Meu amigo e editor da florescente revista World, que está em sintonia com as notícias da atualidade, escreveu um excelente artigo sobre o que constituem os “fundamentalistas” do tempo passado e aqueles da mídia secular. Nesse artigo, ele cita o brilhante teólogo J. Gresham Machem, o estudioso presbiteriano reformado que definiu os “cinco fundamentos”, escritos pouco depois da virada do século, em torno dos anos 1920.
Um estudo sobre a vida religiosa na América durante aqueles dias expôs a liberalização grosseira de muitos seminários denominacionais, particularmente naquilo que a mídia chama de igrejas “tradicionais”. Ele definiu as crenças centrais mínimas da igreja fundamental como seguem:
(...) a inspiração e infalibilidade da Bíblia, o nascimento virginal de Cristo, a obra expiatória da morte de Jesus, a ressurreição física de Jesus e a realidade histórica dos milagres de Cristo. Esses “fundamentos” eram vistos pelos crentes ortodoxos como alicerces de sua fé cristã – como se fossem as vigas mestras nas quais o restante da estrutura se apóia.[1]
Machem foi um grande defensor da fé, especialmente da inspiração das Escrituras e do nascimento virginal de Jesus. Alguns de seus debates com os liberais, em sua própria denominação, eram como que lendas para a maioria de nós que estudávamos em faculdades e instituições de pós-graduação cristãs conservadoras. Tremo só em pensar o que seria o cristianismo hoje se Machem e sua geração de pregadores, estudiosos e escritores fundamentalistas, além daqueles envolvidos em estudos de nível superior, não tivessem tomado o bordão e lutado as batalhas das guerras pré-anos 60, que fizeram com que os teólogos liberais e a mídia secular os insultassem, distorcessem e degradassem tanto quanto o fizeram. A voz do verdadeiro cristianismo teria morrido se eles não tivessem tomado uma posição agressiva em favor da verdade. Felizmente, o Espírito Santo os guiou e a muitos outros homens e mulheres de Deus que tomaram a Bíblia literalmente e edificaram igrejas que crêem nas Escrituras, e também faculdades cristãs e seminários fiéis, que se levantaram ajudando a Igreja a voltar para uma força vital na América, onde atualmente quase 70 milhões de cidadãos afirmam abertamente que tiveram a experiência do “novo nascimento” em Jesus Cristo. Essas igrejas que crêem na Bíblia estão se levantando em todos os lugares, tanto que na época das eleições muitos políticos buscam abertamente o voto “evangélico”.
Embora possamos agradecer sinceramente a Deus pelo valioso trabalho deles por amor ao Senhor durante a primeira metade do século passado, a igreja de hoje deveria assumir a causa do sexto fundamento que eles infelizmente omitiram ou negligenciaram. Trata-se do ensinamento sobre a Segunda Vinda de Jesus – Sua promessa de arrebatar Seus santos para o céu antes dos sete anos de Tribulação seguidos por Seu Glorioso Aparecimento, quando o Salvador estabelecerá Seu reino de paz sobre o qual reinará como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” por mil anos. Ele amarrará Satanás durante todo esse período, após o que as coisas ficarão melhores ainda. Ele levará todos os Seus santos, ou seja, aqueles que colocaram a fé em Sua salvação sacrificial pelos nossos pecados, e nos levará a todos para o céu para sempre.
Há 109 profecias sobre a primeira vinda de Cristo, mas há 224 que prevêem Sua Segunda Vinda.
O motivo pelo qual eu digo que esse ensino sobre a Segunda Vinda é parte integrante das doutrinas fundamentais da Igreja Primitiva é que esse foi o primeiro ensinamento dos cristãos do primeiro século e tem sido assim desde os dias do apóstolo Paulo. Os dois primeiros livros de Paulo, 1 e 2 Tessalonicenses, podem ter sido os primeiros livros do Novo Testamento. Muitos estudiosos pensam que esses livros foram escritos cerca de dezoito anos depois de Pentecostes, para uma jovem igreja que Paulo fundara em Tessalônica. Essa era uma cidade grega forte, cheia de pensamento religioso pagão. Paulo ministrou a esses jovens cristãos por apenas três semanas, até que judeus invejosos o fizeram sair da cidade (At 17.1-9). Leia todos os oito capítulos e sublinhe as referências à Segunda Vinda de Cristo, e você verificará que esse evento é mencionado em todos os capítulos. O Dr. Mark Hitchcock tem um novo livro sobre profecia no qual menciona que há mais de 300 referências à vinda do Senhor no Novo Testamento, que tem apenas 260 capítulos. As profecias compõem 28% da Bíblia. Há mais que 300 profecias relativas à vinda de Cristo no Novo Testamento – uma em cada 30 versículos. Ele também afirma que há 109 profecias sobre a primeira vinda de Cristo (as quais Ele cumpriu completamente), mas há 224 que prevêem Sua Segunda Vinda. Vinte e seis livros do Novo Testamento se referem à promessa de Sua vinda, e três desses foram cartas pessoais a indivíduos. O restante destaca essa importante doutrina que foi pregada nos primeiros dias da Igreja.
Tenho lido que todos os concílios da Igreja desde o primeiro século até os dias de hoje se referiram ao retorno de nosso Senhor. Portanto, estou bastante embasado para me referir à Segunda Vinda como uma doutrina fundamental da Igreja, que deveria ter sido incluída pelo Dr. Machem e seus amigos. Podemos entender a relutância dele em trazer esse assunto à baila, pois, na Igreja Reformada, o tema não ocupava uma posição importante na visão que eles tinham sobre “a fé uma vez entregue aos santos”. A maior parte dos irmãos reformados tem seguido a linha de Agostinho: este ensinava que, embora a Bíblia devesse ser tomada literalmente, as profecias deveriam ser interpretadas de forma simbólica ou alegórica – ou espiritualizadas. Infelizmente, isso tende a confundir o corpo de Cristo sobre o ensinamento fundamental de que Ele voltará, como prometeu, e nos levará à casa de Seu Pai – conforme João 14.1-3 e muitas outras passagens das Escrituras.
Pessoalmente, creio que este é o motivo pelo qual muitos crentes têm se desviado para o amilenismo ou para o pós-milenismo e até do midi-tribulacionismo para o pós-tribulacionismo. Estes são ensinamentos falsos sobre as profecias, que roubam a esperança dos crentes, ensinos baseados na falsa idéia de que as profecias não podem ser compreendidas. Isso leva à questão sobre como Apocalipse 1.3 pode ser cumprido – que a leitura do livro de Apocalipse será uma bênção – se não se pode entendê-lo? Assim, a promessa não pode ser cumprida! Por que Deus inspiraria as profecias na Bíblia a menos que elas sejam para nosso entendimento e edificação? Ele não as inspiraria! É por isso que creio que o sexto fundamento deveria ser a promessa de que Cristo irá manter Sua palavra e a palavra dos discípulos, voltando um dia, como o apóstolo Paulo escreveu:
Por que Deus inspiraria as profecias na Bíblia a menos que elas sejam para nosso entendimento e edificação?
“Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4.13-18).
“Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir da imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.50-58).
Estou no ministério do Senhor há 65 anos e tenho observado que aqueles que têm essa “bendita esperança” na Sua volta, e aquelas igrejas que se posicionam e pregam sobre Sua volta como uma doutrina fundamental de sua vida e de sua igreja, possuem um fogo em seu coração para ganhar outros para Cristo. Esta verdade tem um efeito sem precedentes sobre aqueles que lêem, estudam e pautam o curso de suas vidas através desses ensinos. Eles vivem uma vida mais evangelística e ficam na expectativa de se encontrarem com o Senhor nos céus. Um dia Deus dirá a Seu Filho, o Senhor Jesus, aquilo que o escritor de hinos cunhou em sua grandiosa canção sobre a Segunda Vinda: “Estes são os dias de Yahweh. (...) Filho, vá reunir os meus filhos!”
(Tim LaHaye - Pre-Trib Perspectives - Chamada.com.br)
Nota:
1. Belz, Joel. “The New Fundamentalists” [Os Novos Fundamentalistas], WORLD MAGAZINE, 28 de janeiro de 2012, p. 3.