revolucionárias cujos objetivos não estavam unicamente confinados ao término do poder espiritual e político de Roma, mas igualmente a privar este sistema religioso da riqueza que ele havia acumulado através de séculos de incontrolável monopólio.
primeiros pela possível aquisição da imensa riqueza controlada pela Igreja na Alemanha, Inglaterra e outros lugares, não se teria tornado fator decisivo que os fez se aliarem às novas forças espirituais Foi a fascinação da imediata potencial redistribuição das riquezas do Vaticano entre os potentados leigos, que um cisma religioso bem sucedido teria tornado possível, o fator principal e último no sentido de persuadi-los a passar para o lado de Lutero e seus imitadores.
O exemplo da dinastia de Henrique VIII da Inglaterra não foi o golpe final contra a autoridade romana. Os camponeses que haviam apoiado sua política fizeram isso com os olhos bem fixos nos futuros benefícios econômicos. O variegado alinhamento dos príncipes alemãs com o Luteranismo foi aprontado principalmente nas mesmas considerações econômicas básicas. Foram esses fatores concretos, embora aparentemente secundários, que na longa estrada tornaram possível a Reforma.
Vista sob esse prisma, portanto, a persistente ignorância da Igreja Católica Romana do mandamento fundamental de Cristo, concernente às riquezas deste mundo, causou em muito um prejuízo irremediável contra os interesses espirituais da cristandade; e muito mais do que isso, acendeu revoltas, provocou revoluções e promoveu guerras destrutivas que iriam deixar cicatrizes no mundo ocidental por centenas de anos, até os dias atuais.
Nem foi sempre assim. A verdadeira igreja primitiva agia e deveras praticava aos ensinamentos de Jesus Cristo, colocando desse modo o acúmulo de tesouros no céu de preferência, ao acúmulo de tesouros na terra.
Mas quando o Sistema Católico Romano começou a se desenvolver, as primeiras tenras sementes da acumulação de riquezas temporais foram plantadas. Estas, eventualmente, iriam se transformar na gigantesca árvore de mostarda, que iria obscurecer a luz da Europa durante quase mil anos.
Os primeiros cristãos, seguindo o exemplo dos apóstolos e da primeira e segunda gerações dos discípulos de Cristo, após a conversão, obedeciam literalmente os mandamentos deste e dispunham de suas propriedades. Estas, eles vendiam ou entregavam à comunidade cristã que as usavam para benefício comunitário, de modo que todos os membros pudessem compartilhar igualmente das mesmas porções. Não havia apego pessoal às riquezas assim usadas, quer da parte de cada cristão ou de qualquer núcleo cristão autônomo. A apropriação, possessão e usufruto de qualquer riqueza era anônima, impessoal e coletiva. Havia também o auxílio aos pobres, aos escravos, aos enfermos e aos prisioneiros.
Durante o primeiro e segundo séculos, os cristãos primitivos, agindo dessa maneira, puderam conservar a pureza da tradição apostólica; e mesmo durante o terceiro século, embora a riqueza da Igreja já tivesse se tornado substancial, ela se esforçava para agir em harmonia com a injunção de Cristo sobre a pobreza.
Os cristãos, contudo, nesse tempo já não vendiam os seus bens depois de serem batizados. Eles haviam chegado a harmonizar a possessão de bens mundanos com o ensino de Cristo, ao citar ou ignorar convenientemente várias passagens dos Evangelhos. Também iam seguindo o exemplo da igreja, a qual como uma corporação, havia começado a acumular riquezas. A retenção destas era justificada pelo auxílio aos carentes e também pelo fato de que o hábito havia começado por muitos dos que em seus leitos de morte deixavam os seus imóveis ou dinheiro para Igreja.
E assim a tradição apostólica da pobreza foi eventualmente abandonada. Nada havia de contraditório e assim foi usado o argumento pelo qual os cristãos iam retendo bens terrenos, até o ponto em que estes fossem usados para o “serviço da religião”. O argumento parecia sonoro aos indivíduos, particularmente depois que o cristianismo “se tornou respeitável”. A Igreja Católica Romana foi, desse modo, tornou-se gradualmente a guardiã das riquezas a ela confiadas pelos seus filhos, agindo como distribuidora e administradora.
Até aí não havia indício algum da figura das coisas que iriam vir. Isto logo se tornou visível, entretanto, com o evento histórico da maior importância. O imperador Constantino, obedecendo uma consideração política concreta havia decidido alinhar as forças crescentes do Cristianismo do seu lado. Foi criada então uma legenda piedosa que ele mandou colocar nos estandartes romanos, uma cruz com as palavras “Com este sinal vencerás”. Ele venceu as forças da retaguarda do mundo pagão e assim reconheceu o Cristianismo como religião oficial em 313 d.C.
Daí em diante foi iniciada uma nova fase. A Igreja Triunfante começou a se vestir de vestes mundanas. O estado se tornou seu protetor. Com esta fase veio, não apenas o poder, mas também a riqueza. A acumulação da última já não era apenas observada com o propósito de ajudar os pobres. Tornara-se um testemunho visível do seu status recém encontrado; uma necessidade que cresceu junto com seu prestígio acumulando cada vez mais força e poder.
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