Em julho de 2008, em Madri, na Espanha, o rei Abdullah da Arábia Saudita falou a uma platéia que muitos do mundo ecumênico aclamaram como um agrupamento brilhante de eruditos religiosos. A conferência foi denominada histórica, não apenas por ter sido convocada por um rei muçulmano do país mais religiosamente intolerante do mundo, mas porque incluía, juntamente com os usuais representantes do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), uma mistura de praticamente tudo.
Havia um rabino judeu, alguns líderes “evangélicos” e lobistas liberais das igrejas históricas para um diálogo interreligioso, e um núcleo de hindus, budistas, sikhs, zoroastristas, e semelhantes.
Os mais de 300 incentivadores do “inclusivismo” religioso poderiam ter passado despercebidos sem nada além de um aceno de cabeça e um “lá vão eles de novo”, se não fosse por uma declaração definidora de Abdullah em suas palavras introdutórias: “Todos cremos em um Deus, que enviou mensageiros para o bem da humanidade neste mundo e no porvir”.
Talvez, no passado, mesmo essa afirmação dificilmente mereceria ser notada. Mas no atual pântano de incoerência moral e religiosa, o ponto de vista de Abdullah encontra eco no que se pode denominar vagamente de meio evangélico.
O Evangelho Social Não Tão Novo
O que foi cunhado como Evangelho Social entrou em cena no final do século 19 e no início do século 20, quando liberais proeminentes, como Harry Emerson Fosdick, um ministro batista, se uniram a teólogos liberais da Igreja Presbiteriana da cidade de Nova Iorque. Juntos eles questionaram a infalibilidade das Escrituras e a validade de doutrinas tradicionais como o nascimento virginal, a expiação vicária e a Segunda Vinda de Cristo no sentido literal. De acordo com a visão deles, as evidências científicas modernas apontavam para o contrário.
Charles A. Briggs, professor de teologia bíblica, deduziu “definitivamente” que a infalibilidade da Escritura “é um fantasma do evangelicalismo moderno para amedrontar as crianças”.
Esse desvio dos fundamentos da fé foi ornamentado pelos defensores da Alta Crítica e promovido por Charles A. Briggs, professor de teologia bíblica, que deduziu “definitivamente” que (1) Moisés não escreveu o Pentateuco; (2) os profetas do Antigo Testamento não escreveram os livros a eles atribuídos; (3) o rei Davi escreveu apenas uns poucos salmos; (4) a Bíblia como um todo é permeada de erros; e (5) a infalibilidade da Escritura “é um fantasma do evangelicalismo moderno para amedrontar as crianças”.
“A Bíblia”, disse Briggs, “não tem autoridade para transmitir absolutos”; e ele recorreu a companheiros racionalistas para se juntarem e eliminarem a ortodoxia morta do passado e trabalharem pela unidade de toda a igreja.
Após anularem as Escrituras como sendo uma relíquia não-confiável, os liberais não tinham nenhuma mensagem bíblica viável para proclamar. Então, voltaram-se para o que sentiram ser as “preocupações profundas com o papel do cristianismo na cultura e como esse papel deveria ser expresso”. O resultado foi o Evangelho Social, descrito como um movimento intelectual dedicado a melhorar os problemas sociais de pobreza, desigualdade, criminalidade, tensões raciais, favelas, falta de higiene, escolas pobres, e os perigos da guerra. Além de serem teologicamente falidos, os líderes do Evangelho Social também eram em grande parte politicamente liberais.
No final, o cristianismo nos EUA e no Ocidente ficou dividido em duas categorias religiosas designadas como (1) “cristianismo histórico” (liberal), e (2) “evangélico” ou “fundamentalista” (ortodoxo/conservador).
A atual propensão crescente em determinados segmentos do evangelicalismo moderno de desviar-se dos métodos e das mensagens da fé e de ser mais assimilado na cultura, mais entrelaçado com outras religiões, e menos rígido na interpretação da Escritura, pode ser um projeto para o futuro das igrejas. Mas certamente não será algo que ainda não tenha sido feito. Essa tendência é um retorno ao mesmo Evangelho Social que criou o pântano moral em que nos encontramos atualmente.
Antes que um novo liberalismo começasse a se enraizar seriamente nos EUA, ele já estava em pleno florescimento em muitas áreas do Reino Unido. Em seu livro The Abolition of Britain[A Abolição da Grã-Bretanha], o autor Peter Hitchens documentou os resultados:
Quando não há almas a serem salvas, apenas corpos... existe somente um objetivo: melhorar as condições de vida deles; mesmo que depois aumente – como sempre acontece – o nível de sua pobreza moral. [E quando a agenda social fracassa em ser equilibrada com a espiritual, a questão do pecado permanece intocada; e os resultados são previsíveis]. Se você não acredita que o pecado existe, dificilmente pode-se esperar que gaste muito esforço lutando contra ele. E, se acredita que o pecado existe, então você é dos que “gostam de julgar os outros” e está automaticamente excluído do debate.[1]
Documentando o Sucesso Nacional
O povo judeu sempre pergunta: “Por que Deus nos escolheu como um povo especial?” A não ser pela Bíblia, comprovada pela história, não há uma resposta concebível. Mas no Livro há muitas respostas:
“Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve oSenhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito” (Dt 7.6-8).
No Livro há muitas respostas: "Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra" (Dt 7.6).
Por que essas promessas, dadas a Israel tanto tempo atrás, são relevantes para esta geração? Porque tanto as promessas quanto a preservação do povo judeu são historicamente verdadeiras, sem a menor sombra de dúvida. Isso não é mito nem alegoria, é história documentada. Uma dedução natural é que a Palavra de Deus é fidedigna e tem autoridade – naquela época e agora.
À luz dessas verdades, considere por que a América tornou-se uma grande nação. Certamente não foi por causa de uma habilidade superior de criar inventos, embora a iniciativa pessoal e a liberdade sejam aspectos positivos na sociedade americana. Não, há algo mais profundo, uma realidade mais séria: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua herança” (Sl 33.12).
Logicamente, a Escritura se refere à nação de Israel. Mas aqui há um princípio para nós também. O Deus Altíssimo chama de “feliz” a nação cujo Deus é o Senhor. Não há nenhum indício de “inclusivismo” nisso. O Deus mencionado é exclusivamente Yahweh (Javé): o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Esse versículo não está falando dos deuses do islamismo, do hinduísmo, do budismo, ou dos deuses das nações pagãs do mundo. Essas palavras não se aplicam à Atenas antiga, que tinha altares para todos os deuses de todas as formas, tamanhos e modelos.
E quer você concorde ou não com a idéia de que a América foi forjada como uma nação cristã, é inegável que os fundamentos dela foram lançados e, na maior parte dos primeiros 200 anos, foram estruturados sobre as bases judaico-cristãs que refletem valores e compromissos cristãos. Os americanos respeitaram o Deus que os livrou da pobreza, da opressão, da ignorância e da privação espiritual. E, por essas coisas, podem ser eternamente gratos.
A Ilha da Graça
Dentro deste “experimento” único de liberdade religiosa e tolerância social chamado América, a Igreja tem tido liberdade para proclamar sua mensagem ao mundo inteiro, sem impedimentos de chefões políticos e religiosos hostis. E, embora, enquanto escrevo este artigo, eu esteja plenamente consciente de que essas liberdades estão correndo sério risco, devo concluir que elas têm sido uma grandiosa manifestação do favor de Deus. No futuro, essas liberdades serão suprimidas a um custo incalculável para a nação que está agressivamente virando suas costas a Deus e a Seu povo. Deus diz em Sua Palavra:“Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3).
Ao contrário das afirmações daqueles que adotam a insensatez da Teologia da Substituição, a América não é o verdadeiro Israel de Deus. Esse legado foi deixado ao povo judeu – Sua nação escolhida. A nação americana de pagãos repatriados tem sido a beneficiária daquela promessa divina absoluta que está em Gênesis 12.3, porque os americanos abriram suas portas e estenderam suas mãos para acolher um povo que estava desabrigado e que é freqüentemente desprezado, a quem Deus ama.
As páginas da história estão cheias do lixo dos restos de países e impérios que levantaram sua espada contra a nação escolhida de Deus. Na foto, parlamento alemão após a derrota na Segunda Guerra.
Nos EUA não houve nenhuma Kristallnacht(“Noite dos Cristais Quebrados”), nenhum gueto escuro, nenhuma estrela amarela nas roupas dos judeus, nenhum massacre, nenhum campo de extermínio. A América tem sido, em muitos aspectos, um refúgio seguro para o povo judeu. E a quem devemos agradecer por isso? A Deus somente, e à Sua Palavra da promessa.
Há muita conversa hoje em dia sobre a América parar ou não de apoiar Israel, como estão exigindo os líderes árabes militantes. Isso pode chegar a acontecer, embora oremos para que não aconteça. Já podemos ver os elementos do anti-semitismo se desenvolvendo. Mas, se essas tragédias acontecerem, os americanos sofrerão a pior parte delas. Tudo o que temos a fazer é observar as páginas da história. Elas estão cheias do lixo dos restos de países e impérios que levantaram sua espada contra a nação escolhida de Deus.
Deus tem nos avisado. A América e o Ocidente não têm promessa de prosperidade e de sobrevivência, embora nos vejamos como pessoas que a merecem. Estamos aqui por causa da clemência de um Deus longânimo. Na verdade, temos muito mais do que merecemos.
As verdades proféticas das Escrituras nos proporcionam o discernimento que precisamos para lidar com o futuro. E podemos ter certeza de que se (1) a liberdade religiosa e a habilidade de disseminar a Palavra de Deus sem impedimentos nos forem tiradas, e (2) nossa nação abandonar Israel e o povo judeu, não teremos direito algum de reivindicar imunidade quanto a cairmos da graça.
Recentemente, na igreja onde congrego, um representante dos Gideões Internacionais relatou sobre a distribuição das Escrituras por aquela associação em todo o mundo. Os Gideões distribuem centenas de milhares de Bíblias todos os meses. Os Gideões são homens de negócio, voluntários que dão de seu tempo livre para distribuir o pão da vida. E toda Bíblia colocada em cada mão em todos os lugares do mundo é doada por cristãos que experimentaram o poder transformador da Palavra de Deus.
À medida que eu ouvia as estatísticas e os relatos sobre como a Palavra tem operado em muitas vidas, agradeci ao Senhor porque vivemos em um país no qual essa disseminação é possível. E, a despeito de todos os elementos negativos que nos confrontam o tempo todo, nós – judeus e cristãos igualmente – podemos agradecer a Deus por esta ilha da graça que temos tido o privilégio de ocupar. (Elwood McQuaid - Israel My Glory)
Notas:
- Peter Hitchens, The Abolition of Britain: from Winston Churchill to Princess Diana (San Francisco: Encounter Books, 2000), 176.
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