No artigo “Revitalização de Igreja: Um Trabalho de Tartaruga, Não de Lebre“, Jeramie Rinne utiliza da parábola “A tartaruga e a lebre” para nos mostrar o perigo de se realizar uma reforma de maneira apressada na igreja. Após a introdução, ele os dá 4 tipos de coelhos da reforma da igreja. Confira quais são:
Você conhece a clássica fábula: o arrogante coelho desafia os outros animais para uma corrida. A tartaruga aceita, para a perplexidade da lebre. A corrida começa e o coelho corre a grande distância – tão grande que, na verdade, ele tem tempo para um cochilo. Mas, enquanto a lebre dorme, a tartaruga fielmente se arrasta e cruza à linha de chegada primeiro, em uma virada dramática. Moral da história: quem segue devagar e com constância ganha a corrida.
Talvez os seminários devessem oferecer uma aula sobre a exegese de Esopo. Com muita freqüência, pastores chegam a uma nova congregação, rapidamente vêem a necessidade de revitalização e arrancam, à velocidade de uma lebre, para virar a igreja de cabeça para baixo. Em poucos anos, graves problemas surgem. E a corrida termina, prematuramente, com uma congregação em conflito e um pastor ferido e pronto a abrir mão do ministério.
Jovens pastores, em particular, podem tornar-se vítimas dos perigos de uma reforma apressada. Isso ocorre, em parte, porque eles geralmente têm muita energia e idealismo, mas pouca experiência; porém, é também porque jovens pastores e igrejas em declínio parecem esbarrar uns nas outras. Uma igreja com problemas diz que deseja “energia nova” e “mais caras jovens” e, assim, está disposta a dar uma chance a um homem mais novo. E o jovem pastor está ansioso por aquele primeiro emprego e pronto para um desafio. E, assim, o ministro recém-formado chega e a corrida começa a uma velocidade assustadora.
Quatro coelhos da reforma de igrejas
Coelhos aparecem em muitas subespécies. Quer dizer, há muitas maneiras de precipitar uma reforma e renovação em uma igreja local, em detrimento da congregação e do pastor. Considere quatro modos arquetípicos pelos quais nós pastores agimos rápido demais em nossos esforços de trazer as mudanças necessárias às nossas igrejas:
O purista
O purista tem fortes convicções teológicas. Ele tem sido abençoado com uma clara visão bíblica para a vida da igreja e sua prática. Ele corre obstinadamente, sem desviar do caminho.
Infelizmente, ele se move rápido demais para a congregação. Nos primeiros seis meses, ele propõe uma nova declaração de fé, uma mudança constitucional para adotar presbíteros e uma limpeza radical do rol de membros. Ironicamente, em seu zelo pela fiel teologia da igreja, ele trata com rudeza o verdadeiro povo da igreja. Ele esbraveja as doutrinas da graça todo domingo, mas falha em mostrar ao seu povo a paciente graça de Deus em sua maneira de lidar com eles.
Esse pastor pode ser demitido rapidamente. E, infelizmente, ele pode ir embora como um mártir teológico em sua própria mente, cego para os seus equívocos. Mais triste ainda, aquela igreja agora está vacinada contra a reforma bíblica de que ela desesperadamente precisa.
O pragmático
O extremo oposto do purista, o pragmático fará “qualquer coisa que funcione” para trazer as pessoas à igreja e mantê-las lá. Nada está fora dos limites, contanto que faça a igreja crescer e não envolva imoralidade flagrante ou óbvia heresia. Um pragmático carismático e talentoso pode fazer uma igreja crescer de 50 para 500 em pouquíssimo tempo, com uma sagaz mistura de humor, tecnologia, liderança e personalidade.
O pragmático pode descobrir como fazer frequência da igreja crescer rapidamente, dando todas as aparências de revitalização. Mas algumas questões importantes permanecem: as pessoas estão verdadeiramente sendo convertidas ao evangelho, arrependendo-se dos pecados e confiando em Cristo? Ou as pessoas estão apenas sendo “igrejadas” de um modo eficiente? Esse pastor está fazendo discípulos de Jesus ou apenas fãs da igreja da última moda? Ele está cultivando uma sequóia espiritual, que cresce lentamente, mas adquire uma estatura majestosa? Ou ele está meramente plantando uma rosa, que hoje desabrocha, mas murcha amanhã?
Infelizmente, quanto mais rápida e efetivamente alguém é capaz de aumentar a frequência de uma igreja, menos provável é que esse alguém questione teologicamente seus métodos. Números nos enfeitiçam.
O imitador
O imitador economiza tempo pegando um atalho: ele meramente replica em sua própria congregação a filosofia, os programas e a estrutura da igreja de outros. Por que reiventar a roda? Por que não simplesmente comprar o livro, participar da conferência, adquirir o kit e baixar os sermões de outra igreja bem sucedida?
O imitador parece com o pragmático e, em um sentido, eles são semelhantes. Mas o purista pode cair nessa tentação também. Imitadores reformados também têm as suas igrejas e pastores heróis também.
Aprender com outros modelos de igreja não é errado. De fato, a Escritura nos ordena a seguirmos os exemplos piedosos de outros (1Coríntios 11.1; Filipenses 3.17) e o apóstolo Paulo chega a apresentar uma igreja local inteira como modelo para outros crentes (1Tessalonicenses1.7). Contudo, nós pastores nos tornamos imitadores quando impomos o modelo de uma outra igreja sem considerar amorosamente o caráter, a história e a cultura singulares de nossa congregação. Nós também erramos como imitadores ao deixar de avaliar o nosso modelo preferido à luz do ensino bíblico acerca da igreja local.
Fazer uma exegese fiel de sua igreja e de sua Bíblia é um trabalho de tartaruga. Não é algo que possa ser feito da noite para o dia.
O narcisista
Esta última lebre talvez seja a mais perigosa. O narcisista vê o ministério da igreja pelas lentes de sua própria narrativa pessoal. Ele vê a renovação e a reforma congregacional como o palco para estrelar um roteiro centrado em si mesmo.
Talvez ele sonhe ser o cara que ajudará a igreja tradicional e enfadonha a se tornar vanguardista. Ou talvez ele se imagine como um ativista que confrontará a complacente igreja de classe média acerca do envolvimento com os pobres. Ou talvez, em sua mente, ele seja a reencarnação de Lutero, procurando uma igreja doutrinariamente vacilante na qual possa fixar as suas 95 teses. Ou talvez ele simplesmente se veja falando a milhares de pessoas e queira transformar a sua congregação naquela megaigreja. É o sonho americano em sua versão pastoral.
Essas ilusões de grandeza tendem a produzir pastores impacientes. Quando estamos cheios de nós mesmos, nós interpretamos reveses no ministério como fracassos pessoais e diminuições na membresia da igreja como ameaças pessoais. Nós corremos como homens desgovernados quando tudo diz respeito a nós.
Agarre-se ao seu casco
E ali está tartaruga. Enquanto os coelhos arrancam em disparada, ela se arrasta fielmente adiante.
A tartaruga se empenha pela renovação por meio de um ritmo constante de pregação expositiva semanal, deixando que a Palavra faça sua obra de transformação. Ele dedica tempo significativo à oração, clamando a Deus por revitalização. Ele caminha devagar o bastante para conhecer e ouvir os membros da igreja, entendendo que não se pode verdadeiramente reformar aquilo que não se ama. Ele tem uma confiança abrangente na soberania de Deus em produzir a mudança necessária, então aqueles reveses caem sobre ele como chuva sobre um casco. Se Deus quiser, a tartaruga está disposta a dispender toda a carreira em uma única igreja. Sua narrativa pessoal é simples: eu sou apenas um servo de Jesus.
É impressionante quão longe uma tartaruga pode ir.
Toda igreja precisa de renovação. A igreja reformada está sempre se reformando. Assim, esforcemo-nos por renovação de um modo que ponha os holofotes na Palavra de Deus, no tempo de Deus e no poder do evangelho, e não em nossa própria criatividade, técnica e personalidade. Então, quando as pessoas lhe perguntarem como nós mudamos a nossa igreja, nós não exibiremos nossas musculosas pernas de coelho. Em vez disso, nós seremos capazes de dizer com toda a sinceridade: “Isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos”.
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