Por que se julga incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos? (Atos 26:8)
Os inimigos do cristianismo estão certos quando concentram seu ataque na ressurreição histórica de Cristo, pois toda a nossa fé depende dela. Se Cristo não tivesse sido ressuscitado, então nossa fé seria completamente sem valor.[1] Nós que cremos ainda estamos em nossos pecados e aqueles que morreram pereceram para sempre.[2] Além disso, nós que pregamos a ressurreição somos falsas testemunhas de Deus, porque testificamos que ele ressuscitou a Cristo quando ele não o fez.[3] Por último, se Cristo não ressuscitou, nossas vidas são um patético desperdício. Nós sofremos dificuldades sem qualquer razão, e as pessoas nos odeiam por causa de um falso profeta que não tem poder para salvar. Como o apóstolo Paulo escreve: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”.[4]
Nós mesmos admitimos que a ressurreição é tudo para a fé cristã. Se Cristo não foi ressuscitado, nossa religião é falsa. Portanto, faríamos bem em fazer a nós mesmos uma pergunta muito importante: “Como sabemos que ele foi ressuscitado?” Por que nós cremos? Nas páginas a seguir, nós consideraremos dois meios muito importantes, porém diferentes, que confirmam e tornam conhecida a realidade da ressurreição. Primeiro, o Espírito Santo revela essa realidade através de sua obra iluminadora e regeneradora e, segundo, as evidências legal-históricas que cercam o próprio evento confirmam a ressurreição. O primeiro é absolutamente essencial. O segundo fornece forte confirmação da fé cristã e é uma ferramenta efetiva para diálogo com o mundo incrédulo.
A obra do Espírito Santo
A igreja evangélica frequentemente tenta validar sua fé na ressurreição apontando para o túmulo vazio, a inabilidade dos inimigos de Cristo de apresentar um corpo, a transformação dos discípulos e muitas outras peças de evidência histórica e legal. Contudo, embora tais peças de evidência demonstrem de fato que a fé cristã não é ilógica ou contra-histórica, elas não são a base ou o fundamento da fé cristã. Os fatos a seguir demonstram por que.
Primeiro, os apóstolos não usaram essa forma de apologética em sua pregação.[5] Eles não lutaram para provar a ressurreição, mas para proclamá-la.[6] A confiança deles não repousava em seus poderosos argumentos, mas no poder do evangelho para salvar! Isso é evidente na carta de Paulo aos coríntios:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.[7]
Em segundo lugar, a maioria esmagadora daqueles que se converteram ao cristianismo ao longo da história da igreja, incluindo seus maiores intelectuais, não foram trazidos à fé por estudar as evidências históricas e legais da ressurreição, mas por sentar sob a proclamação do evangelho. Em terceiro lugar, se nossa fé na ressurreição é fundamentada nas evidências históricas e legais do evento, como podemos explicar a fé de incontáveis crentes que viveram e morreram por sua fé sem o menor conhecimento de tal evidência? Como explicamos os cristãos tribais, que mal podem ler e são incapazes de oferecer um argumento histórico sequer para a ressurreição? Ele suportará as mais desprezíveis perseguições, até mesmo o martírio, em vez de negar a fé que ele é incapaz de defender logicamente. À luz dessas verdades, devemos concluir que embora as evidências históricas e legais da ressurreição sejam úteis de muitas maneiras, elas não são o fundamento de nossa fé na ressurreição.
Qual, então, é o fundamento da fé do crente na ressurreição? Como ele sabe que Cristo foi ressuscitado? A resposta das Escrituras é clara. Nós devemos nosso conhecimento e nossa fé inabalável na ressurreição à obra iluminadora e regeneradora do Espírito Santo. No momento do novo nascimento, Deus sobrenaturalmente transmite nossa convicção a respeito da realidade da ressurreição de Jesus Cristo e a validade da fé cristã.[8] Nós sabemos que Cristo ressuscitou porque o Espírito Santo iluminou nossas mentes à verdade das Escrituras enquanto elas testificam de Cristo.[9] Consequentemente, nós também cremos porque o Espírito regenera nossos corações, transmitindo fé e novas afeições pelo Cristo que tem sido revelado a nós. O apóstolo Paulo descreve essa obra miraculosa do Espírito da seguinte maneira: “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo”.[10]
Aqueles que nasceram de novo não podem mais negar a ressurreição de Jesus Cristo mais do que podem negar a própria existência. Pelo decreto soberano de Deus e o testemunho do Espírito Santo, isso se torna uma realidade incontestável para eles.[11] Como os perseguidores da fé rapidamente aprendem: “Para aqueles que foram infectados com a religião de Jesus, não há cura”.[12]
As verdades que aprendemos servem tanto como aviso quanto diretiva. Embora a apologética tenha seu lugar, o reino dos céus avança através da proclamação do evangelho. Homens chegarão à fé — não através da eloquência ou de argumentos lógicos, mas através de nossa fiel pregação da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Nunca devemos esquecer que nossa missão é uma tarefa impossível, e nosso trabalho é um desperdício de tempo e esforços a menos que o Espírito de Deus esteja trabalhando para iluminar as mentes e regenerar os corações de nossos ouvintes. Por essa razão, devemos nos recusar a nos apoiarmos no bordão quebrado da sabedoria humana, e devemos nos apegar à verdade de que o somente o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.[13]
[1] 1 Coríntios 15.14, 17
[2] 1 Coríntios 15.17-18
[3] 1 Coríntios 15.15
[4] 1 Coríntios 15.19
[5] Apologética é uma disciplina da fé cristã que emprega argumentos lógicos ou racionais para defender a fé e demonstrar os erros nos argumentos daqueles que se opõem a ela.
[6] Atos 4.2, 33; 17.18; 24.21
[7] 1 Coríntios 2.1-5
[8] João 3.3
[9] João 5.39; 1 João 5.6-10
[10] 2 Coríntios 4.6
[11] Mateus 11.25: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”.
[12] Diz-se ser este o testemunho dos soldados soviéticos que buscavam fazer os cristãos se desviarem de sua fé no Cristo vivo.
[13] Isaías 36.6; Romanos 1.16
Extraído do livro 23º capítulo do livro “O Poder e a Mensagem do Evangelho” de Paul Washer, a ser lançado pela Editora Fiel. Tivemos a oportunidade de traduzi-lo e o privilégio de poder compartilhar pequenos trechos de cada capítulo com vocês.Tradução: Vinícius Musselman Pimentel. Versão não revisada ou editada. Postado com permissão.© Editora Fiel. Todos os direitos reservados. Original: O Fundamento da Fé na Ressurreição (Paul Washer) [23/26]Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
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