A Grande Virada
“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes” (2 Tm 3.1-5; veja também Rm 1.29-32).
Na história recente houve diversas grandes viradas: em 1968 ocorreu a chamada Revolução Cultural; na década de 1990 houve uma virada no mundo comunista; recentemente falou-se de uma virada nos países islâmicos, a “Primavera Árabe”. A Europa enfrentou uma virada econômica e no mundo inteiro há uma virada política (“Nova Ordem Mundial”, Acordos de Lisboa, etc.). A Bíblia fala de uma virada que caracterizará a sociedade nos tempos finais. Provavelmente, o que citamos já faz parte dela.
As palavras: “Sabe, porém, isto”, expressam toda a urgência de atentar para o que vem em seguida, neste caso, declarações proféticas acerca do futuro. Outra tradução diz:“Saiba disto” (NVI). A expressão denota ênfase no que vem logo depois. Isso nos alerta: não devemos deixar de lado nem fechar os olhos para a realidade que nos cercará nos últimos dias. Não devemos evitar nem menosprezar as declarações da profecia bíblica porque nos sentimos desconfortáveis com o que dizem. Não devemos ignorar sua mensagem por nos parecer negativa demais, pouco evangelística ou porque outros temas nos parecem mais relevantes. A Igreja não deve encobrir ou se calar sobre as verdades acerca dos tempos finais, uma vez que estão claramente registradas na Bíblia e representam um aviso antecipado do que está por vir. Na prática, já estamos vendo muitas dessas profecias sendo cumpridas hoje.
Já ouvi o seguinte dito: “As pessoas sempre dizem que os tempos estão piorando. Os tempos permanecem iguais, as pessoas é que pioram”. Em todas as épocas houve gente comportando-se como menciona esse texto bíblico. Então, qual seria a diferença entre o que as pessoas sempre fizeram e o comportamento delas nos tempos finais?
A diferença é encontrada em três níveis:
1. Será assim no futuro
Da expressão “nos últimos dias” (v.1), eschatos em grego, deriva a palavra Escatologia (a Doutrina das Últimas Coisas). A expressão descreve algo conclusivo, um evento que vem por último – o momento em que Deus conduzirá o Plano de Salvação à sua consumação final. Portanto, quando Paulo escreve que “nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis”, usando o verbo no futuro, ele está descrevendo menos o seu próprio tempo – mesmo tendo havido naquela época muitas pessoas com essas características, pessoas das quais Timóteo deveria manter distância (v.5) –, mas fala mais nitidamente de um tempo futuro, dos “últimos dias”.
2. Será um comportamento global
Paulo escreve que “os homens serão...”. Nos tempos finais, haverá uma postura humana globalizada, quando as características descritas em 2 Timóteo 3.1-5 serão generalizadas. O que ainda é individual ou regional, encaminha-se para sua mundialização.
3. Será num mundo cristianizado
O apóstolo escreve a respeito: “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. A versão Almeida Corrigida Fiel diz: “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela”. Isso significa que o cristianismo deverá estar bem difundido antes que os homens possam voltar-lhe as costas e enveredar por essa lista de maus procedimentos, literalmente anticristãos. No tempo do apóstolo Paulo ainda não era possível haver tal postura global única, uma negação mundial da Pessoa de Jesus, se não na teoria, pelo menos na prática. Jesus ainda não era conhecido mundialmente nesse tempo. Mas, no século 21, essa atitude é bem visível no mundo ocidental cristianizado – hoje mais do que em qualquer outra época do passado. As pessoas têm se voltado contra Deus e, mais especificamente, contra Jesus Cristo.
A influência cristã foi muito forte no mundo, principalmente na Europa. O ex-presidente alemão Gustav Heinemann declarou acerca da Europa “cristã”: “A Europa deve a posição de destaque que ocupou no mundo ao Evangelho de Jesus Cristo”. Mas não é só a Europa que tem se afastado mais e mais do cristianismo bíblico. Alexander Soljenitzyn, o famoso dissidente soviético, declarou com acerto: “Se eu fosse instado a descrever de maneira resumida a característica mais marcante do século 20, não encontraria nada mais apropriado e mais exato do que dizer que os homens se esqueceram de Deus”.
“Tempos difíceis” no plural
Tempos terríveis ou tempos trabalhosos, no plural e não apenas um “tempo difícil”, significam que o caos na sociedade aumentará de intensidade – como ondas que se sucederão nos tempos finais. Será um subir e descer, um vai-e-vem. Isso nos lembra dos intervalos entre as dores de parto, como mencionadas em Mateus 24.8. O movimento juvenil e estudantil de 1968, que praticamente coincidiu com a reconquista de Jerusalém pelos israelenses, é uma dessas dores de parto. Em sentido absoluto, os tempos finais estão intimamente ligados com a restauração de Israel (Lc 21.29: a figueira e todas as árvores; Ez 36.33 e Rm 11.25-27; Jr 30.24-31.2; 33.7-8; Sl 102.14-19; Dt 4.30-31; 31.29).
Esses tempos difíceis serão tempos trabalhosos, terríveis, perigosos, ameaçadores ou maus, representando uma grande virada, uma fase marcada pela completa inflexão em todas as áreas da vida e entre todos os povos da terra. Ao fazer essa declaração, o Espírito Santo não deixa margem para que esperemos por tempos melhores. Ele afirma simplesmente, de maneira muito sóbria, que os tempos ficarão piores. Hoje se fala abertamente que somos uma sociedade sem valores, caracterizada pela pressão psicológica e ansiosa por transformações. Nosso mundo é marcado por atos terroristas, pela violência, revoluções e manifestações, levantes e liberalidade moral. A seguir examinaremos as 18 características (mencionadas em 2 Timóteo 3.1-5), que serão marcantes e sobrevalentes na sociedade dos tempos finais.
Os homens serão...
1. Egoístas
Outra versão diz: “amantes de si mesmos”, buscando unicamente seus próprios interesses. O homem egoísta se posiciona no centro das atenções. Um psicanalista explicou: “A suprema máxima da Psicanálise é a auto-realização e a autonomia do homem”.
2. Avarentos
O materialismo e a ganância estão desalojando os valores espirituais nestes tempos do fim. A Bíblia diz que “...o rico responde com durezas” (Pv 18.23). Isso não se aplica a todos os ricos, mas adapta-se muito bem ao nosso tempo, uma vez que o dinheiro pode perverter o caráter e endurecer o coração – e a crise financeira mundial, com focos localizados de enormes perdas e prejuízos, apenas expõe a realidade dessa verdade bíblica. A economia prescinde de fundamentos morais, e muitas vezes não se encontram os verdadeiros culpados pelas fraudes financeiras. Pelo caminho restam as muitas vítimas lesadas pela ganância desmedida dos avarentos.
Percebemos que a crise não é primariamente financeira ou econômica, mas uma crise de valores. Os países fazem dívidas horrendas para financiar o consumo porque ninguém está disposto a abrir mão de qualquer coisa a que julga ter direito.
3. Jactanciosos
Os homens dos tempos finais serão fanfarrões, exibidos, convencidos, exagerados, presunçosos. Basta pensar nos políticos de hoje, nos novos-ricos ou nas celebridades. Programas do tipo reality-show se espalham como um vírus.
4. Arrogantes
Homens arrogantes são soberbos e se colocam acima de todos os limites morais, éticos e sociais. Só o que eles dizem tem valor.
5. Blasfemadores
Os homens se elevam acima dos outros e sentem-se no direito de pisar tudo o que é santo, puro e bom. Suas blasfêmias se voltam contra Deus e rebaixam seus semelhantes. Sem qualquer critério objetivo, atacam políticos, difamam autoridades e denigrem o cristianismo. Programas de televisão e comédias populares zombam das autoridades, fazem piadas sobre Deus e jogam na lama os valores cristãos.
6. Desobedientes aos pais
Isso não significa apenas negar aos pais a obediência que lhes é devida, mas a implementação de um verdadeiro sistema de desobediência aos pais, um amplo e degenerado espectro de comportamento que será típico dos tempos finais. A família, a menor célula da sociedade, é agredida e atacada, a autoridade dos pais é esvaziada e os valores que solidificam a família e a coesão social estão sendo derrubados um por um. É o que estamos vendo em escala global.
7. Ingratos
Os homens consideram tudo como sendo direito seu. Olham com desprezo para os tempos passados, quando seus pais se privavam de bens de consumo em troca de alvos superiores. A ingratidão é generalizada, está por todos os lados e um simples gesto de gratidão, um “muito obrigado”, tem ficado cada vez mais raro.
8. Irreverentes
Para os homens irreverentes nada é sagrado. Não respeitam os padrões divinos, as leis da nação, as normas sociais, a família, a vida antes do nascimento ou os idosos. Por isso derrubam as barreiras legais ao aborto ou à eutanásia, prática já legalizada em muitos países. Mas a irreverência maior é contra o Deus Criador, muitas vezes trocado pela veneração à criatura e à criação.
9. Desafeiçoados
Essa característica é o cumprimento da profecia de Mateus 24.12: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”. Falta de afeição e a frieza emocional são os frutos de uma geração tecnologizada, que prefere a comunicação à distância ao calor humano da verdadeira proximidade.
10. Implacáveis
Homens implacáveis são duros e sem compaixão. Isso transparece em coisas grandes e pequenas, nas relações familiares, entre vizinhos, em manifestações e protestos, no racismo, no anti-semitismo e nas múltiplas manifestações de um coração endurecido. O amor ao próximo está em falta. Muitas vezes é em vão que procuramos a boa-vontade que integra e acolhe o outro.
11. Caluniadores
Em grego é diaboloi. O próprio Diabo é o diabolos, aquele que causa confusão, mas ele também é o acusador (Ap 12.10). Os tempos finais serão literalmente tempos diabólicos, repletos de falsas acusações, com a verdade sendo distorcida e os valores se tornando relativos. A verdade passa a ser mentira e injustiça, enquanto a mentira é elevada à posição de verdade. Despreza-se o que a Palavra de Deus diz acerca do pecado humano, enquanto os crimes ambientais são exemplarmente punidos.
Quem crê na Bíblia, quem se apóia nela e procura viver segundo seus preceitos pode ser processado e perseguido por estar atrapalhando a sociedade. Tudo é diferente quando alguém se baseia no que é politicamente correto. Aí tudo é válido, até as maiores aberrações.
12. Sem domínio de si
Homens sem domínio de si são homens sem freios e sem limites, que dão livre vazão a seus impulsos e instintos. É um andar sem o Espírito Santo (Gl 5.16-21).
13. Cruéis
Homens cruéis são brutos e rudes, impulsivos, homens frios que não refreiam sua ira e revidam pronta e descontroladamente. Mobbing e bullying no trabalho e nos pátios escolares certamente se encaixam aqui. A crueldade é outra característica que tem se alastrado enormemente em nossos dias. Basta olhar para a violência ao nosso redor.
14. Inimigos do bem
Os inimigos do bem desprezam o que é bom e rejeitam as virtudes. Chegam ao extremo de resistir ativamente ao bem e a qualquer moral superior. A desobediência civil já é considerada uma virtude em algumas sociedades mais “progressistas”, assim como a igualdade de gênero, a infidelidade conjugal e o homossexualismo, cujo lobby influencia progressivamente a mídia e o sistema de leis de muitos países.
15. Traidores
Essa característica lembra Judas, que traiu Jesus. Haverá um paralelo nos tempos do fim, quando uma cristandade apóstata trairá a doutrina de Cristo e oferecerá seus préstimos ao Anticristo. Outras doutrinas que não as da Bíblia são disseminadas e se alastram de forma crescente nos países outrora cristãos. Mas a base bíblica é desprezada e ridicularizada.
16. Atrevidos
Outras traduções dizem que os homens “agem no impulso da paixão”. Esses são, por exemplo, os aventureiros que não temem perigo algum e arriscam suas vidas por simples prazer.
17. Enfatuados
Os enfatuados são os vaidosos, presunçosos, cheios de si. Os donos da verdade e os petulantes também se encaixam aqui. Qualquer semelhança com nossos contemporâneos não é mera coincidência. É cumprimento de profecia bíblica.
18. Mais amigos dos prazeres que amigos de Deus
Essa é a descrição de um estilo de vida que exclui a Deus por completo. As pessoas estão abertas para tudo o que dá prazer, mas se fecham para o que vem de Deus. A palavra inglesa fun (diversão) tornou-se um conceito de vida. A Bíblia chega a falar de pessoas cujo deus é o ventre (Fp 3.19). A ordem suprema parece ser prazer e diversão, não só entre jovens e adolescentes.
Resumindo
Essas dezoito (3 x 6 = 666) características que marcarão as pessoas dos tempos finais são resumidas na décima-nona: “Tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”. Outra forma de traduzir seria: “Têm aparência de religiosidade, mas não querem nem ouvir falar da verdadeira doutrina e do poder da verdadeira piedade”.
Essas mudanças brutais no comportamento e na mente das pessoas dos tempos finais não se deterão diante das portas da Igreja, pois o versículo 13 completa, dizendo que serão enganadores enganados: “Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2 Tm 3.13).
As coisas não irão melhorar. Tudo ficará ainda pior. Todo esse processo é uma forma “paganizada” de cristianismo. Da antiga Reforma Protestante não sobrou muita coisa. O princípio dos reformadores: “Só a Bíblia”, já foi abandonado há muito tempo. A forma exterior ainda se mantém, acompanhada de certa dose de religiosidade, de tradições eclesiásticas, usos e costumes, títulos, cerimônias e rituais, mas o verdadeiro poder do Evangelho está bem distante dos fiéis. Na prática, o verdadeiro poder de Cristo é negado. Padrões não-bíblicos dominam grande parcela do que se chama de cristianismo. Essa foi a grande virada para o mal. Por isso, só resta uma resposta aos cristãos sinceros: “Foge também destes”. Essa é a virada dentro da virada! A virada para o bem!
Timóteo, na sua época, já foi instado a se afastar de gente assim. Quanto mais esse conselho é válido para os cristãos dos tempos finais, a quem Paulo se dirige aqui! Mas para a grande virada dentro da virada devemos prestar atenção a três coisas:
1. A entrega pessoal a Jesus Cristo
Podemos nos perguntar: “Como consigo escapar dessas circunstâncias tão negativas e destrutivas que vejo ao meu redor se eu mesmo me sinto prisioneiro do sistema que rege o mundo e me identifico com essas características dos homens dos tempos finais?” A resposta é: Podemos mudar de lado! Podemos ir para o lado certo! Dora Rappard declarou: “Não há fuga de Deus, só fuga para Deus”. Existem coisas mais importantes do que a crise financeira mundial. As pessoas não estão endividadas apenas monetariamente. Sua dívida maior é com Deus. Voltar-se para Jesus é a única forma de nos libertarmos dessa dívida. “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro” (Is 45.22). Essa é a maior reviravolta que alguém pode dar.
2. A virada para uma nova postura de fé
Muitos cristãos ficam desanimados com os acontecimentos à sua volta. Vivem com uma visão muito estreita do que Deus quer fazer e pode fazer. Olham para a sociedade e para os eventos do mundo de forma excessivamente negativa. Não podemos mudar as coisas, mas podemos mudar nossa postura diante do que acontece. Em um mundo cada vez mais destrutivo, espiritualmente falando, deveríamos ser cristãos construtivos e pró-ativos. Para os crentes espirituais existe uma resposta às circunstâncias anticristãs que vão crescendo e tentando nos sufocar: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8).
3. A grande virada será a volta de Cristo
Não são as crises espirituais ou políticas, muito menos as econômicas, que falam a palavra final; elas apenas confirmam o quanto a Bíblia é confiável. A palavra final, em todos os assuntos, está com Jesus Cristo: “E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque essas palavras são fiéis e verdadeiras” (Ap 21.5). Em um mundo tão inseguro e pouco confiável, as promessas de Deus foram e continuarão sendo confiáveis e seguras. Com esse foco no Senhor e com essa visão cheia de confiança podemos viver um cristianismo autêntico, mesmo cercados por uma maré de pecado e maldade! Maranata! Jesus voltará!
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