Santidade. Você gosta dessa palavra? Ou, cá entre nós, ela meio que faz você se contorcer?
Pela graça de Deus nós ouvimos muito hoje em dia sobre vida, livros, música, conferências, ministérios e igrejas centralizados no evangelho. Mas com que frequência ouvimos a respeito de obediênciacentralizada no evangelho? Existe, especialmente entre jovens evangélicos, um “vão de entusiasmo” entre nossa paixão pelo evangelho e nossa paixão por piedade?
Esta é a preocupação de Kevin DeYoung, e ele pretende alertar para o vão em seu livro, Brecha em Nossa Santidade. “A brecha em nossa santidade,” sugere DeYoung, “é que realmente não nos importamos muito com isso.” De leitura agradável e oportuna, claro e constrangedor, biblicamente saturado e pastoralmente sensível, Brecha em Nossa Santidade é um chamado moderno para correr atrás da justiça pela glória daquele que tanto ordena quanto possibilita a busca.
Entrevistei DeYoung, pastor presidente da University Reformed Church em East Lansing, Michigan, sobre como a santidade pessoal se relaciona com a missão, os perigos de excessivas “caça a ídolos” e “verificação de temperatura espiritual,” conselho prático para pastores, e mais.
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Igrejas focadas em santidade pessoal nem sempre parecem estar “em missão.” Como evitamos repetir esse erro?
Dois pensamentos vêm à minha mente. Um, devemos nos lembrar que santidade é parte de nossa missão. Cristo nos chama a fazer discípulos, não apenas a tomar decisões (Mateus 28:19). Ajudar as pessoas a obedecer a Jesus e buscar santidade é um aspecto importante da Grande Comissão (Mateus 28:20). Dois, devemos enfatizar que a busca por santidade é realmente a busca por Cristo. Não estamos simplesmente tentando ser melhores. Estamos trabalhando — conforme Deus trabalha em nós — para sermos mais como Cristo, que está em nós. Através do evangelismo e da santificação estamos tornando Cristo conhecido.
Você observa que, em muitos círculos hoje em dia: “Sabemos que o legalismo (salvação por obedecer a lei) e antinomismo (salvação sem a necessidade de obedecer a lei) estão ambos errados, mas o antinomismo parece um perigo muito mais seguro”. Como chegamos a esse ponto, e como corrigimos sem exagerar novamente?
A última parte de sua pergunta responde a primeira. Nós exageramos na correção. Quando vemos igrejas tragadas pelo moralismo, pela autoajuda e pela religião da obediência à lei queremos lutar contra isso com todo o nosso poder de Gálatas. Mas em qualquer questão há uma tendência de temermos tanto o erro que vemos claramente, que ficamos um pouco cegos para outros erros. Uma das chaves é ensinar sobre a dupla graça (duplex gratia) da justificação e da santificação. Ambas são presentes de Deus.
Eu sei que devemos ser santos para chegarmos ao céu, mas Jesus não é minha santidade? A obediência dele não é o suficiente para nós dois?
Sim, Jesus é santo mais do que o suficiente por você. E até por mim! Deve ficar claro que a busca da santidade não é uma busca por justificação ou aceitação eterna de Deus. A exigência de santidade não é para mérito, mas para evidência. Devemos ter alguma graça saindo de nossas vidas para mostrar que a graça entrou. Nossas boas obras não contribuem nem uma gota com nossa absolvição. Jesus pagou tudo. E quando nos apropriamos deste presente pela fé, nossas vidas não podem ser as mesmas.
Quais são alguns dos perigos associados com prolongadas “caças a ídolos” e frequentes “verificações de temperatura espiritual”?
Há diversos perigos. Um, sempre há mais ídolos para encontrar. Sempre podemos descascar mais uma camada de motivação. Sempre é possível desconstruir cada ato até que nos sintamos miseráveis acerca de coisas que são verdadeiramente — ainda que imperfeitamente — boas. Dois, não somos muito bons em verificar nossa temperatura espiritual. Quando a verificamos muito frequentemente (“Estou melhor hoje do que estava ontem?”) ou quando verificamos por nós mesmos (à parte da comunidade cristã e dos líderes da igreja), somos inclinados a um diagnóstico incorreto. Os que são mais santos estarão mais consciente de seus pecados, e provavelmente serão muito duro consigo mesmos, enquanto que aqueles que precisam de um perícia, passarão no autoteste com louvor.
Por que você diz que a distinção entre união e comunhão é pratica e pastoralmente útil?
Precisamos ajudar as pessoas a ver a diferença entre as duas. Nossa união com Cristo é fixa e segura. Não podemos estar mais ou menos em união com ele. Fomos unidos a Cristo pelo Espírito Santo através da fé. Mas nossa comunhão com ele permite variedade e graus. Assim como você não pode estar mais ou menos casado, mas pode ter um casamento mais doce ou mais amargo, assim também é com Jesus: a união com ele foi eternamente estabelecida, mas ainda é um relacionamento dinâmico.
A Escritura apresenta várias exortações que apelam a uma ampla gama de motivações. Como pastor, como você determina quando é hora de aconselhar alguém (1) a correr para a cruz, (2) a correr do pecado ou (3) a correr pela coroa?
Não consigo pensar em nenhuma hora em que qualquer um dos três seria inapropriado. Mais geralmente, contudo, precisamos conhecer bem nossos membros para saber se eles irão mais longe sendo empurrados ou puxados, sendo alarmados ou confortados, com um abraço ou uma firme repreensão. Um tamanho não cabe em todos. A Palavra de Deus fornece muitos remédios diferentes para nossa motivação.
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