terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Sermão da Montanha.

Texto: Mateus caps. 5-7.

Pergunta Chave: Como ser um cristão autêntico?

Introdução

O sermão da montanha é, sem sombra de dúvidas, a parte mais conhecida dos ensinamentos de Jesus, embora seja a menos compreendida e certamente a menos obedecida. Nele o Senhor descreveu o que desejava que os seus discípulos fossem e fizessem.
Não podemos esquecer que este é o primeiro grande sermão de Jesus, registrado em Mateus, onde ele anuncia o Evangelho. E o que é o Evangelho se não boa notícia? Logo, em toda sua expressão este sermão apresenta: “As boas novas do reino de Deus para os seus discípulos”. Ele descreve como deve ser a vida do crente sob o domínio da graça de Deus. Num certo sentido poderíamos dizer que o texto chave para a compreensão do sermão é Mt. 6:8: “Não podemos nos assemelhar ao mundo – precisamos ser diferentes”.
A luz deve brilhar nas trevas; a justiça deve exceder, em muito, a dos hipócritas fariseus; o comportamento ético e a devoção religiosa devem ser motivados pelo amor a Deus e ao próximo. Jesus deixou muito claro que há um contraste entre o cristão e o não cristão, pois nesta “aparente” norma de comportamento ele nos apresenta algo muito mais profundo, na verdade fala das realidades do coração.
A partir de uma compreensão básica do sermão como um todo, chegamos a sua famosa introdução: “As bem-aventuranças”.

Baseado em Mt.5:1-12 descobrimos que as bem-aventuranças tratam de descrever o caráter equilibrado e diversificado do povo cristão. Não existem oito grupos distintos e separados de discípulos, como sendo alguns mansos, outros misericordiosos, ao passo que outros são humildes de espírito. São antes, oito qualidades do mesmo grupo de pessoas que são mansas e misericordiosas, humildes de espírito e limpas de coração, possuidoras de fome e sede de justiça. Estas qualidades devem ser características inerentes aos servos de Deus.

         Conforme John Stott: “Da mesma forma que o fruto do Espírito deve          amadurecer em seus nove aspectos o caráter de cada cristão,       também as oito bem-aventuranças dadas por Cristo descrevem o         ideal do cidadão dos céus”.

Cada qualidade (bem-aventurança) foi elogiada, enquanto cada pessoa que a possui foi declarada bem-aventurada – MAKARIOS – feliz. Alguns chegam a comentar que esta é a receita de Jesus para a felicidade humana.
Um terapeuta cristão americano chegou a descrevê-la como: “Uma série de oito atitudes emocionais fundamentais. O homem que reagir ao seu ambiente com esse espírito terá uma vida feliz por haver descoberto a fórmula básica para a saúde mental, pois há uma forte ênfase na fé experimental e no amor paternal”. Não está falando de um estado subjetivo de alma, mas sim o que Deus pensa daqueles que por obediência e fé tornam-se discípulos de Cristo.

1ª Parte do Sermão – As Bem-Aventuranças.

Texto: Mt 5:1-3.

Doutrina: Um cristão autêntico deve ser “humildade de espírito”.

“Bem-Aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”. (vs.3).

Pergunta: O que significa ser humilde de espírito?

Este primeiro verso obviamente não está aqui por acaso – conforme veremos no decorrer do sermão. Assim como dizem os estudiosos que o Salmo 1º é o índice dos 150 Salmos que dispomos, o verso três do cap.5 de Mateus é “a chave para a compreensão de tudo quanto vem em seguida. uma seqüência lógica e espiritual em cada bem-aventurança apresentada pelo nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (DMLJ*).
Com isto em mente, podemos afirmar que esta bem-aventurança é a primeira e mais excelente que um discípulo de Cristo pode e deve possuir.
Mas você pode perguntar: Por quê?
Simplesmente porque sem ela ninguém pode entrar ou fazer parte do reino dos céus. Essa é a qualidade, característica essencial do crente, tendo todas as demais como conseqüência dela. Ela vai nos esvaziar de todo lixo humano para sermos cheios da mais pura plenitude da presença gloriosa do Senhor. Recebemos um tratamento para que a nossa essência seja trabalhada e se torne apta para o reino dos céus – o nosso caráter tratado e lapidado para receber o santo caráter de Cristo.
A vida cristã é caracterizada por perdas e ganhos – esvazia-se primeiro para depois ser cheio. Num certo sentido poderíamos aplicar a lei da física naquilo que Jesus está nos apresentando:
“Dois corpos não podem ocupar um mesmo espaço ao mesmo tempo”. Um “tem que sair” para que “outro possa entrar”.

Existe no Evangelho a perda para o ganho, a morte que antecede a vida, o receber não precede o dar; há o edificar precedido pelo derribar.

         Conforme DMLJ: “O aniquilamento vem antes da elevação, pois isso, a          convicção de pecado vem sempre antes da conversão – o Evangelho de           Cristo condena o homem antes de libertá-lo”.
  
Este é o princípio da justificação pela fé, ou seja, morre a nossa morte para vivermos sua vida, a obra é dele em nós e a Ele seja a honra e a glória para todo sempre amém!
Sem que tenha havido uma mudança – conversão, o homem natural terá grande dificuldade em compreender este Sermão, e vivê-lo será impossível. Isso porque, conforme Paulo escreve aos Coríntios: “as coisas espirituais são loucura para o homem natural, pois elas se discernem espiritualmente”.
É bom compreendermos que ao falar sobre humildade não se trata de sinônimo para pobreza, conforme alguns querem afirmar, até mesmo baseados em Lucas 6:20. Falando de homem espiritual, ou bem-aventurado, o pobre não está mais perto do reino dos céus do que um rico. E ainda, pobreza – como determinou a ordem franciscana, não serve de garantia da verdadeira espiritualidade. Não há mérito na pobreza (entenda-se bem), pois o contexto de Lucas exalta os não jactanciosos, os que se consideram pobres para esta vida e ricos para com o reino dos céus, tornando-se pobres de espírito por não terem os seus corações neste mundo – os despojados.
Isto significa dizer que são “pobres bem-aventurados” os que não dependem das riquezas deste mundo para serem felizes. A verdadeira riqueza para o “MAKARIOS” é o contentamento, reconhecimento da soberania divina e a fé para crer que: O Senhor é o meu pastor e nada me faltará. O que está em foco é a atitude da pessoa para com ela mesma, e não se ela é materialmente rica ou pobre.
Este versículo é sem sombra de dúvidas a antítese de tudo aquilo que aprendemos com este mundo, logo, a distinção entre aquele que vive os valores deste reino e o que vive os valores do reino dos céus será enorme.
Isso significa dizer que, na prática, a autenticação de um bem-aventurado se dará nos seus valores, e Jesus afirma que o valor número um de um discípulo é a humildade.
Nascemos e crescemos num mundo onde a filosofia determinante é: “Se quiser vencer neste mundo acredite em si mesmo”. Mas você pode afirmar:
 “Esta é a realidade profissional, comercial, isto é mais do que nunca uma realidade de mercado. Se eu não demonstrar grande confiança, segurança em quem sou e naquilo que faço estou aniquilado, completamente fora do mercado de trabalho”.
Porém, esta é a realidade do homem face a face com a homem lutando pela sua sobrevivência. Jesus está tratando em primeiro lugar, e antes de tudo do homem face a face com Deus.

Num certo sentido eu diria que é uma questão de reputação e caráter. Reputação é aquilo que os homens pensam a seu respeito, caráter é aquilo que você verdadeiramente é. Reputação é o seu currículo e aquilo que as pessoas falam a seu respeito, mas caráter é aquilo que os anjos falam sobre você diante do trono de Deus, diante do qual você e eu compareceremos um dia para dar conta do nosso histórico. As bem-aventuranças nos ajudam a parecermos mais com Cristo, sermos verdadeira e autenticamente cristãos.
         DMLJ nos afirma que se um homem, após estar na presença de Deus não sentir em última análise a mais profunda penúria de espírito por força dos seus pecados, tal homem verdadeiramente não esteve na presença de Deus. É muito importante entendermos isto de uma vez por todas, o verdadeiro evangelho não é aquele que trata da personalidade – o que se demonstra, faz e aparece, é antes, porém, aquilo que você é, trata-se do ser. Quem somos, precede em muito ao que fazemos. O que Deus vê prevalece sobre aquilo que queremos aparentar – isso é humildade.
No reino de Deus, e como cidadãos do reino de Deus não precisamos impor nada a ninguém, nem tampouco que nos amem e aceitem pelo que temos ou podemos oferecer, pois Deus em Cristo nos amou a todos assim como somos. O que somos? Miseráveis pecadores necessitados desesperadamente da bendita graça de Deus.

“Evitemos aceitar as coisas pela mera aparência; acima de tudo, evitemos ser cativados pela psicologia mundana; e tomemos consciência, desde o início, de que estamos dentro de um reino diferente de tudo quanto pertence a este presente mundo mau”. DMLJ.

O que não significa ser humilde de espírito?

a)    Não significa que devemos ser tímidos e fracos.

b)   Não significa que devemos ser retraídos e covardes.

c)    Não significa que devemos negar as nossas potencialidades. Em hipótese alguma representa a supressão da nossa personalidade. Humilde de espírito não é aquele que depois de vencer heroicamente um leão vira-se e diz: “Eu não fiz nada”.

d)   Não significa que devemos procurar um estereótipo (perfil) de humildade.
e)   Não significa que devemos ter a preocupação de causarmos a impressão correta, pois a última coisa que a humildade de espírito está à procura é da impressão correta. O humilde de espírito naturalmente dará a impressão correta, pois o objeto das suas preocupações não diz respeito ao reino dos homens, mas ao reino dos céus. Quero parecer com Cristo. Esta é sua obsessão.

f)    Ninguém precisa retirar-se da vida ativa para tornar-se humilde de espírito, é no fogo do cotidiano que a verdadeira humildade de espírito é forjada.

É muito importante frisar que nenhuma das bem-aventuranças é afeição ou característica natural na vida de alguém. Deus habita em vasos de barro, apesar de toda sua grandeza e soberania, Deus tem predileção pelos verdadeiramente humildes de espírito (Is 57:15).


A VERDADEIRA HUMILDADE DE ESPÍRITO É:

a)    Encolher-se diante da própria idéia de grandeza pessoal e das honrarias que haveria de receber (Jz 6:14-15).

b)   Reconhecimento do potencial que possuímos como expressão da glória de Deus.

c)    Considerar a vida como uma realidade marcada por surpresas que podem nos derrubar dos mais altos pedestais do orgulho e da soberba, fazendo-nos enxergar de modo muito duro que a vida está debaixo do controle daquele que: “Sendo Deus não julgou por usurpação o ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou assumindo a forma de servo”. Conforme destaca o apóstolo Paulo devemos ter em nós o mesmo sentimento que houve em Cristo (Fl 2:3-7).




APLICAÇÃO

Devemos então fazer-nos algumas perguntas:

1)    Sou humilde de espírito? Pareço-me com a descrição de Mateus 5:3?

2)   Como me sinto na presença de Deus a respeito de mim mesmo?

3)   O que penso a respeito de mim mesmo? Quais são os hábitos da minha vida, o conteúdo da minha oração, as ações e reações do meu cotidiano que servem de aferição quanto à verdadeira e a falsa humildade de espírito em minha vida?


CONCLUSÃO

Concluindo, nos tornamos humildes de espírito quando não olhamos para nós mesmos e nem tampouco quando tentamos fazer as coisas na nossa própria força. A única maneira de tornar-se humilde de espírito é voltando-se para Deus e rendendo-se a Ele. É voltando-se para as Sagradas Escrituras com o desejo de aprender com Ela a maneira de vivermos alegres e prosperamente, naquilo que Ele tem reservado para as nossas vidas. Reconhecendo antes de qualquer coisa: “Quer comamos ou bebamos somos do Senhor”.

Fique na presença de Deus em oração, examinando sua Lei e pedindo que ela te examine. Imagine-se de pé diante dele perguntando: Senhor o que tu pensas de mim? O que tu queres de mim? Peça ao Senhor condições para vencer a queda de braço com seu próprio ego!

Olhe para Cristo e aprenda com seus princípios, ensinamentos e atitudes sobre como ele quer que vivamos, pois suas palavras continuam ecoando poderosamente: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Por que o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. Mt 11: 28-30.

E por fim, peçamos a Deus que a mais pura e genuína humildade de espírito de João Batista se torne também a nossa:


Paráfrase de Mateus 3:11: “Eu cumpro o meu papel baseado numa ordem recebida daquele que me tornou digno daquilo que eu faço. Mas querem saber a mais profunda verdade? Eu não sou digno de fazer nem o mais inferior trabalho de um escravo diante da grandeza e da superioridade daquele que me deu a vida e uma ordem. Ele tem a primazia, ele existia antes de nós, ele nos revelou o verdadeiro sentido de graça e verdade, demonstrou a sua glória exclusiva de unigênito do Pai, compartilhando o que era exclusivamente seu conosco”.
Portanto, importa que ele cresça e eu, você, bem como o mundo inteiro diminua. Façamos como os discípulos diante dos elevados desafios: “Senhor aumenta-nos a fé”. (Lucas 17:5).
Ninguém que volte os olhos honesta e sinceramente para Cristo permanecerá orgulhoso e arrogante, muito pelo contrário, se sentirá nulo e incapaz em si mesmo tornando-se humilde de espírito.


























  • DLMN – Abreviação para Dr. Martin Lloyd-Jones.
  • Apostila preparada por: Pr.Inésio Azeredo em 05-04-06.   

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