No artigo “Por Que a Igreja Canta?”, Jonathan Leeman nos 3 motivos pelos quais o canto congregacional é importante:
No culto de domingo da minha igreja, o pregador e todos aqueles que têm papel de liderança no culto sentam no palco de frente para a congregação.
No passado fui tentado a imaginar se eles estão, de fato, adorando, ou apenas prestando atenção em outras coisas. Aquele que está realmente adorando não fecha seus olhos, levanta as mãos e faz uma expressão de arrebatamento?
Pelo menos foi isso que eu imaginei até que eu mesmo estivesse sentado no palco de frente para a congregação. Quando a música começa, estou contemplando o povo de Deus louvar a Deus. E isso é inacreditável!
O que eu contemplo
Alguns olhos estão fechados, outros abertos. Algumas mãos estão levantadas, outras não. Mas a postura de seus corpos não é o importante.
Nós estamos cantando a letra do século 16 de “Castelo Forte”, e eu noto uma mulher que foi abusada agora cantando com todas as forças: “espada e bom escudo”.
Estamos cantando a letra do século 18 de “Ebenézer”, e sou animado pelo santo idoso que tem perseverado na fé por décadas, ainda cantando: “Eis minha alma vacilante: toma-a, prende-a com amor; Para que ela, a todo instante, glorifique a ti, Senhor”.
Estamos cantando a letra do século 19 de “Sou Feliz”, e ao olhar, vejo o irmão de meia idade lutando contra seu desencorajamento por conta de sua constante luta contra a ira pecaminosa, levantando sua voz agora para gritar: “Meu triste pecado por meu Salvador foi pago de um modo cabal; Valeu-me o Senhor, ó, mercê sem igual! Sou feliz! Graças dou a Jesus!”
Estamos cantando a letra do século 20 de “Em Cristo Só”, e eu vejo a talentosa jovem mãe que é tentada a se arrepender daquilo de que desistiu para ter filhos, agora exulta em sua nova ambição: “Em Cristo só confiarei; é minha força, luz, canção”.
Quando sento, olho e contemplo, meus próprios louvores a Deus são fortalecidos pelas histórias e canções dos outros. Minha fé é revigorada e aumentada pela obra de Deus neles.
A Palavra que ecoa
Igrejas cantam porque seus novos corações não conseguem evitar senão ecoar a Palavra que lhes deu vida. Quer essas canções tenham sido escritas no século 16 ou hoje, elas devem ecoar a Escritura. Se existe qualquer lugar onde a Palavra de Deus deva literalmente reverberar, deve ser nas canções da igreja. Lembre-se, a Escritura por si só dá vida.
Assim, as canções de uma igreja não devem conter nada mais do que palavras, paráfrases ou ideias da Escritura.
Nas igrejas, nós cantamos juntos porque isso nos ajuda a ver que os louvores, as confissões e as resoluções dos nossos corações são compartilhados por outros. Não estamos sozinhos. Cantar na igreja, acreditamos, trata-se tanto de ouvir quanto de cantar. Assim, Paulo nos manda “[Falem] entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor” (Ef 5.19, NVI). Se eu devo falar com os outros em forma de canção, devo ouvi-los também. De fato, às vezes eu paro de cantar para ouvir e agradecer a Deus pelas vozes à minha volta!
“Esses irmãos e irmãs partilham do meu coração, da minha nova identidade, do meu Senhor e Salvador, do meu conforto e auxílio, da minha esperança e ambição, da minha glória e alegria. Eu estou com eles, eles estão comigo, e nós estamos com Cristo”.
Por que cantamos?
Crentes cantam nas igrejas porque Cristo nos mandou cantar (Cl 3.16, Ef 5.19). E nós somos ordenados a cantar, como ouvi o ministro de música Bob Kauflin observar, porque Deus quer que criaturas criadas à sua imagem façam o mesmo que ele (por exemplo, Sf 3.17; Hb 2.12). Contudo, deixe-me explicar melhor o que eu disse até agora articulando três razões pelas quais eu acho que Deus ordenaria ao seu povo que falassem um com o outro não apenas em prosa, mas em poesia e melodia.
Nós cantamos para possuir e declarar a Palavra
O ato de cantar é como a congregação possui e declara a Palavra pelo que ela é. Na Bíblia, cantar é uma maneira ordenada por Deus para os membros de uma congregação responderem à revelação de Deus. É como eles levantam a mão e dizem: “Sim, eu creio e afirmo essas verdades com todo o meu ser”. Por exemplo, o salmista manda que o povo de Deus proclame a Palavra de Deus a outros: “Cantai ao SENHOR, bendizei o seu nome; proclamai a sua salvação, dia após dia” (Sl 96.2). Cantar a respeito da salvação de Deus significa que nós assumimos essa mensagem como nossa.
Nós cantamos para unir as nossas emoções à Palavra de Deus
Cantar é a maneira como a congregação particularmente une as suas emoções e afetos com a Palavra de Deus. Quando cantamos, é difícil ficar livre de emoções. Assim como o sentido do olfato pode evocar fortes associações e memórias, da mesma maneira o som da música tanto evoca quanto provoca as alegrias, tristezas, desejos, esperanças e sofrimentos do coração. Jonathan Edwards propôs que Deus nos deu a música “somente para incitar e expressar afeições religiosas”. O salmista parece encarnar essa ideia quando escreve: “De boas palavras transborda o meu coração” (Sl 45.1).
Cantar, eu diria, é o meio pelo qual o povo de Deus se apropria da sua Palavra e alinha suas emoções e afeições com as emoções e afeições de Deus.
Assim, não é surpresa que Paulo ordenaria que igrejas cantassem os salmos, e que o saltério fosse considerado o hinário da igreja. João Calvino chamou os salmos de “Uma Anatomia de Todas as Partes da Alma”, visto que ele oferece aos leitores palavras que eles podem colocar em suas próprias bocas para expressar toda a plenitude das emoções humanas. No prefácio de seu comentário em Salmos, Calvino escreve: “pois não há sequer uma emoção da qual alguém porventura tenha participado que não esteja aí representada como num espelho. Ou, melhor, o Espírito Santo, aqui, extirpa da vida todas as tristezas, as dores, os temores, as dúvidas, as expectativas, as preocupações, as perplexidades, enfim, todas as emoções perturbadoras com as quais a mente humana se agita”. Como podem os cristãos expressar o sofrimento de uma maneira piedosa? Ou tristeza, medo, dúvida? Eles ecoam os salmos, como Jesus fez diversas vezes.
Ainda assim, mesmo se as igrejas não tirem suas letras diretamente do saltério, elas devem considerar o equilíbrio dos salmos entre confissão, lamentação, exaltação e ação de graças, e buscar imitar algo semelhante em sua própria composição de hinos. Nós sabemos como lamentar em nossas igrejas através da música? E confessar?
Nas turmas de seminários, os futuros pregadores às vezes são advertidos: “A congregação terá tanto cuidado com a Palavra quanto você tem no púlpito”. O mesmo acontece, estou convencido, com o nosso canto na igreja e a nossa habilidade de encontrar Deus emocionalmente durante a semana. Uma congregação que aprende a cantar na igreja com confissão robusta e louvor contrito, sabe como cantar melhor a Deus com seus corações em casa, quer façam com melodia ou não.
Nós cantamos para demonstrar e construir unidade
Cantar é uma maneira de demonstrar e construir unidade coletiva. Mais uma vez, não é difícil imaginar como Israel usou os salmos para demonstrar e construir a unidade de seus corações uns para com os outros. Alguns salmos deixam isso explícito:
[Chamado] Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre.
[Resposta 1] Diga, pois, Israel: “Sim, a sua misericórdia dura para sempre”.
[Resposta 2] Diga, pois, a casa de Arão: “Sim, a sua misericórdia dura para sempre”.
[Resposta 3] Digam, pois, os que temem ao SENHOR: “Sim, a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 118.1-4; veja também 124.1; 129.1; 136).
O salmista faz uma declaração, e então pede que três grupos de pessoas façam eco à sua declaração: a nação, os sacerdotes, e depois todos aqueles que temem a Deus (incluindo quaisquer estrangeiros e gentios em seu meio?). As palavras “sua misericórdia dura para sempre” é a fonte da unidade, mas a poesia e — talvez — a música, encorajam os corações das pessoas a abraçar, possuir e se regozijar nessa gloriosa verdade.
O contexto da ordem de Paulo para que cantem também é digno de nota: “Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo [...] louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3.15-16). Note a linha de pensamento: Devemos deixar a paz ser o árbitro, visto que somos chamados a um corpo. Devemos ser gratos. Devemos fazer tudo isso cantando a juntos a Palavra de Cristo. Novamente, a Palavra é a fonte da unidade; mas a música dá expressão a essa unidade.
Sem dúvida, esse ponto pode ser combinado com o último. Cantar a Palavra de Deus é como uma congregação sintoniza seu coração ao longo de toda uma gama de afeições conduzidas biblicamente.
O que deve ser claro em todas as três razões para cantarmos é que cantar na igreja deve se tratar da igreja cantando — o canto congregacional. Talvez corais e solistas possam ser cuidadosamente usados para chamar a igreja a responder, assim como no salmo acima, ou como um exercício de “falar uns aos outros com cânticos”. Performances musicais fora do contexto da igreja reunida são maravilhosas. Mas Deus deu a música para a igreja reunida para que o povo junto possa possuir, afirmar, se regozijar e se unir a redor da Palavra de Deus. Muito melhor do que a doce harmonia de alguns cantores treinados é o grosseiro e vigoroso som de criminosos perdoados, se deleitando com uma só voz em seu Salvador.
O mais belo instrumento de qualquer culto cristão é o som da congregação cantando.
Este artigo, que recentemente foi publicado na Creator Magazine, foi extraído do livroReverberation e é usado com a permissão da Moody Publishing.
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