Você já dormiu por algumas horas, acordou, mas continuava cansado? Talvez você se lembre do conto “Rip Van Winkle”, de Washington Irving. Rip é um marido dominado pela esposa que vagueia pelas montanhas para escapar, conhece um estranho bando, cai no sono e cochila por vinte anos. Ele acorda e encontra o mundo está completamente mudado, sua esposa morta e seus vizinhos invejosos por ele ter se livrado, dormindo, da vida natural de sua esposa rabugenta.
O que é surpreendente na história de Irving é que o sono de Van Winkle não lhe deu descanso. Foi sono sem repouso. Foi um tipo de descanso que na verdade não fazia bem nenhum. E, às vezes, nós sabemos como é isso, porque nosso coração e mente estão tão cheios e ansiosos para descansarem bem. Nós, às vezes, acordamos ou voltamos das férias cansados, apesar de termos descansado.
A graça do quarto mandamento é que Deus promete nos dar verdadeiro descanso e verdadeiro repouso ao encontrarmos o nosso descanso nele. Ao nos lembrarmos do dia do sabá, ao santificarmo-lo ao Senhor, descobrimos que começamos a entrar no descanso que Deus oferece e a obter um antegozo do descanso celestial por vir, o descanso nos novos céus e na nova terra.
O bom mandamento de Deus
Em Êxodo 20.8-10, fica claro que Deus dá o descanso do sabá como um mandamento. Contudo, nós frequentemente esquecemos que, ao nos lembrarmos do “dia de sábado, para o santificar”, Deus deseja que usemos aquele dia para ele: “o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus”. O que isso significa? Significa que um dia em sete – não um dia da nossa própria escolha, mas um dia escolhido por Deus e diferente dos outros dias – deve ser posto à parte para o serviço do Senhor.
E este comando está alicerçado tanto na criação como na redenção. Em Êxodo 20, a criação serve como fundamento: “porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra […] e, ao sétimo dia, descansou” (v. 11). A semana da criação serve como um padrão para as nossas semanas criativas: assim como Deus trabalhou seis dias e descansou um, assim também devemos fazer.
Mas, em Deuteronômio 5, este mandamento encontra a sua base na redenção: “porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o SENHOR, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido” (v. 15). Porque Deus redimiu o seu povo do cativeiro com o sangue dos cordeiros primogênitos, a vida deles e o seu tempo pertenciam ao Senhor. Ele lhes deu de volta na redenção e exigiu o sabá como uma testemunha, as “primícias” da semana, um testemunho da sua obra redentora.
O dom gracioso de Cristo
A expectativa e o mandamento do sabá encontram o seu cumprimento e sua contínua validade em Cristo. Isso porque o próprio Jesus apontou para o alívio que aquele dia representava. Longe de acabar com o sabá, Jesus o encheu de significado para o seu povo.
Em Lucas 4.16-21, Jesus foi para a sinagoga no dia do sabá, “segundo o seu costume”. Ele tomou o rolo e leu em Isaías 61, declarando: “Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”. O elo entre o sabá e o Messias estava claro: o prometido sabá de descanso e regozijo, retratado na criação e na redenção, havia chegado em Jesus. Ele traz as boas novas, o favor do Senhor, a liberdade, a visão e a libertação.
Jesus amava curar no sabá. Isso parece claro em Lucas 13.10-17. Uma mulher possessa de um “espírito de enfermidade, havia já dezoito anos” é curada e glorifica a Deus. Os fariseus ficam furiosos com Jesus. A sua resposta: “Não deveria esta mulher ser liberta deste cativeiro no dia do sabá?”. Não é apropriado e correto? A criação e a redenção se encontram no dia do sabá para apontar o dom gracioso de Cristo, que traz verdadeiro renovo, descanso e repouso.
Jesus faz essas coisas por ser ele o Senhor do sabá (Marcos 2.23-28). Ele é o doador do sabá, enquanto Criador. Ele é aquele de quem o sabá testifica. E, como Redentor, ele começou o tempo de novo por meio da ressurreição. Com efeito, no domingo da sua ressurreição, o tempo começou de novo; o primeiro dia da nova criação começou. O descanso sabático tem o seu significado assegurado no domingo da ressurreição, tornando-se o dia do culto cristão (1 Coríntios 16.2; Apocalipse 1.10). Nós nos lembramos deste dia para o serviço do Senhor em culto e misericórdia, em resposta ao bom mandamento de Deus e ao gracioso dom de Cristo.
Nós que confiamos em Jesus não apenas encontramos descanso para a nossa alma de domingo a domingo, mas também temos a promessa de entrarmos no descanso sabático final (Hebreus 4.9-10). Nós testificamos, a cada semana, que já temos descansado de nossas obras – de nossas tentativas de apaziguar Deus ou de merecer o seu favor, até mesmo no modo como nós nos “lembramos do sabá”. Em vez disso, nós “descansamos em Jesus e o recebemos”. Nele, encontramos descanso para a nossa alma (Mateus 11.28-30).
É por isso que o dia do sabá traz verdadeiro descanso e repouso. Nós não estamos num frenesi, tentando merecer o favor de Deus. Em vez disso, o próprio Senhor do sabá nos ressuscitou e nos ressuscitará dentre os mortos (Efésios 2.4-6).
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