Igreja do seu tempo, uma vez que São Francisco seguindo este gesto simbólico com a concretização prática do mesmo, fundou uma nova ordem monástica – a dos franciscanos – e cuidou para que a feição mais evidente dessa ordem fosse uma renúncia total aos bens deste mundo. São Francisco, contudo, não foi a única figura a reagir contra a preocupação descarada e insolente do papado com referência à riqueza. Outros indivíduos reagiram em várias terras. Bernardo de Clarivaux apareceu no norte da França. Como Francisco, Bernardo renunciara pessoalmente a todas as riquezas terrenas. Ele anexou esse repúdio também em sua nova ordem monástica. Ele não apenas deu nova vida a um monasticismo ocidental corrupto e rico, como impôs esta regra de pobreza total fora dos muros dos mosteiros, sempre que possível. Para fazer isso ele não poupava os eclesiásticos das classes inferiores e superiores, esbravejando contra a riqueza e a opulência da Igreja Militante.

Ele esbravejava sempre e sempre contra um sistema religioso com apetite voraz pelos bens terrenos, acusando-o de adorar Mamon em vez de Deus. Ele não poupou nem sacerdotes, nem bispos e nem mesmo os papas.

Em sua Apologia ele atacou “os prelados excessivamente ricos”. Em seu tratado sobre “impostos e taxas dos bispos”, ele esbravejou contra os bispos que “engordavam sobre as riquezas dos bispados”. Ele não hesitou em castigar os próprios legados papais. “Esses homens ambiciosos” que “sacrificariam a saúde do povo pelo ouro da Espanha”, indo ao ponto de declarar que a cúria de Roma não era mais que um “covil de ladrões”. Ele até comparava cada papa que se orgulhava de seu ofício com um macaco “escarranchado num galho de árvore”, isto embora o papa daquele período tivesse sido um dos seus monges que vivera como ele em vida austera.

Se São Bernardo não poupou a Igreja ele também foi um injusto denunciador de hereges. Muitos ele deteve e aprisionou. Centenas foram queimados impiedosamente em estacas e praças públicas. Ele se tornou o terror de qualquer dissidente. A Igreja Romana o transformou em outro instrumento para se fortalecer em assuntos deste mundo, isto é, em riqueza pois ela via nas denúncias contra os hereges outra importante fonte de lucro.

São Bernardo não fora o primeiro; ele foi apenas um dentre uma série de extirpadores. Mas ele deu um ímpeto renovado à prática uma vez que, com o aumento de várias heresias e dos mais ainda variados métodos de suprimi-los, o muito proveitoso método de confiscar a propriedade dos hereges e aplicar multas esmagadoras aumentaram incrivelmente. Assim a queima dos hereges logo trouxe consigo dois benefícios visíveis – a eliminação de pessoas perigosas, inspiradas pelo diabo e a adição de sempre crescente riqueza à Igreja.

A partir das esporádicas denúncias dos primeiros períodos e aos castigos relativamente fracos que se seguiram, veio um tempo em que a acusação de heresias, transformou as estruturas eclesiásticas numa máquina poderosa e aterrorizante a serviço de monges e prelados fanáticos e corruptos. Ninguém estava a salvo dos seus tentáculos. Ela poderia esmagar os mais humildes habitantes do mais pobre dos burgos ou o mais poderoso chefe de um clã quer ele estivesse nos desertos da Escócia ou fosse um príncipe da Sicília, Portugal ou Alemanha com a mesma arrogante facilidade. Os próprios bispos e cardeais não ficaram imunes. Isso ficou assim por causa do desejo de preservar a fé em toda a sua pureza, preocupação dos monges finalmente tornada tão entrelaçada com a fome das riquezas de delatores anônimos, que na longa corrida ambos se tornaram inseparáveis. E então aconteceu que as fulminações dos papas, por exemplo, deslanchando anátemas, interditos e excomunhões em adição às prisões, tortura e pena de morte, levaram também à desapropriação de todos os bens, dinheiro e propriedade dos que tinham sido denunciados.

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