Referência: Mateus 5.7
INTRODUÇÃO
1. As quatro primeiras bem-aventuranças tratam da nossa relação diante de Deus. Esta fala da nossa ação diante dos homens. As primeiras tratam da questão do ser, esta progride para a questão do fazer.
2. No Cristianismo o ser vem antes do fazer. Quem é, faz. A fé sem obras é morta.
3. Vivemos num tempo em que a misericórdia parece ter desaparecido da terra. Os judeus eram tão cruéis quanto os romanos. Eram orgulhosos, egocêntricos, hipócritas e acusadores. Hoje, pensamos que se formos misericordiosos as pessoas vão nos explorar ou vão pular no nosso pescoço.
4. Nesta bem-aventurança Jesus falou que a misericórdia é tanto um dever como uma recompensa. Os misericordiosos alcançarão misericórdia.
5. Se o misericordioso é abençoado, há uma maldição para aquele que não exerce misericórdia (Sl 109:6-16).
I. O QUE É SER UMA PESSOA MISERICORDIOSA
1. O conceito bíblico de misericórdia
Misericórdia é lançar o coração na miséria do outro e estar pronto em qualquer tempo para aliviar a sua dor. A palavra hebraica para misericórdia é chesed: “é a capacidade de entrar em outra pessoa até que praticamente podemos ver com os seus olhos, pensar com sua mente e sentir com o seu coração. É mais do que sentir piedade por alguém (Barclay, Mateus p. 112).
Misericórdia é ver uma pessoa sem alimento e lhe dar comida, é ver uma pessoa solitária e lhe fazer companhia. É atender às necessidades e não apenas senti-las.
O maior exemplo de misericórdia foi demonstrado por Jesus. Ele curou os doentes, alimentou os famintos, abraçou as crianças, foi amigo dos pecadores, tocou os leprosos. Ele fez com que os solitários se sentissem amados. Ele consolou os aflitos, perdoou os que haviam caído em opróbrio.
O apóstolo Paulo disse que exercer misericórdia com os necessitados é uma graça que Deus nos dá em vez de um favor que fazemos às pessoas (2 Co 8:1-5).
2. A fonte da misericórdia
A misericórdia não é uma virtude natural. Por natureza o homem é mau, cruel, insensível, egoísta, incapaz de exercer a misericórdia. Você precisa nascer de novo antes de ser misericordioso. Você precisa de um novo coração, antes de ter um coração misericordioso.
II. OS VÁRIOS TIPOS DE MISERICÓRDIA
1. A misericórdia deve ser extendida às almas dos outros
É como uma esmola espiritual. Essa é a principal das misericórdias. A alma é a coisa mais preciosa que um homem tem. Jesus alertou que não devemos temer aqueles que podem matar o corpo, mas não a alma. A alma é como um rico diamante num anel de barro. Nela está timbrada a imagem de Deus.
Como podemos demonstrar misericórdia com as almas dos outros?
a) Chorando por elas – Agostinho dizia que se nós choramos pelo corpo morto, de onde a alma partiu, quanto mais deveríamos chorar pela alma que se apartou de Deus!
b) Advertindo os pecadores – Falar aos homens a tenebrosa condição em que se encontram em seus pecados é um profundo ato de misericórdia. Ficaríamos calados se víssemos alguém caíndo num abismo ou devorados pelo fogo sem avisá-los? Aqueles que se calam em nome da misericórdia têm uma falsa e cruel misericórdia. Quando o cirurgião corta e lanceta a carne tem como finalidade a cura e não a morte. Eles curam as feridas. A ferida do amigo é melhor do que a bajulação do ímpio. Devemos salvar as pessoas que estão indo para o morte e livrá-las do fogo (Jd 23). É melhor ser alertado sobre o inferno do que ir para o inferno.
c) Chamando os pecadores ao arrependimento – Jesus, João Batista, Pedro, Paulo, os pais da igreja, os reformadores chamaram as pessoas ao arrependimento. Isso é um ato de misericórdia.
2. Devemos ser misericordiosos com o nome dos outros
O bom nome vale mais do que riquezas. Esta é uma das maiores bênçãos sobre a terra. Nenhuma pérola é mais bela do que esta para adornar nossa vida. Mas a Bíblia diz que a garganta do ímpio é como um sepulcro que enterra o bom nome das pessoas (Rm 3:13). É uma grande crueldade destruir o nome de uma pessoa. O fundamento dessa falta de misericórdia é:
a) O orgulho – O orgulho não aceita que outros brilhem. O orgulho se entristece com a vitória do outro. O orgulho sempre tenta diminuir a reputação dos outros. Ilustração: A cobra e o vaga-lume.
b) A inveja – O invejoso é aquele que deseja o que é do outro, o lugar do outro, a reputação do outro; e se entristece não porque não tem, mas porque o outro tem. Ilustração: Eliabe e Davi.
De que maneira as pessoas manifestam essa falta de misericórdia com o nome das pessoas?
a) Quando expomos os pecados das pessoas – O amor cobre multidão de pecados, mas a falta de misericórdia tem um prazer mórbido de espalhar o pecado dos outros. Quem não tem misericórdia espalha também boatos falsos, maledicentes. São caluniadores. A palavra grega é diabolos (1 Tm 3:11).
b) Quando passamos para frente o que ouvimos dos caluniadores – A Bíblia nos exorta: “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do teu próximo” (Lv 19:16). Somos proibidos de levantar falso testemunho e também de espalhá-los. Deus diz: “Não espalharás notícias falsas, nem darás mão ao ímpio, para seres testemunha maldosa” (Ex 23:1). O pecado que mais a alma de Deus abomina é a língua que espalha contendas entre os irmãos.
c) Quando diminuimos o valor e a dignidade das pessoas – Falta-nos misericórdia quando ressaltamos as falhas e não destacamos as virtudes; quando não somos equilibrados. Quando distorcemos a imagem. Tiago diz que não devemos falar mal uns dos outros (Tg 4:11). Quando falamos mal do povo de Deus, estamos falando mal do próprio Deus. Somos a menina dos olhos de Deus.
d) Quando nos silenciamos diante da calúnia às outras pessoas – Quando os discípulos foram acusados no Pentecoste de estarem bêbados, Pedro se levantou para defendê-los (At 2:15).
3. Devemos ser misericordiosos com aqueles que já estão feridos
Jesus não esmaga a cana quebrada nem apaga a torcida que fumega. É fácil bater em quem já está caído. É fácil pisar naqueles que já estão no chão. Os escribas arrastaram uma mulher e jogaram-na aos pés de Jesus. Eles queriam que ela fosse apedrejada. Mas Jesus em vez de condená-la, perdoou-a e restaurou-a.
O samaritano pegou o judeu caído, ferido, parou, pensou suas feridas, colocou-o em sua cavagaldura, tratou dele. Isso é misericórdia.
4. Devemos ser misericordiosos com aqueles que nos ofendem
Estêvão quando foi apedrejado, orou: “Senhor Jesus, não lhes imputes esse pecado” (At 7:60). A Bíblia diz que devemos abençoar os nossos inimigos e orar por eles. Se o nosso inimigo tiver fome, devemos dar-lhe de comer, se tiver sede, devemos dar-lhe de beber.
O misericordioso perdoa as ofensas. Ele não registra mágoas. Ele não guarda rancor. Ele não armazena ira. Ele perdoa. Ele vence o mal com o bem.
Quem não perdoa: não pode ofertar, não pode adorar, não tem paz. Quem não perdoa adoece, é flagelado e nunca pode receber perdão. “O juízo é sem misericórdia para aquele que não exerce misericórdia” (Tg 2:13).
5. Devemos ser misericordiosos com os necessitados
Devemos acudir ao necessitado – No Salmo 41:1-3 Davi diz: “Bem-aventurado o que acode ao necessitado; o Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra; não o entrega à discrição dos seus inimigos. O Senhor o assiste no leito da enfermidade; na doença, tu lhe afofas a cama”.
Devemos ter uma terna compaixão pelos necessitados – A Bíblia diz: “se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia” (Is 58:10).
Devemos ser liberais na contribuição – Deus diz:”Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma das tuas cidades, na tua terra que o Senhor, teu Deus, te dá, não enderecerás o teu coração, nem fecharás as tuas mãos a teu irmão pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade” (Dt 15:7-8). Deus providenciou várias leis para cuidar dos pobres: nas colheitas não se podia apanhar o que caía no chão, era dos pobres. Paulo exorta os ricos: “…pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm 6:18).
III. RAZÕES PARA SERMOS MISERICORDIOSOS
1. Devemos ser misericordiosos porque a prática das boas obras é o grande fim para o qual fomos criados – Ef 2:10
O apóstolo Paulo diz: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Todas as criaturas cumprem o papel para o qual foram criadas: as estrelas brilham, os pássaros cantam, as plantas produzem segundo a sua espécie. O propósito da vida é servir. Aquele que não cumpre a missão para a qual foi criado é inútil.
2. Devemos ser misericordiosos porque pela prática da misericórdia nós resplandecemos o caráter de Deus que é misericordioso
“Sede misericordiosos como também é misericordioso vosso Pai” (Lc 6:36). Deus se deleita na misericórdia (Mq 7:18). As suas ternas misericórdias estão sobre todas as suas obras (Sl 145:9). Quando você demonstra misericórdia você reflete Deus em sua vida. Cada dia da sua vida você recebe as misericórdias de Deus. Cada vez que você respira, cada pedaço de pão que você come, cada copo de água que você bebe. Ilustração: John Rockfeller, o primeiro bilionário do mundo ficou doente e só podia tomar um copo d’água e comer duas bolachas de sal.
Quão ricas são as misericórdias de Deus em sua vida: ele perdoou você. Ele justificou você. Ele adotou você. Ele selou você. Elas são a causa de não sermos consumidos. Eles se renovam a cada manhã.
3. Devemos ser misericordiosos porque a demonstração de misericórdia é um sacrifício agradável a Deus
A Bíblia diz: “Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz” (Hb 13:16).
Quando você abre a mão para ajudar o necessitado é como se você tivesse orando e adorando a Deus. O anjo do Senhor disse a Cornélio: “Cornélio… as tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus” (At 10:4).
4. Devemos ser misericordiosos porque um dia daremos conta da nossa administração
A Bíblia que somos mordomos e vamos um dia comparecer diante do juiz para prestar contas (Lc 16:2). É um grande perigo fechar as mãos aos necessitados. No dia do juízo os homens serão julgados pelo que deixaram de fazer aos necessitados: “Apartai-vos de mim…porque tive fome e não me deste de comer, porque tive sede e não me deste de beber…” (Mt 25:41-45).
IV. AS RECOMPENSAS PROMETIDAS AOS MISERICORDIOSOS
1. Eles receberão de Deus o que deram aos outros
a) Eles serão felizes – Jesus disse que “mais bem-aventurado é dar do que receber” (At 20:35). A pessoa feliz não é aquela que quer tudo para si, mas é aquela que distribui e dá aos pobres e necessitados.
b) Eles receberão de Deus exatamente o que deram aos outros – Eles manifestam aos outros misericórdia, e de Deus recebem misericórdia. Não são os homens que vão lhe recompensar com misericórdia, mas Deus. O misericordioso abre as torneiras celestiais sobre a sua cabeça. Ele abre os celeiros do céu para abastecer a sua própria alma. Ser misericordioso não é o meio de ser salvo, mas é o meio de demonstrar que se está salvo pela graça.
2. Eles serão recompensados nesta vida
a) Ele será abençoado em sua pessoa – “Bem aventurado aquele que acode ao necessitado” (Sl 41:1).
b) Ele será abençoado em seu nome – “Ditoso é o homem que se compadece e empresta…não será jamais abalado; será tido em memória eterna” (Sl 112:5-6).
c) Ele será abençoado em sua prosperidade – “A alma generosa prosperará e a quem dá a beber será dessedentado” (Pv 11:25).
d) Ele será abençoado em sua posteridade – “É sempre compassivo e empresta, e a sua descendÊncia será uma bênção” (Sl 37:26). Não apenas ele é abençoado, mas seus filhos atrás dele também serão abençoados.
e) Ele será abençoado com vida longa – “Bem-aventurado o que acode ao necessitado. O Senhor o livra no dia do mal. O Senhor o protege, preserva-lhe a vida e o faz feliz na terra” (Sl 41:1-2). Ele ajuda os outros a viver e Deus lhe preserva e lhe dilata a vida.
3. Eles serão recompensados na vida por vir
Não são as nossas boas obras que nos levam ao céu, mas nós as levamos para o céu (Ap 14:13). A salvação é pela fé sem as obras, mas a fé salvadora nunca vem só. A fé nos justifica diante de Deus, as obras diante dos homens.
Receberemos galardão no céu até por um copo de água fria que dermos a alguém em nome de Jesus.
A Bíblia diz: “Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício” (Pv 19:17).
Jesus diz: “Daí, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão…” (Lc 6:38).
No dia do juízo Jesus dirá aos estiverem à sua direta: “Vinde benditos de meu Pai, entrai na posse do Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque eu tive fome e me deste de comer…” (Mt 25:34-40).
CONCLUSÃO
O seu coração é misericordioso? Você sente a dor do outro? Abre-lhe o coração, a mão e bolso?
Você se importa com as almas que perecem? Se importa com a reputação das pessoas? Você tem usado o que Deus lhe deu para abençoar as pessoas? O mundo tem sido melhor porque você existe?
por Hernandes Dias Lopes
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