Casamento não vem pronto, se constrói
A família não vem pronta, acabada, maravilhosa e aconchegante. O rapaz não sai da casa dos pais pronto e maduro para assumir uma casa. Infelizmente, entre as esposas que se queixam de que a mãe de seu marido o mimou e não o treinou para ser solidário no lar, muitas acabam por cometer os mesmos erros com seus filhos e o resultado é que muitos homens casam-se longe do padrão ideal e almejado pela esposa. Marido não vem pronto.
Por mais treinada que esteja a moça para cuidar de uma casa ou para conseguir sustento no mercado de trabalho, preparação esta que se faz cada vez mais imperativa, a jovem esposa nunca está totalmente pronta para ser esposa, auxiliadora e mãe. Esposa não vem pronta.
O que dizer dos filhos? Certo estudioso conta que tinha cinco teorias infalíveis sobre paternidade, porém não tinha filhos; depois que teve cinco filhos, passou a não ter mais teoria alguma! Cada filho tem uma personalidade, um modo de ser e de reagir à vida. Mesmo gêmeos idênticos são muito diferentes entre si quando conhecidos de perto. Não há filhos iguais e tampouco é possível ter uma teoria única para cuidar deles. Filhos não vêm prontos.
O marido não vem pronto. A esposa não vem pronta. Os filhos não vêm prontos. A família não vem pronta, ela se constrói. Assim como em uma construção, os fundamentos da Palavra de Deus, da aliança, do companheirismo, da graça, da tolerância e da proteção são forjados em solo firme e profundo; as paredes são erguidas enquanto os dois se relacionam e compreendem seu lugar dentro do plano divino. Como tijolos bem presos com o cimento do amor, eles aprendem a arte da comunicação inteligente e descobrem como resolver suas diferenças de modo produtivo e edificante. O passo seguinte é a chegada dos filhos, que ampliam a construção como quartos coloridos e atrativos. A preparação destes cômodos precisa da flexibilidade e da firmeza de um amor disposto a servir.
Sogro e sogra, porém, já vêm prontos. O desafio é adaptar-se a eles: amar o pai do cônjuge e torná-lo seu pai, e amar a mãe do cônjuge como ama sua própria mãe. Digo sempre que quem despreza a sogra cospe no útero que gerou o amor da sua vida. Talvez os sogros nunca mudem, mesmo assim o casamento pode ser construído de maneira a abraçar estes queridos.
Jesus afirma que qualquer construção que for edificada sobre a rocha da obediência aos seus princípios sobreviverá às tempestades e ao transbordar dos rios e das circunstâncias deste mundo caído. Cabe ainda ao construtor assumir como compromisso: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”. Acompanhe-me neste manual de construção para descobrir os segredos da edificação de uma família debaixo da graça.
Edificando sobre a Rocha
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha;
e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha.
E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia;
e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. (Mt 7.24-27)
Este texto bíblico encontra-se no final do Sermão da Montanha, concluindo a melhor pregação de todos os tempos. Nesta pregação, Jesus apresenta o código de ética do Reino de Deus e traz princípios preciosos que, se forem praticados no lar, garantem uma construção inabalável. Jesus começa com as bem-aventuranças, nas quais ele apresenta um novo ideal, o padrão da verdadeira felicidade (Mt 5.1-12). Em seguida, ele usa duas ilustrações, o sal e a luz, para descrever os cidadãos do Reino de Deus.
A Lei de Moisés é permanente e Jesus a passa em revista, mostrando como obedecê-la de fato e de coração. O Mestre mostra que não somente matar é pecado, mas ofender também está errado e traz consequências desastrosas , principalmente no lar. Além disso, ele mostra o caminho do diálogo como saída para a resolução de conflitos .
Jesus reafirma a seriedade do pacto do casamento e mostra que a palavra empenhada deve ter peso de verdade . Ainda não nasceu quem pregue como Jesus, o Deus-homem. Gandhi disse a respeito do Sermão da Montanha: “Se todos os livros do mundo desaparecessem e sobrasse somente o Sermão da Montanha, não teríamos perdido nada”. Tudo o que precisamos saber para viver bem e de forma correta, na presença de Deus e dos outros, está no Sermão da Montanha, que é a síntese do código de ética do cidadão do Reino de Deus.
Embora Jesus não tenha falado de forma sistemática sobre a família, colocando títulos em seus sermões como “Os três deveres do marido”, “O que a esposa precisa saber” ou “Como ser um filho abençoado e obediente”, embora ele não tenha dado “Cinco passos para um casamento feliz”, ele deixou princípios preciosos que, se forem praticados em família, trarão como resultado um pedacinho do céu na terra.
A família será como um luzeiro , como um holofote que indica o caminho da vida abundante no lar. Será como um mercado que oferece de graça mantimentos para uma vida plena. E então poderá testemunhar, mesmo sem palavras, e influenciar um condomínio, um bairro e, quem sabe, até uma cidade, expondo o fantástico projeto de Deus e como ele funciona bem. Os princípios do Sermão da Montanha, quando praticados, formam uma base consistente para uma família que permanece.
Voltemos ao nosso texto inicial.
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha (v. 24)
A ênfase da parábola é expressa logo no início. Ouvir e praticar. Não basta somente conhecer o conteúdo bíblico sobre a família. Não basta estar por dentro do que a Bíblia diz sobre o assunto. É imperativo viver o que foi aprendido até que se torne um hábito, até que se torne parte do dia a dia. O ser humano gosta de criar desculpas para si mesmo, gosta de racionalizar para não precisar fazer força e mudar.
Mudar dá trabalho, exige esforço, disciplina e persistência, assim como é trabalhoso fazer uma casa com fundações profundas sobre o terreno rochoso. Quem escuta sempre e nunca muda acaba usando a Palavra de Deus para criar desculpas mais elaboradas. Engana a si mesmo . Faz um trabalho pela metade, constrói a casa, segue a vida em família e vai empurrando com a barriga, mas sem obedecer, sem praticar, sendo orgulhoso e egoísta, lançando palavras de morte, presumindo que “vai dar tudo certo”.
Quem, porém, pratica, ouve, batalha, arrepende-se, pede perdão, ora, faz nova tentativa, humilha-se, depende de Deus, muda e só descansa quando adquire um novo hábito, segundo os padrões das Escrituras, este constrói sua família sobre a rocha. Podem vir o vento do desemprego, os rios das enfermidades ou o temporal das drogas, mas a família não será abalada. Permanecerá firme.
Olhe para a vida com realismo sem ser, porém, pessimista. Olhe para a vida com as lentes da fé e haverá prazer em construir sua casa e sua família sobre a obediência aos princípios da Palavra de Deus, pois sempre haverá lutas, sempre haverá tempestades, mas sua casa não será abalada.
A estação da chuva é a grande estação da vida
As tempestades, as calamidades e as intempéries são absolutamente cegas. Quando a tempestade vem, ela não escolhe classe social, idade, sexo, procedência ou religião. Na passagem de Mateus, a chuva vem sobre ambas as casas. Veja o relato do Evangelista:
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha;
e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. (Mt 7.24, 25)
No texto, a chegada da chuva é anunciada simplesmente com a conjunção aditiva “e” – “e caiu a chuva”. Ela expressa a naturalidade, a frequência e a certeza da chegada das chuvas, com toda a sua violência e grandiosidade.
O problema não é a tempestade, mas o tipo de fundamento da pessoa, da família e do casamento. A segurança de um casamento está na BASE que o sustenta.
Fique tranquilo, todos passam, passarão ou já passaram por tempestades. Ela não dependem do seu desempenho espiritual. As tempestades não são colheita pelo pecado. Não. As tempestades vêm com frequência sombria, indistintamente. A diferença entre o justo e o ímpio, entre quem pratica e quem ignora a Palavra de Deus está no resultado da tempestade. A casa edificada sobre a rocha não se abala, enquanto que a família que não vive na prática das Escrituras naufraga desgraçadamente.
A vida é feita de escolhas e o nosso casamento também. Não dá para transferir a responsabilidade para os outros. As desculpas não mantêm a casa firme na hora em que os rios transbordam. Mesmo que você sempre diga “a culpa é dele”, ou “o problema é ela”, isto não resolve, não fortalece, simplesmente mascara o problema.
As desculpas são como alguém que tem um câncer e toma uma Aspirina para aliviar a dor, sem se preocupar em encontrar a causa da dor. As desculpas são a Aspirina do diabo. Mascaram a dor da culpa e mantêm o doente passivo e conformado.
Como está sua vida conjugal? Não responda superficialmente. O que sua esposa acha? O que seus filhos responderiam se você perguntasse: “Filho, você acha que a mamãe é feliz comigo?”. Ou se sua esposa perguntasse: “Filho, você acha que a mamãe faz seu pai feliz?”. Tenha coragem. Como já dissemos, mudar dá trabalho.
Até a “não escolha” é uma escolha. Alguns dizem: “Deixa do jeito que está para ver como fica”. Procrastinação é uma opção. Perceba que a Bíblia normalmente oferece duas opções. Não escolha a mais fácil. Jesus falou sobre a porta larga e a estreita.
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela;
E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem. (Mt 7.13, 14)
Passar por uma porta estreita dá trabalho, custa, demora, mas leva à vida, à felicidade, à presença e à segurança de Deus, enquanto que a porta fácil e larga leva à perdição. A palavra original usada para perdição dá uma ideia de destruição total, de um navio que afunda, de ruína, perda de dinheiro e sofrimento. Pode até ser usada para se referir à dor do inferno. O contraste é gritante. Trabalhe duro agora e colha os frutos agradáveis e permanentes depois.
Todo atalho é sempre muito perigoso. O rei Salomão já alertava com sua sabedoria única:
Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte. (Pv 14.12)
Escolha sempre o solo mais duro para fazer o alicerce. Ali na Palestina, onde Jesus pregou, o terreno era cheio de rochas aparentes, mas no solo brasileiro é necessário muitas vezes cavar fundo para encontrar rocha e fincar as colunas da edificação.
Edificar sobre a areia é fácil e mais barato, mas onde está a segurança da construção? Lógico, no alicerce. Construir com menor custo e maior facilidade às custas da fundação é uma tolice grosseira. No casamento, a rocha representa os princípios ensinados por Jesus.
Nenhum outro fundamento tem a “garantia” de Jesus. A mídia, as filosofias, os ensinamentos hereditários contrários às Escrituras não têm garantia. Jesus já avisou que a casa não suportará o “tranco”, que ela cairá.
O Mestre, porém, não deseja que a família seja destruída; pelo contrário, seu ensino visa a permanência. Ele garante que se a estrutura familiar for edificada sobre a Palavra de Deus ela não cairá. Podem vir a tempestade, o tufão, os demônios do inferno, os traficantes do morro, as seduções do mundo, as intrigas das trevas, mas a casa não cairá!
Lembre-se de que não há garantia no amor romântico de Hollywood: “casaram, e foram felizes para sempre”. Neste tipo de amor, não há garantia de permanência e muito menos de “intocabilidade”. Você se lembra do filme “Os intocáveis”? Mesmo alguns deles foram feridos. Ninguém é intocável. Casar-se apaixonado não garante que não haverá tempestades ou tragédias. Você é vulnerável. Todos são.
Até mesmo o genuíno amor ágape não garante as situações fora de controle. Tsunamis, terremotos, chuvas e avalanches, alagamentos e inundações chegam independentemente do amor.
Vamos chamar de tempestade as situações fora de controle e citar alguns tipos de vento que podem soprar com violência na casa de qualquer um de nós – comprometido ou não com Deus, apaixonado ou não, rico ou pobre, grande ou pequeno.
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